Ela era reservada, tinha a necessidade crónica de sentir controlo, organizada. Sentia medo, trocava as emoções pela razão. Dona de várias capas e máscaras, não saia de casa sem elas. Abominava a sua fragilidade, buscava incessantemente ser independente. Não fazia uma escalada sem usar uma corda de proteção. Procurava a beleza, mas não parava para a contemplar. Criava o seu Mundo perfeito, mas vivia numa outra dimensão.
Ambos estavam presos numa solidão corrosiva. partilhavam o mesmo sonho, mas não corriam atrás dele.
Nunca perceberam que aquilo que os uniu, foram as suas diferenças e não aquilo que tinham em comum. Nunca compreenderam que precisavam daquilo que cada um deles tinha para oferecer ao outro. Que o que não tinham em comum seria o que os poderia salvar, equilibrando-os.
Como em todas as boas estórias, existiam fantasmas e demónios. Eles tinham um poder imensurável, o de afastar esses fantasmas e esses demónios um do outro. Não tiveram tempo de chegar lá. Não o perceberam. Desistiram sem o saberem.
Viveram sempre a um metro de distância um do outro. Os abraços nunca foram reais. Quando andavam de mão dada, não se apercebiam que as suas mãos não se tocavam.
Ele estava em pedaços, ela estava estilhaçada. Nenhum deles tinha essa noção.
Ele parou de fugir dele e agora foge dela. Ela fugiu dele e agora ele espera que esteja a fugir para ela.
Run to you