quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Um brinde aos amigos

Sobre os amigos. Dizem ser a par da família com quem podemos sempre contar. Nos bons e nos maus momentos, como diz o clichê. Nunca soube verdadeiramente quantos tenho na minha vida. Tenho amigos, que afinal são apenas conhecidos, conhecidos que se revelaram amigos.

Dizem que quantidade não é sinônimo de qualidade. Concordo em absoluto. No Facebook tenho 574 amigos. Sou um tipo de sorte então. Na verdade não falo com mais de metade desses 574, e daqueles com quem falo a maioria da vezes é para lhes dar os Parabéns no seu dia de aniversário.

Há dois anos atrás eu tinha o meu grupo de amigos. Estávamos sempre juntos nas festas de aniversário, passávamos sempre a passagem de ano juntos. Dizíamos coisas bonitas uns aos outros nas fotografias de grupo no facebook. Éramos o grupo de amigos perfeitos, com vidas perfeitas e com um sentido de amizade incondicional.

Há dois anos separei-me da mãe do meu filho. De repente os meus amigos deixaram de me ligar,  de me convidar para as festas e jantares. De me perguntarem como eu me sentia, se precisava de alguma coisa. O meu grupo de amigos perfeito desmembrou-se.


A boa notícia é que nesse grupo, de repente fez-se uma triagem e apesar de não ter sido uma surpresa assim tão grande para mim, houve alguns deles que desde o primeiro dia estiveram disponíveis para mim. Sem julgamentos, sem reservas. Desse enorme grupo contam-se agora pelos dedos de uma das minhas mãos aqueles que realmente conhecem o termo e o significado de amizade.

Há males que vêm por bem, diz o ditado. A boa notícia é que hoje tenho consciência do que é ter amigos verdadeiros. Pessoas que nos amparam, que se riem e choram connosco. Acima de tudo sei que não estou sozinho, nem preciso de estar, porque tenho pessoas que gostam realmente de mim. Assim como eu sou.

Há uns dias, tínhamos aqui umas obras na cozinha e quando chegámos a casa e vimos a cozinha de pantanas , a miúda disse:me: Porque não ligas ao R e pergunta-lhe se querem ir jantar a algum lado? Estávamos ambos bastante cansados e a precisar de estar com pesssoas de quem gostamos, só para relaxar um par de horas.

Liguei ao R e atendeu a R. Perguntei: olha lá, não têm aí jantar para nós? Resposta imediata: Estamos a chegar a casa, venham cá ter que fazemos algo. Não houve uma pausa, não houve uma Hesitação. Venham, foi a resposta.

O mais surpreendente foi no dia seguinte eu ter recebido uma mensagem do R a agradecer o facto de lhes termos ligado para ir jantar a casa deles. É este o conceito de amizade que me faz sentido. Os amigos serem sempre bem vindos.

Há dois anos não perdi nenhum amigo, há dois anos descobri que tinha amigos verdadeiros.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Ohhh o Trump venceu.

É  impressão minha ou os que hoje se sentem revoltados pela Vitória do Donald Trump, são os mesmos que se divertiam e aplaudiam a fuga do Manel "palito", aquele que disparou contra quatro mulheres, matando duas delas?

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Ela até sabe o que é o Músculo esternocleidomastoideo

A miúda vai ter daqui a uma hora o primeiro teste de fogo na faculdade.  Exame de anatomia, o Cadeirão do primeiro semestre.

Antes de começar a estudar as expectativas dela estavam elevadíssimas,  nada menos do que 18. Entretanto quando começou a estudar a sério baixou a fasquia para 14. À  medida que o tempo ia passando ter positiva já seria muito bom.

Hoje a miúda só não quer enlouquecer.

A minha fiel visita

Tenho um amigo que há vinte anos atrás, perdeu a mãe e na mesma altura a namorada de então terminou a relação que tinha com ele. Não aguentou,  teve uma depressão seguida de um esgotamento.

Esse meu amigo vive há vinte anos no passado. Como se o tempo tivesse parado aí. Ouve as músicas que ouvia então, fala das pessoas e dos acontecimentos dessa altura.

Todos os dias vem visitar-me , mais do que uma vez ao meu local de trabalho. As pessoas que trabalham comigo já estão habituadas à sua presença diária.

Faz-me sempre as mesmas perguntas, todas relacionadas com o passado e eu dou-lhe sempre as mesmas respostas.  Fica ali cinco ou dez minutos comigo e sai para ir dar uma volta. Mais tarde irá passar novamente pelo meu escritório e voltará a fazer-me novamente as mesmas perguntas.

Recentemente descobri que ele está com um problema oncológico.  Soube que está a fazer sessões de quimioterapia. Já tentei aborda-lo em relação ao estado de saúde dele, mas cheguei à conclusão que ele não tem a mínima noção do que se está a passar com ele.

Quando estou de ferias ele passa sempre no meu local de trabalho à minha procura e embora lhe digam que só voltarei daqui a 15 dias, ele no dia a seguir lá está novamente a perguntar por mim.

Existe uma estranha relação entre nós.  Quando estamos juntos é como se voltassemos atrás vinte anos no tempo e as nossas conversas giram sempre à volta disso. Não me canso dele, nem de ter de lhe dar sempre as mesmas respostas às mesmas perguntas.

A amizade não tem limites, não tem roupagem, nem nunca se desiste de um amigo.




segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O miúdo que um dia deixou de o ser

Vou contar a história de um miúdo que eu conheci.  Um miúdo que teve uma infância tão feliz, que uma coisa que sempre o atormentou foi o medo de crescer.

Um miúdo que jogava ao berlinde, ao pião, adorava subir às árvores e fazer delas o seu Castelo. Apaixonado pela sua bicicleta maior do que ele, mas que dominava como ninguém.

Não havia nada que ele tivesse medo, exceptuando palhaços.  Tinha pavor deles, sem nunca perceber a razão de tal temor.

Inevitavelmente o miúdo foi crescendo, deixando de lado a sua inocência e tornando-se cada vez mais fechado nele mesmo. Foi algo demasiado espontâneo para que ele tivesse sequer noção dessa transformação.

Um dia esse miúdo descobriu com um amigo que existiam umas palhinhas a que chamavam panfletos, que se vendiam num café perto de casa e que continham um pó castanho que se fumava numa prata.

Levados pela curiosidade, lá foram os dois comprar um desses panfletos. Foram para casa de um deles, aquele que já tinha visto alguem fumar esse pó e fizeram-no. Sabia mal e fazia-os vomitar. Apesar disso aquilo tinha qualquer coisa de reconfortante. De repente o miúdo voltou a ser miúdo e os medos que entretanto ele vinha sentido à medida que ia crescendo, desapareceram.

Descobriu ali uma coisa que fazia com que não sentisse e isso dava-lhe uma paz tão intensa que acabara de descobrir a forma de não crescer.

O miúdo ainda não sabia, mas acabara de fumar heroína.  Durante algum tempo nada mais tinha interesse. Ele só precisava daquilo para se sentir bem.

Entretanto começaram a aparecer umas dores de manhã,  uma ansiedade crescente que só passava quando ele fumava aquele pó mágico. A liberdade que ele sentia com aquilo começou a transformar-se numa prisão. Numa necessidade cada  cada vez mais crescente.

O céu começou a desabar sobre ele e a descida ao inferno a começar.  Aquilo era tão caro e as desculpas para arranjar dinheiro começavam-Se a esgotar.


Felizmente para ele começou a trabalhar numa empresa que lhe pagava imenso dinheiro. Não precisava de roubar, não precisava de esquemas.

Andou assim mais quatro anos, a viver exclusivamente para poder consumir, a consumir para poder conseguir trabalhar. Aos pais inventava que ia de férias e ia para a barraca de um dealer  e passava lá dias a fio a consumir aquela droga que cada vez o consumia mais.

Nos últimos tempos quando injectava uma seringa no braço chorava. Chorava porque queria parar e não conseguia. Já não havia magia naquilo. Apenas degradação física e mental.

Até que um dia e em desespero foi pedir ajuda aos seus pais, que desconheciam o estado em que o filho estava. Sabiam que ele fumava uns charros,  bebia uns copos, mas ele estava tão distante deles que não faziam a minima ideia do estado em que o menino deles estava.

Os seus pais disseram-lhe que claro que queriam ajudar, mas não faziam a mínima ideia de como o fazer.  A vontade dele parar era tanta, que ele os orientou e lhes disse como o poderiam ajudar. Foi um processo extremamente difícil para todos,  de repente era como se estivessem a conhecer pela primeira vez.

Foi a maior manifestação de amor, entrega, confiança e ausência de julgamento que assisti até hoje.

O miúdo há 20 anos que não usa drogas, nem álcool, mas o processo foi complicado ao ponto de ele quase ter voltado a aprender a viver . Lidar com as outras pessoas, voltar a ter auto-estima,  deixar de se sentir inseguro e sobretudo aprender a lidar com aquilo que sentia. Algo que ele não precisou durante anos.

Hoje o melhor amigo deste miúdo está a passar por esta merda toda mais uma vez e o miúdo sente uma impotência e uma tristeza enorme porque não consegue que ele tenha vontade de parar.




Strange things in my Life.

Por vezes tenho a estranha sensação de que alguém me vigia 24 horas por dia.  Condiciona-me imenso este pensamento recorrente. Especialmente quando estou na casa de banho.

Para vos dar um exemplo, um dia destes dei comigo a imaginar se estas supostas pessoas são fisicas ou imaginárias.  O que poderá fazer toda a diferença.  Sendo físicas serão mulheres, ou homens ao estilo dos tipos da CIA? Se forem imaginárias, serão almas de pessoas do meu passado, ou meros espectros?

O que me deixa mais intrigado é a minha presunção em assumir que a minha vida é assim tão interessante para que alguém perca tempo a escrutina-la.


Não bebo, não uso drogas de tipo algum, portanto não sei se não seria boa ideia apostar em terapia.

Por outro lado, sentir que não estou sozinho também chega a ser reconfortante, nunca se sabe quando poderei precisar de ajuda para trocar um pneu.

domingo, 6 de novembro de 2016

Devolve-me as costas e leva daqui a escápula

Namorar com uma miúda que está a tirar Medicina começa a ficar cada vez mais estranho. Existem hábitos que de normais, passaram a ter contornos surreais.

Um destes dias a miúda pediu-me para lhe fazer uma massagem, como tantas vezes acontece. Normalmente ela deita-se, eu vou buscar um creme hidratante e massajo-lhe as costas. Um pouco mais acima, agora um pouco mais abaixo...

Nesta última vez que me pediu uma massagem eu comecei a massajar-lhe as costas como habitual. Quando começo ela diz-me:
- Massaja-me aí na escápula .
- Onde? pergunto eu.
- Na margem medial da escápula.
- Isso fica onde, pergunto eu desorientado.
- Aí, junto à fossa Subescapular, por cima da face costal.
- É aqui?
- Não, aí onde tens as mãos é a cavidade glenoidal que fica por cima do colo da escápula. é do outro lado que me dói.
 
Tento mais uma vez dar com o local da zona dorida:
- É aqui?
- Não, isso aí é a incísura da escápula, junto ao ângulo Superior.

De repente quebrou-se toda a magia da massagem. Em vez de conseguir visualizar as costas de pele suave da miúda, só me vinha à cabeça que estava a massajar um modelo de esqueleto em tamanho real.