domingo, 23 de julho de 2017

Domingos suaves.

Acordar cedo ao Domingo, sair de casa, ver a Cidade deserta, silenciosa e caminhar até ao Emprego, faz com que o esforço não seja assim tão pesado.
Acordar devagarinho

sábado, 22 de julho de 2017

A soma das incertezas

Existem aqueles que ficam e os que partem. Não interessam as razões da escolha. Os que ficam, por opção ou por conforto, podem ser tão mais ou menos infelizes do que aqueles que partem pela imperatibilidade da fuga.
Fugir é tão legítimo como ficar. Não se trata de uma luta entre o bem versus o mal. Apenas uma carta que podemos jogar.
Sou dos que ficam, mas também sou dos que partem. Sou dos que agarro e dos que permito que soltem amarras.
Em consciência não sou nenhum de ambos. Incongruente? Completamente...
Por vezes dou comigo a rodopiar num Carrocel de Cristal, que gira no sentido contrário ao dos ponteiros dos relógios, tentando contornar (enganar) o Tempo.
Vã demanda esta; impossível contornar aquilo que nos manieta através da sua vontade irrepreensível e derradeira.
Sou o exemplo da pluralidade da inconstância e da singularidade do desejo atroz de não ter de suportar o fardo da inevitabilidade.
Nunca a mudança me condicionou. Permito-me aqui ser desonesto e reafirmar que nunca a mudança me moldou. Sou o somatório de escolhas e de comportamentos, de erros conscientes e de outros camuflados no meu desiquilíbrio emocional. Racionalmente não falho tanto, mas nem sempre tenho a capacidade de escolher entre a racionalidade e a loucura congénita construída sobre alicerces de areia solta que me conduzem a lugares lúgubres onde velhos e novos fantasmas dançam ao som de uma estranha melodia monocórdica, de mão estendida para me guiarem.
Recordo-me de ter escrito cem vezes num quadro negro de lousa com giz branco a frase: "Só por hoje vou contrariar a minha vontade e não caminharei descalço sobre vidros de garrafas partidas durante um festim de apologia à demência para o qual não fui convidado". De todas as vezes em que escrevia esta frase, aquilo que eu retinha era sobre qual a razão pela qual  eu não tinha recebido um convite para este banquete.
Agora sei que não devia de ter faltado às aulas sobre o Cartesianismo. Preciso tanto das ferramentas que aí eram distribuídas gratuitamente e sem reservas.
Questiono-me se ainda terei tempo para voltar a poder falhar. Estou certo que falharei, mas tenho dúvidas se o Tempo estará ainda à espera, ou se já partiu deixando-me com um relógio avariado nas mãos, sem um esquema e com um mecanismo tão complexo e difuso que nada mais me restará do que me sentar e esperar que o Tempo um dia se lembre e me venha resgatar a este lugar estranho dimensionalmente vazio.

Got the music in you baby ...Tell me why


segunda-feira, 17 de julho de 2017

A ilusão da razão.

Tenho uma casa, um emprego, uma vida estável e no entanto sinto-me um sem abrigo. É como se nada me pertencesse, como se não tivesse raizes. Estou perdido num mapa repleto de encruzilhadas, não encontro um rumo que me leve a lado algum. Tenho os pés assentes no chão e ainda assim sinto vertigens,  como se fosse um funâmbulo a atravessar duas montanhas bem altas em cima de um arame fino e frágil, sem rede para me amparar.
Tenho um peso que me carrega e do qual não me consigo livrar. Tenho os dias que me aliviam, as noites que me atormentam e cada vez menos os sonhos que sempre me alimentaram.
Sou um falso pragmático. Sou um descrente convicto. Sou um crente na ilusão.
Consigo ser o meu maior amigo, mesmo quando me fustigo. Sou o perfeito anormal que implora por um fio condutor. Consigo ser melhor com os outros, mesmo quando comigo de pés atados teimo em não desatar os nós que me prendem.
Sou sombra e luz, sou verdade e mentira. Sou o espectro de uma imagem que já foi real e que o Tempo, esse filho da puta foi desgastando entre sorrisos de malícia e regozijo.
Já me pertenceram as melhores dádivas,  já fui príncipe sem nunca ter sido sapo. Ja caminhei sobre ninhos de serpentes sem nunca ter sido mordido. Já provei o veneno e sobrevivi.
Hoje sou um sem abrigo, vazio de alma, sedento de esperança, isento de nada e sem nada que me mova.
Hoje sou um sem abrigo, a quem até as estrelas que no céu foram sempre o maior conforto, ousaram roubar num gesto implacável e mordaz.
Hoje sou um sem abrigo que recusa alimento, não por orgulho mas por falta de apetite.
Hoje sou um sem abrigo que um dia sonhou com um campo repleto de papoilas vermelhas, onde iria construir a sua casa, o seu Lar.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Desapego

Como transformar o desapego em algo positivo? Para muitos significa afastamento, desligar, desistir.. Para mim desapego significa confiar, entregar, libertar.
Há uns tempos escrevi aqui um texto acerca do aconchego, da dedicação, da preocupação pela pessoa que está comigo. Da minha necessidade de estar sempre presente, mas esqueci-me de algo primordial; eu não posso viver a vida dos outros. Estar focado na outra pessoa, retira-me o foco em mim. Desapego é no fundo olhar em primeiro lugar para mim, entregar a responsabilidade das escolhas e do trajecto que o outro decidiu fazer e sobretudo confiar na sua capacidade de lidar com as suas coisas.
Desapego é deixar que a outra pessoa bata com a cabeça na parede se for essa a vontade dela e ter o kit de primeiros socorros para lhe tratar das feridas. Desapego é amar incondicionalmente, sem mudar a essência do outro.
Desapego é estar sem esforço e de uma forma invisível.

terça-feira, 4 de julho de 2017

Aquilo que eu mostro nem sempre é aquilo que sou

Hoje em conversa com uns amigos, disse-lhes que havia uma qualidade minha que eu prezava imenso e que era o facto de ter plena consciência dos meus defeitos. Não é algo congénito, é uma qualidade adquirida. Não acordei um dia e tive uma epifania. Foi um processo empírico. Olhar para dentro e perceber o quanto disfuncional consigo ser. Perceber que me é permitido errar, mas que não me é permitido perpetuar os erros. Esta consciência que hoje tenho dos meus defeitos obriga-me a lidar com eles e sobretudo a encontrar formas de os corrigir. Um dos maiores defeitos que eu tenho é (era) ter a presunção que sou óptimo a cuidar dos outros. Aprendi que sou péssimo a cuidar de mim e que mascaro essa minha dificuldade, tentando ser a rede que ampara as quedas daqueles que amo.
Tomei a decisão de me colocar em primeiro lugar, cuidar de mim, fortalecer-me mental e psicologicamente e só dessa forma conseguirei ter a força necessária para segurar a  rede que ampara aqueles que eu amo. Gostar mais de mim, não implica que goste menos dos outros. Olhar mais para mim é uma forma de tirar o peso de cima daqueles a quem eu de uma forma quase obsessiva tento carregar ao colo.
Não me basta ser uma boa pessoa, preciso de ser de uma forma contínua uma melhor pessoa e isso só é possível fazendo uma introspecção e alterar objectivos e comportamentos.
Outra coisa que percebi é que por vezes aquilo que eu considero ser o melhor para mim, não tem de ser necessariamente o melhor para os outros. Respeitar o espaço das outras pessoas não deveria de ser uma necessidade, tem de ser uma obrigação.
Sempre achei que era um tipo super forte e que aguentava tudo. Sou forte e aguento muita coisa, mas agora que parei um bocadinho para olhar para mim percebi que preciso de ajuda, não sou auto-suficiente e que até sou um pouco co-dependente e que as ferramentas que preciso para melhorar estão dentro de mim. O esforço tem de ser obrigatoriamente meu, mas também tendo consciência de que sozinho não sou capaz, não ter receio de pedir ajuda. Ajuda essa que não passa por me levarem ao colo, mas por me darem a mão se eu sozinho não conseguir percorrer esse caminho.
É engraçado como sabemos sempre aquilo que é o melhor para os outros, quando não fazemos a mínima ideia daquilo que é o melhor para nós.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Eu acredito em anjos

Existem pessoas na nossa vida que até determinada altura são apenas pessoas que existem na nossa vida. Conhecêmo-las, convivemos com elas, rimos com elas; mas de repente chega um dia e percebemos que não conhecíamos de todo aquela pessoa.
Um dia precisamos de alguém e sem qualquer expectativa ou aviso, aparece-nos à frente aquela pessoa que tu nunca imaginaste o quanto ela teria guardado para ti. Sim, nem ela o sabia.
Existem pessoas que passam pelo pior e mesmo durante esse processo ainda conseguem dar-nos o melhor delas; sem pedir nada em troca, sem sequer se questionarem. Nesse dia descobres que existem pessoas maravilhosas, altruístas e que te agarram ao colo mesmo estando elas próprias num estado tão debilitado que possivelmente ainda precisam que a agarrem mais do que tu.
São estas pessoas que me fazem acreditar (ainda) no ser humano e que a guardarei para sempre no meu cantinho mais quente e acolhedor.
Espero um dia ser como esta pessoa, porque tenho tanto a aprender com ela.

Obrigado por me teres amparado, mesmo quando as tuas forças estavam no limite.

O Amor é um Filho da Puta

Acordas um dia em que tudo será normal. Vais trabalhar e no final regressas a casa, ao teu refúgio onde encontrarás o conforto de que tanto anseias.
No final do dia a Pessoa com quem vives e por quem tanto te apaixonaste diz-te que já não é feliz contigo. que quer ficar sozinha.
No Final do dia parte de ti morre ali no asfalto do parque de estacionamento .
Choras, imploras, humilhas-te, pretendes arranjar culpados, experimentas odiá-la...mas no final do dia ela continua a ser a mulher por quem estás irremediavelmente e arrebatadamente apaixonado.
A seguir vem o medo e o vazio. A esperança, mas acompanhada pela descrença.
O Amor é o maior dos enganos, a pior das drogas, o monstro mais atroz. O Amor enfraquece-nos, corroí-nos . É um Filho da puta que vem de mansinho, mas quando se vai parte tudo à sua volta, deixando-nos em cacos irremediavelmente recuperáveis.
O Amor será sempre o vilão disfarçado de herói .