quarta-feira, 25 de julho de 2018

Epitáfio.

Esta noite tive um sonho estranhíssimo.
Sonhei com todas as pessoas que já conheci ao longo da minha vida. Algumas já nem me recordava delas.
Foi bastante intenso, na medida em que consegui meter num sonho centenas de pessoas com as quais ia falando.
Quando acordei fui pesquisar acerca deste tipo de sonhos.
Li algures que pode ser um pronúncio de morte. Se for isso é chato porque tenho roupa para lavar e estender.
Para me precaver e se de facto o senhor de capa negra com capuz e de foice me vier buscar, quero deixar aqui alguns desejos de forma a que me sejam satisfeitos.
Não quero velório. Quero que o meu corpo siga directamente da morgue para o Crematório e depois de cremado que com as minhas cinzas fertilizem um canteiro de alfazema.
Não quero que ninguém acompanhe a cerimónia fúnebre. 
Na noite do suposto velório (que não irá acontecer), quero que os meus amigos se reúnam numa sala e assistam a alguns dos Filmes da minha vida:

Der Himmel über Berlin, do Wim Wenders.
- Shame, do Steve McQueen.
- Paris Texas, também do Wim Wenders.
- Fallen Angels, do Kar-Wai Wong
- Lost in Translation da Sofia Coppola.
 Se ainda houver resistentes que não tenham adormecido, gostava que vissem também o Clockwork Orange do Kubrick.

No dia da minha cremação e durante o processo da mesma quero ter banda sonora.
Deixo portanto aqui uma playlist:

- Wanderer, da Cat Power.
- My ideal, do Chet Baker.
- Frosted Candy,dos We are the Muffy.
- Racing like a Pro, dos The National.
- Distant Sky ( de preferência a versão ao vivo no Concerto de Copenhaga) do Nick Cave.
- Sesame Syrup, dos Cigarettes After Sex.
- Melody Noir, do Patrick Watson.
- Dark Saturday, dos Metric.
- The Whole Summer, do Lo-Fang.
-Pensa bem, da Joana Espadinha.
-Put Your Money on Me, dos Arcade fire.
-With Animals, do Mark Lanegan.
-Cactus, dos Teleman.
-Get Your Shirt, dos Underworld com o Iggy Pop.
-.Alabama Song, do David Bowie.
-Nature Boy, do Jonh Coltrane.
-Solitude, da Martina Topley-Bird.
-Catch, dos The Cure.
-Pink Rabbits, dos The National.
-Cure for Pain, dos Morphine.
-Decades, dos Joy Division.
-This Old House, dos Madrugada.
-I Am the Cosmos, do Pete Yorn.
-Boys Don´t Cry, dos The Cure.
-Funnel of Love, dos SQURL.
-Heroes e Ashes to Ashes do david Bowie para finalizar.

Se não respeitarem estes meus desejos condeno-vos a todos a uma vida miserável, onde a Maria Leal estará sempre presente até ao final dos vossos dias.



quarta-feira, 18 de julho de 2018

Non(sense)

Cansei-me de experimentar novas fragrâncias.
Nenhuma delas me levou até ti.
Já não me recordo do teu cheiro, tenho-o procurado por onde passo na esperança de o reconhecer.
Deixaste-me quase nada.
Criaste em mim um vazio etéreo que não consigo preencher.
A multidão é demasiado vasta e o esforço para te encontrar demasiado pesado.
Ainda me recordo de algumas coisas.
Do sorriso nada fácil, do inconformismo tão premente e do vácuo que o teu olhar originava.
Lembro-me de ti como uma silhueta no chão de calçada gasta pelos passos apressados de quem não consegue parar para simplesmente contemplar.
O meu GPS diz-me para seguir em frente e quando chegar à bifurcação virar à esquerda.
Quando finalmente lá chego é obrigatório virar à direita.
Desligo-o e sigo o meu instinto.
Sigo o meu instinto e lentamente sinto-me a desligar.
Devia de ter deixado um rasto de pedaços de fotografias rasgadas para não me perder.
Queimei-as, destruí-as e agora não me resta nada que me oriente.
Paradoxalmente sinto que não quero regressar.
Que estar perdido me permite descobrir novos caminhos, novos rostos, novas demandas.
Já não é sobre ti.
Aquilo que sobrou foram algumas gramas de cinzas que lentamente vão sendo levadas pela brisa destas manhãs de Verão.
Tenho uma prateleira vazia de troféus e repleta de pó.
Chegou a hora de começar a respirar sem o auxílio de uma máquina.
Alguém que a desligue por favor.
Já consigo respirar sózinho.


once upon a time



terça-feira, 17 de julho de 2018

Fogo- fátuo

Li atentamente tudo aquilo que escreveste nas tuas mensagens.
Denoto alguma mágoa e alguma culpa. Como se tu devesses controlar o efeito causado pelo vírus que assombrava e minava tudo aquilo em que acreditavas.
Penso mesmo que aguentaste até onde conseguiste aguentar e sei que não deve ter sido nada fácil lidar com aquilo que esse vírus silencioso ia destruindo.
Identifico-me com essa impotência de controlar as emoções.
Talvez não exista culpa, mas somos aquilo que vivemos e aquilo que recebemos.
Sei o que são olhares vazios e silêncios ruidosos.
Sentiste-os?
Percebes agora que afinal não estavas assim tão enganada?
Que o Tempo, esse gajo estranho, acabou por te dar razão?
Durante a vossa estória aquilo que tiveste nas tuas mão não passava de um fogo-fátuo.
Por hábito, ou por defeito não conseguimos compreender aquilo que não controlamos.
Nada daquilo que aqui escrevi apazigua a angústia, a incerteza e sobretudo a esperança.
Perdermo-nos a olhar pelos olhos dos outros e  questionar aquilo que os nossos olhos vislumbram, é tão usual.
Espero que consigas seguir em frente com a certeza de que nada estava nas tuas mãos.
Nunca esteve.

Reticências



segunda-feira, 9 de julho de 2018

(Im)perfeição

Jamais me queixarei de ter optado ser Cordeiro e viver no meio dos lobos.
Como a erva e deixo-lhes a carne.
Sou carne tenra que os lobos não tocam.
Somos azeite e vinagre. Complementamo-nos sem nos misturarmos.
Essa harmonia conquistámo-la.
A nossa sede e a nossa fome é repartida em partes desiguais.
Sem atropelos, caminhamos numa formação pré-estabelecida.
Não ousamos ser iguais e estranhamente não somos assim tão diferentes.
As armadilhas estão lá. Eu sei e eles sabem.
Temos as nossas rotas, que convergem sempre no mesmo local.
Nada nos impele a parar.
Sabemos que antes de atravessar a estrada, temos de olhar para ambos os lados.
Existem sons familiares que nos guiam e nos afastam das escarpas escondidas pela densa vegetação.
É como confiar que os abutres não tocarão na carcaça com uma Fé inabalável.
Sigo os lobos porque só eles conhecem o poder que uma alcateia pode ter.
Eles deixam que eu os siga, porque apenas um cordeiro sabe que a fragilidade não é uma imperfeição.
the perfect blend


domingo, 1 de julho de 2018

Até já...

Nos últimos quinze dias tenho trabalhado que nem um cão da lama.
Sem uma folga, sem um minuto durante o dia em que consiga parar.
Tem sido extenuante. Sinto-me correr os 100 metros em repeat.
Amanhã vou de Férias. Sinto que as mereço tanto.
Vou com o meu filho, as nossas primeiras Férias em que estaremos apenas os dois.
Serão quinze dias em que estaremos em comunhão.
Este mês ele faz 7 anos, cresceu tão depressa. Conversamos imenso sobre variadíssimos temas.
Faz-me sorrir com determinadas perguntas que me faz e cuja resposta por vezes é tão difícil de lhe dar.
Sinto uma disponibilidade enorme para com ele. Damos tanto um ao outro.
Tem estado de Férias com a mãe e chega hoje. Perguntei-lhe se estava preparado para ir de Férias novamente amanhã com o Papá; se não estava já farto de praia? Respondeu-me que não, que queria muito ir de Férias novamente.
Alguns colegas dele da Escola sentem inveja do Kukas porque os pais estão separados e assim ele tem Férias a dobrar. Alguns já disseram aos seus pais que eles também se deviam de separar para terem mais Férias.
Este ano tem sido de grandes mudanças, a todos os níveis.
Ao fim de 20 anos, estou sozinho e tem sido um processo de aprendizagem.
Mudei de casa, comprei uma onde sinto uma óptima energia.
Tinha uma relação de três anos que terminou em Janeiro e que no inicio me foi muito complicado lidar com essa separação.
Neste momento sinto que essa relação terminou na altura certa e tenho aproveitado os benefícios de estar sozinho e de me sentir em paz e tranquilo desta forma.
Na verdade não estou só. tenho alguém por quem sinto um Amor enorme, diferente de tudo aquilo que eu conhecia.
Temos a relação perfeita, porque não temos "uma relação".
É uma coisa tão nossa que não é sequer explicável.
Com esta pessoa aprendi o que é dar e receber em moldes iguais.
Os nossos momentos são especiais e enchem-nos de uma forma que nos bastamos quando estamos juntos.
Cresci bastante emocionalmente, o que me deu ferramentas de racionalidade que nunca tive.
Amanhã vou de Férias com a sensação de que não trocaria estes 15 dias com o meu filho por nada deste Mundo.
A minha banda sonora nos últimos dias