quarta-feira, 18 de julho de 2018

Non(sense)

Cansei-me de experimentar novas fragrâncias.
Nenhuma delas me levou até ti.
Já não me recordo do teu cheiro, tenho-o procurado por onde passo na esperança de o reconhecer.
Deixaste-me quase nada.
Criaste em mim um vazio etéreo que não consigo preencher.
A multidão é demasiado vasta e o esforço para te encontrar demasiado pesado.
Ainda me recordo de algumas coisas.
Do sorriso nada fácil, do inconformismo tão premente e do vácuo que o teu olhar originava.
Lembro-me de ti como uma silhueta no chão de calçada gasta pelos passos apressados de quem não consegue parar para simplesmente contemplar.
O meu GPS diz-me para seguir em frente e quando chegar à bifurcação virar à esquerda.
Quando finalmente lá chego é obrigatório virar à direita.
Desligo-o e sigo o meu instinto.
Sigo o meu instinto e lentamente sinto-me a desligar.
Devia de ter deixado um rasto de pedaços de fotografias rasgadas para não me perder.
Queimei-as, destruí-as e agora não me resta nada que me oriente.
Paradoxalmente sinto que não quero regressar.
Que estar perdido me permite descobrir novos caminhos, novos rostos, novas demandas.
Já não é sobre ti.
Aquilo que sobrou foram algumas gramas de cinzas que lentamente vão sendo levadas pela brisa destas manhãs de Verão.
Tenho uma prateleira vazia de troféus e repleta de pó.
Chegou a hora de começar a respirar sem o auxílio de uma máquina.
Alguém que a desligue por favor.
Já consigo respirar sózinho.


once upon a time



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