sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

A vida a 80

Hoje vi escrita numa lápide de uma campa a seguinte frase: “ A vida são grãos de areia que a morte sopra para longe”.
Fiquei a pensar no sentido daquilo. Parece- me tão redutor e tão limitado que a vida seja algo assim tão frágil e a morte tão portentosa.
Aquilo que vivemos tem de ser algo bem mais sólido do que pequenos grãos de areia. Há tanta potencialidade na vida. Somos maiores do que aquilo que parecemos.
Existe energia na vida, ao contrário da morte que é estática e permanente.
Temos mais medo da morte do que da vida e ainda assim temos tanto medo daquilo que a vida tem para nos oferecer. Na verdade andamos apavorados com as nossas vidas e fingimos que é a morte que mais nos assusta.
Nenhum de nós quer morrer. Quantos de nós queremos realmente viver?
Respirar é algo de inato. Sobreviver não requer grande esforço. Viver no limite da intensidade, essa é a nossa grande lacuna. A maior das nossas dificuldades. Acomodamo-nos, acobardamo-nos e escolhemos ser meros grãos de areia.
A vida , as nossas vidas podem deixar marcas maiores do que a morte.
Se eu pudesse alterava a frase naquela lápide e escreveria:
“ A vida são abraços, sorrisos, conquistas, angústias, amores , tristezas, certezas, incertezas, acertos e desacertos que a morte não consome”
Wild os the wind




10 comentários:

  1. Que bonita a frase que escreverias. É verdade que a vida é tudo isso que descreveste e não apenas o que estava naquela lápide. Mas também percebo a lógica de ver a vida como grãos de areia - ou explicando melhor, como um castelo na areia que, num ápice, desmorona e causa um enorme sofrimento. Provavelmente mais do que ter medo da morte, talvez um medo maior seja o de perceber a fragilidade da vida e de viver em permanente sofrimento...

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    1. Eu entendo essa fragilidade que nos causa por vezes demasiada angústia e nos faz viver a vida em sofrimento constante. Quando aquilo que deveríamos fazer seria o inverso, enfatiza-la e vivê-la no limite. Faz aquilo que eu digo, não aquilo que eu faço:) beijinhos

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  2. Paper Cut, há coisas do caraças e este teu texto toca-me na ferida...
    Há exactamente um ano perdi um sobrinho. Nenhuma mãe, nenhum pai, nenhum irmão, ninguém, está preparado para a dor avassaladora da morte não anunciada, sem pré-aviso. Nenhuma mãe deveria ter que passar por isto. Não há palavras. Duvido mesmo que depois de uma tragédia destas haja vida. Não há. Há apenas tentar sobreviver...um dia de cada vez.
    Um miúdo alegre, bem disposto, ali pelos sweet sixteen. Adorava fazer desporto. E naquele dia igual a tantos outros lá foi para os treinos ao fim do dia, sentiu-se mal na primeira volta - no aquecimento - caiu por terra...
    e tudo, todos os sonhos, toda uma vida ainda por viver, chegou ao fim.
    A vida é realmente uma ampulheta, de grãos de areia.

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  3. Paper Cut, há coisas do caraças e este teu texto toca-me na ferida...
    Há exactamente um ano perdi um sobrinho. Nenhuma mãe, nenhum pai, nenhum irmão, ninguém, está preparado para a dor avassaladora da morte não anunciada, sem pré-aviso. Nenhuma mãe deveria ter que passar por isto. Não há palavras. Duvido mesmo que depois de uma tragédia destas haja vida. Não há. Há apenas tentar sobreviver...um dia de cada vez.
    Um miúdo alegre, bem disposto, ali pelos sweet sixteen. Adorava fazer desporto. E naquele dia igual a tantos outros lá foi para os treinos ao fim do dia, sentiu-se mal na primeira volta - no aquecimento - caiu por terra...
    e tudo, todos os sonhos, toda uma vida ainda por viver, chegou ao fim.
    A vida é realmente uma ampulheta, de grãos de areia.

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  4. Paper Cut, há coisas do caraças e este teu texto toca-me na ferida...
    Há exactamente um ano perdi um sobrinho. Nenhuma mãe, nenhum pai, nenhum irmão, ninguém, está preparado para a dor avassaladora da morte não anunciada, sem pré-aviso. Nenhuma mãe deveria ter que passar por isto. Não há palavras. Duvido mesmo que depois de uma tragédia destas haja vida. Não há. Há apenas tentar sobreviver...um dia de cada vez.
    Um miúdo alegre, bem disposto, ali pelos sweet sixteen. Adorava fazer desporto. E naquele dia igual a tantos outros lá foi para os treinos ao fim do dia, sentiu-se mal na primeira volta - no aquecimento - caiu por terra...
    e tudo, todos os sonhos, toda uma vida ainda por viver, chegou ao fim.
    A vida é realmente uma ampulheta, de grãos de areia.

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    1. Bom dia Té. Infelizmente sei o que é perder alguém que nos é muito querido e próximo. Há 14 anos perdi o meu melhor amigo. A melhor pessoa que conheci até hoje. Tinha uma vontade de viver enorme e tenho para sempre na memória o último dia em que estive com ele, uns dias antes de falecer em que completamente debilitado, desfigurado, foi ele quem me estava a dar Esperança de que tudo iria ficar bem. A Morte levou-o, mas ele não teve medo de viver e deixou muitos Marcos que permanecerão para sempre para todos nós que o amávamos.
      Sinto imenso pela tua perda e sei o quão difícil é ter de lidar com a ausência de alguém que ainda tanto tinha para viver.
      Beijinhos e muita força.

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  5. Sim, a sua frase é bem menos disfórica, sem dúvida.

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    1. Não que a outra não tenha sentido, mas como nas histórias de heróis e vilões eu fico sempre do lado dos heróis, prefiro enaltecer a vida e dar menos fulgor à morte.

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  6. Não sei se tenho medo da morte, está lá, é inalterável, irá acontecer faça o que fizer. Mas acredito que somos imortais (não no sentido da paraíso, inferno, ou alma, diga-se de passagem :)) - primeiro porque só morremos mesmo quando a última pessoa que nos amou desaparece, também, e segundo, porque somos o que disseste - energia - que se transforma, sofre mutações, evolui. Os átomos que nos compõem e dão corpo à vida, nasceram com o Big Bang, em explosões de estrelas, e por cá continuarão para dar forma a outras coisas que virão)
    De não viver plenamente, sim. Isso é o que causa medo e ansiedade. "Para ser grande, sê inteiro / Nada teu exagera ou exclui", não posso dizer que vivi respeitando a frase, e isto, sim, está nas minhas mãos.

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    1. Eu tenho sobretudo medo da morte daqueles que amo. Especialmente desde que fui pai. A minha morte não me assusta, assusta-me morrer e deixar cá alguém que depende de mim. De há uns anos para cá que tento viver com maior intensidade. Afinal como dizia o outro: só se vive uma vez..

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