quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Sporting e cocó

Ontem era dia de Sporting-Real Madrid para a Liga dos Campeões. Tinha tudo programado para fazer o jantar e às 19.45 horas sentar-me tranquilamente  no sofá a ver o jogo.
às 19:00 horas liga-me a mãe do Kukas a perguntar-me se ele podia dormir em minha casa. Claro que sim, respondi eu.

Alteração de planos, precisava de ir ao supermercado, dar banho ao Kukas e fazer o jantar até começar o jogo. Fui a correr ao Supermercado, cheguei a casa e comecei a preparar a refeição .
O Kukas veio ter comigo à cozinha informar-me que ia fazer cocó e que depois me chamava para lhe limpar o rabo.
Estou na cozinha e ele chama-me. 
Achei que tinha sido demasiado rápido, quando entro na casa de banho ele está com as mãos completamente cheias de merda. Foi um acidente papá,  dizia ele enquanto eu olhava para aquele quadro de miséria. Fui a correr à cozinha colocar o bico do fogão no mínimo, voltei a casa de banho para lhe lavar as mãos,  o sabonete líquido tinha acabado. Disse-lhe para não tocar com as mãos em nada, fui buscar gel de duche e lá lhe lavei as mãos.  Quis dar-lhe banho de seguida, mas ele ainda tinha mais cocó para fazer. Voltei para a cozinha e para o jantar. O Sporting entretanto já tinha começado.  Chamou-me e disse que já tinha feito cocó,  limpei-lhe o rabo e comecei a despi-lo para lhe dar banho. Começou a resmungar que já tinha tomado banho "no outro dia". Lá o convenci a entrar na banheira, mas queria a banheira cheia. Dei-lhe banho enquanto a banheira enchia e deixei-o lá depois a brincar dentro de água enquanto fui acabar o jantar.

Jantar pronto, volto à casa de banho para o tirar da banheira e quando la chego tudo o que era embalagens estava dentro da banheira, champoos,  gel de duche,  cremes hidratantes, um banco , etc.
Limpei-o, vesti-lhe o pijama e entretanto o jogo estava no intervalo.

Resumindo,  não faças planos que só da merda.





segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Adeus Pirata

No sábado à noite quando chegámos a casa o nosso chinchila pirata estava morto na sua gaiola. O Pirata foi um Presente de aniversário do Kukas.  Ficámos obviamente tristes, mas fiquei também sem saber como dar a notícia ao meu filho.

Este ano é o segundo animal de estimação que ele perde. Há uns meses foi a tartaruga que ele tinha em casa da mãe que morreu. 
Antes da confirmação do óbito da tartaruga, já ele um mês antes me tinha dito que ela estava morta dentro do aquário, eu questionei a mãe e ela disse-me que não estava morta, estava a hibernar.
Um dia em que fui entregar o Kukas em casa dela, ela pediu-me para eu ver a tartaruga, para lhe dar uma opinião se de facto estava a hibernar, ou se estaria efectivamente morta. Quando me trouxe o aquário para eu ver, lá estava ela a boiar, outrora verde e castanha e agora Branca, com uma das patas soltas a boiar ao seu lado. Eu disse-lhe que de facto o nosso filho há um mês atrás quando me disse que a tartaruga estava morta, já estava realmente morta, uma vez que já estava num elevado estado de decomposição. Perguntei-lhe se ela não tinha estranhado o facto do bicho não comer, não se mexer, ter mudado de cor e andar uma das patas a boiar ao lado dela. Repondeu-me que achava que estava a hibernar e que no verão voltaria ao estado normal.

Voltando ao chinchila,  hoje vou ter de dar uma explicação ao Kukas sobre o facto de ele já não se encontrar na gaiola. Estou hesitante em contar-lhe a verdade, ou dizer-lhe que ele fugiu, ou que os pais o vieram buscar. 
Também já pensei em comprar um igual e esperar que ele não note a diferença. 

Penso que o mais acertado será contar-lhe a verdade.  Por vezes temos de lidar com questões difíceis, será talvez mais acertado que ele lide com a morte do chinchila e eu cá estarei para lhe responder às perguntas que ele tenha para me fazer. 


quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Este é para a miúda

Um destes dias a miúda enviou-me um texto acerca das relações entre mulheres mais novas e homens mais velhos.  Sendo eu mais velho do que a miúda, li atentamente e identifiquei uma série de comportamentos entre a autora do texto e o seu namorado, que facilmente transportei até à minha relação.

O texto estava mais centrado no ponto de vista da autora e naquilo que diferenciava esta sua relação, de relações anteriores com homens da mesma idade.
Pus- me a pensar naquilo que tinha mudado em mim desde que namoro com a miúda. A verdade é que a minha última relação foi com uma mulher dez anos mais nova do que eu e era tão diferente daquela que eu tenho agora com a miúda.

Cheguei facilmente à conclusão de que se hoje em dia tenho uma relação em que me sinto completo, feliz e diferente; não é porque a miúda é mais nova, mas sim por ser especial e única.

Antes de me apaixonar por ela, apaixonei-me pela sua inteligência, pela maneira como ela olhava para o Mundo e sobretudo pela paz que ela me conseguia transmitir.

Foi uma das descobertas mais incríveis da minha vida. A cada dia havia algo novo que me fascinava nela. Era como se eu fosse construindo um puzzle às cegas sem ter qualquer vislumbre da imagem final. As peças apenas se iam encaixando aleatoriamente, mas sempre no sítio correcto.

A forma como os seus olhos mudavam de cor, sem que eu nunca tivesse noção de qual a cor verdadeira deles; o estado em que a cara dela ficava depois de ser atacada por milhares de melgas nos passeios que dávamos pelo jardim; como corou e fugiu depois de eu lhe ter roubado o primeiro beijo; ter- me deixado 3 horas à espera na primeira vez que saímos; como me apertava a cintura com força e encostava a cabeça dela na minha, enquanto atravessávamos a ponte sobre o Tejo quando fomos dar um passeio de Vespa.
Era inevitável que ficasse completamente arrebatado por esta miúda que punha tanta paixão naquilo que de mais importante queria para a vida dela.

Ela ensinou-me a não ter medo. A arriscar. Resgatou-me da letargia em que eu vivia. A miúda um dia decidiu que me iria salvar e salvou.

"O Inferno são os outros" e o meu inferno era eu próprio com o medo que sentia de arriscar e começar do zero. Foi ela quem agarrou a minha mão, me fez levantar e seguir por um outro caminho. Terei sempre essa dívida de gratidão para com ela.

Claro que também tenho noção daquilo que lhe fui dando ao longo deste tempo.  A minha dedicação, respeito, amizade, lealdade e muito amor. É este equilíbrio quase inconsciente que tem alimentado a nossa relação.

A minha miúda é especial não por ser mais nova, mas por ser única. Esta tem sido a aprendizagem que tenho tido desde que a conheço. Não sei se namorar com homens mais velhos ou mulheres mais novas tem vantagens, mas Namorar com a miúda tem sido a maior aventura da minha vida.

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

O Passado tem uma máquina do Tempo

O Passado é um gajo tão estranho. Por vezes estático, inacessível. Não conseguimos chegar-lhe, no entanto quantas vezes ele vem até nós. O Passado é egoísta, não se deixa tocar.

Dá-nos pequenas caixas, repletas de memórias. Umas que ferem, outras que ferem ainda mais porque de tão boas ficaram lá presas. O Passado não se compadece. Ordena-nos que sigamos em frente.

Há uma certa Ditadura nele. Faz-nos reféns de escolhas, de não escolhas... Não nos permite corrigi-lo, no mínimo dá-nos a liberdade de o folhear.

Quando lhe apetece viaja até ao Presente para nos atormentar. Afinal o Passado tem asas e quando decide bate-as e vem ter connosco trazendo com ele tormentas e tempestades que julgámos já extintas.

O Passado não se extingue, não se compadece, não se reforma. Já disse que era egoísta?
Não quero que me traga de volta os fantasmas que ele um dia fechou numa masmorra.

sexta-feira, 11 de novembro de 2016

A janela

Tenho saudades de uma janela que dava para um pátio interior. Do lado de dentro dessa janela uma vertigem de sentidos inundava-me.

Não me recordo do que via através da janela, mas tenho tão presente a onda de felicidade que me inundava quando contemplava o exterior através dela.

Guardo em mim todos esses momentos de êxtase. Aquela será sempre a mais bela janela pela qual olhei.

quinta-feira, 10 de novembro de 2016

Um brinde aos amigos

Sobre os amigos. Dizem ser a par da família com quem podemos sempre contar. Nos bons e nos maus momentos, como diz o clichê. Nunca soube verdadeiramente quantos tenho na minha vida. Tenho amigos, que afinal são apenas conhecidos, conhecidos que se revelaram amigos.

Dizem que quantidade não é sinônimo de qualidade. Concordo em absoluto. No Facebook tenho 574 amigos. Sou um tipo de sorte então. Na verdade não falo com mais de metade desses 574, e daqueles com quem falo a maioria da vezes é para lhes dar os Parabéns no seu dia de aniversário.

Há dois anos atrás eu tinha o meu grupo de amigos. Estávamos sempre juntos nas festas de aniversário, passávamos sempre a passagem de ano juntos. Dizíamos coisas bonitas uns aos outros nas fotografias de grupo no facebook. Éramos o grupo de amigos perfeitos, com vidas perfeitas e com um sentido de amizade incondicional.

Há dois anos separei-me da mãe do meu filho. De repente os meus amigos deixaram de me ligar,  de me convidar para as festas e jantares. De me perguntarem como eu me sentia, se precisava de alguma coisa. O meu grupo de amigos perfeito desmembrou-se.


A boa notícia é que nesse grupo, de repente fez-se uma triagem e apesar de não ter sido uma surpresa assim tão grande para mim, houve alguns deles que desde o primeiro dia estiveram disponíveis para mim. Sem julgamentos, sem reservas. Desse enorme grupo contam-se agora pelos dedos de uma das minhas mãos aqueles que realmente conhecem o termo e o significado de amizade.

Há males que vêm por bem, diz o ditado. A boa notícia é que hoje tenho consciência do que é ter amigos verdadeiros. Pessoas que nos amparam, que se riem e choram connosco. Acima de tudo sei que não estou sozinho, nem preciso de estar, porque tenho pessoas que gostam realmente de mim. Assim como eu sou.

Há uns dias, tínhamos aqui umas obras na cozinha e quando chegámos a casa e vimos a cozinha de pantanas , a miúda disse:me: Porque não ligas ao R e pergunta-lhe se querem ir jantar a algum lado? Estávamos ambos bastante cansados e a precisar de estar com pesssoas de quem gostamos, só para relaxar um par de horas.

Liguei ao R e atendeu a R. Perguntei: olha lá, não têm aí jantar para nós? Resposta imediata: Estamos a chegar a casa, venham cá ter que fazemos algo. Não houve uma pausa, não houve uma Hesitação. Venham, foi a resposta.

O mais surpreendente foi no dia seguinte eu ter recebido uma mensagem do R a agradecer o facto de lhes termos ligado para ir jantar a casa deles. É este o conceito de amizade que me faz sentido. Os amigos serem sempre bem vindos.

Há dois anos não perdi nenhum amigo, há dois anos descobri que tinha amigos verdadeiros.

quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Ohhh o Trump venceu.

É  impressão minha ou os que hoje se sentem revoltados pela Vitória do Donald Trump, são os mesmos que se divertiam e aplaudiam a fuga do Manel "palito", aquele que disparou contra quatro mulheres, matando duas delas?

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Ela até sabe o que é o Músculo esternocleidomastoideo

A miúda vai ter daqui a uma hora o primeiro teste de fogo na faculdade.  Exame de anatomia, o Cadeirão do primeiro semestre.

Antes de começar a estudar as expectativas dela estavam elevadíssimas,  nada menos do que 18. Entretanto quando começou a estudar a sério baixou a fasquia para 14. À  medida que o tempo ia passando ter positiva já seria muito bom.

Hoje a miúda só não quer enlouquecer.

A minha fiel visita

Tenho um amigo que há vinte anos atrás, perdeu a mãe e na mesma altura a namorada de então terminou a relação que tinha com ele. Não aguentou,  teve uma depressão seguida de um esgotamento.

Esse meu amigo vive há vinte anos no passado. Como se o tempo tivesse parado aí. Ouve as músicas que ouvia então, fala das pessoas e dos acontecimentos dessa altura.

Todos os dias vem visitar-me , mais do que uma vez ao meu local de trabalho. As pessoas que trabalham comigo já estão habituadas à sua presença diária.

Faz-me sempre as mesmas perguntas, todas relacionadas com o passado e eu dou-lhe sempre as mesmas respostas.  Fica ali cinco ou dez minutos comigo e sai para ir dar uma volta. Mais tarde irá passar novamente pelo meu escritório e voltará a fazer-me novamente as mesmas perguntas.

Recentemente descobri que ele está com um problema oncológico.  Soube que está a fazer sessões de quimioterapia. Já tentei aborda-lo em relação ao estado de saúde dele, mas cheguei à conclusão que ele não tem a mínima noção do que se está a passar com ele.

Quando estou de ferias ele passa sempre no meu local de trabalho à minha procura e embora lhe digam que só voltarei daqui a 15 dias, ele no dia a seguir lá está novamente a perguntar por mim.

Existe uma estranha relação entre nós.  Quando estamos juntos é como se voltassemos atrás vinte anos no tempo e as nossas conversas giram sempre à volta disso. Não me canso dele, nem de ter de lhe dar sempre as mesmas respostas às mesmas perguntas.

A amizade não tem limites, não tem roupagem, nem nunca se desiste de um amigo.




segunda-feira, 7 de novembro de 2016

O miúdo que um dia deixou de o ser

Vou contar a história de um miúdo que eu conheci.  Um miúdo que teve uma infância tão feliz, que uma coisa que sempre o atormentou foi o medo de crescer.

Um miúdo que jogava ao berlinde, ao pião, adorava subir às árvores e fazer delas o seu Castelo. Apaixonado pela sua bicicleta maior do que ele, mas que dominava como ninguém.

Não havia nada que ele tivesse medo, exceptuando palhaços.  Tinha pavor deles, sem nunca perceber a razão de tal temor.

Inevitavelmente o miúdo foi crescendo, deixando de lado a sua inocência e tornando-se cada vez mais fechado nele mesmo. Foi algo demasiado espontâneo para que ele tivesse sequer noção dessa transformação.

Um dia esse miúdo descobriu com um amigo que existiam umas palhinhas a que chamavam panfletos, que se vendiam num café perto de casa e que continham um pó castanho que se fumava numa prata.

Levados pela curiosidade, lá foram os dois comprar um desses panfletos. Foram para casa de um deles, aquele que já tinha visto alguem fumar esse pó e fizeram-no. Sabia mal e fazia-os vomitar. Apesar disso aquilo tinha qualquer coisa de reconfortante. De repente o miúdo voltou a ser miúdo e os medos que entretanto ele vinha sentido à medida que ia crescendo, desapareceram.

Descobriu ali uma coisa que fazia com que não sentisse e isso dava-lhe uma paz tão intensa que acabara de descobrir a forma de não crescer.

O miúdo ainda não sabia, mas acabara de fumar heroína.  Durante algum tempo nada mais tinha interesse. Ele só precisava daquilo para se sentir bem.

Entretanto começaram a aparecer umas dores de manhã,  uma ansiedade crescente que só passava quando ele fumava aquele pó mágico. A liberdade que ele sentia com aquilo começou a transformar-se numa prisão. Numa necessidade cada  cada vez mais crescente.

O céu começou a desabar sobre ele e a descida ao inferno a começar.  Aquilo era tão caro e as desculpas para arranjar dinheiro começavam-Se a esgotar.


Felizmente para ele começou a trabalhar numa empresa que lhe pagava imenso dinheiro. Não precisava de roubar, não precisava de esquemas.

Andou assim mais quatro anos, a viver exclusivamente para poder consumir, a consumir para poder conseguir trabalhar. Aos pais inventava que ia de férias e ia para a barraca de um dealer  e passava lá dias a fio a consumir aquela droga que cada vez o consumia mais.

Nos últimos tempos quando injectava uma seringa no braço chorava. Chorava porque queria parar e não conseguia. Já não havia magia naquilo. Apenas degradação física e mental.

Até que um dia e em desespero foi pedir ajuda aos seus pais, que desconheciam o estado em que o filho estava. Sabiam que ele fumava uns charros,  bebia uns copos, mas ele estava tão distante deles que não faziam a minima ideia do estado em que o menino deles estava.

Os seus pais disseram-lhe que claro que queriam ajudar, mas não faziam a mínima ideia de como o fazer.  A vontade dele parar era tanta, que ele os orientou e lhes disse como o poderiam ajudar. Foi um processo extremamente difícil para todos,  de repente era como se estivessem a conhecer pela primeira vez.

Foi a maior manifestação de amor, entrega, confiança e ausência de julgamento que assisti até hoje.

O miúdo há 20 anos que não usa drogas, nem álcool, mas o processo foi complicado ao ponto de ele quase ter voltado a aprender a viver . Lidar com as outras pessoas, voltar a ter auto-estima,  deixar de se sentir inseguro e sobretudo aprender a lidar com aquilo que sentia. Algo que ele não precisou durante anos.

Hoje o melhor amigo deste miúdo está a passar por esta merda toda mais uma vez e o miúdo sente uma impotência e uma tristeza enorme porque não consegue que ele tenha vontade de parar.