domingo, 3 de junho de 2018

A caneta

Entre todas as coisas que possuía, havia uma que lhe era sagrada. Uma velha caneta alimentada por um tinteiro.
Foi com ela que ele escreveu o seu primeiro poema. Passaram tantos anos que o poema se perdeu no Tempo e no espaço.
Apenas se recorda do nome: "Moléculas de veludo".
Lembra-se que não retratava nenhum Amor, porque quando o escreveu ainda não o havia conhecido.
Nele falava sobre um miúdo que sentia imenso medo. Havia algo naquele miúdo que lhe causava um enorme pavor; a expectativa. Queria saber tudo acerca de tudo e não conseguia controlar esse ímpeto que o impelia a ser um Ser insatisfeito e compulsivo.
Era um Poema quase tridimensional. A tinta no papel ganhava vida e as letras transformavam-se uma a uma em pontos de interrogação.
Estava algures entre a fragilidade dos sentidos e a certeza de que o inconformismo era a estrada a percorrer.
Um pedido de ajuda, na minha opinião. Uma tomada de posição, na opinião do miúdo.
O Poema perdeu-se, o miúdo perdeu-se, o homem que foi um dia miúdo encontrou-se e percebeu que a expectativa é a estrada secundária da mentira.
Golden Ticket

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