quarta-feira, 4 de março de 2020

A certeza da vulnerabilidade.

Nada me faz mais sentido do que a noção de que a realidade é imutável e estática.
Carrego em mim 46 anos de experiências, vivências, quedas, resiliência, adversidades, emoções, enganos e desenganos, cansaço, descobertas, felicidade, paixões, amores e desamores, embriaguez e lucidez..
Sou um entre muitos. Alguém que já se cruzou e transformou as estórias de tantos. Que já fui condicionado e que sofreu algum tipo de mutação pelo toque de alguém.
Tantas vezes cai e tantas me levantei.
Dias houve em que provei veneno e sempre sobrevivi, mas as marcas ficaram cá.
Nos últimos meses tenho vindo a fazer uma retrospectiva do que tem sido o meu percurso.
Há algo que não se apaga. As mazelas que as más escolhas me deixaram.
Há algo que também não se esgota. A minha coragem em não deixar de arriscar.
Somos os somatório de tudo aquilo que vamos acrescentado diariamente às nossas vidas.
Detesto o rancor, mas não consigo deixar de sentir mágoa.
Tenho a necessidade crónica e utópica de me verem como uma pessoa boa. É estúpido precisar tanto da aceitação dos outros, quando em bom rigor poucos valorizam e se lembram de tudo o que de bom já receberam de alguém.
Cada vez mais tenho a percepção de que sou uma pessoa de causas. Que luto muito mais por elas, do que muitos que as publicitam, mas cujas palavras, não passam de retórica oca e estéril.
Valorizar-me tem sido uma das minhas demandas. Perante mim, em silêncio, mas convicto de que sou muitas vezes diferente e melhor. Pode parecer falta de modéstia, no entanto em bom rigor estou a ser finalmente moralmente honesto. Sou de facto bastante melhor do que muitos que já se cruzaram algures no Tempo comigo.
A minha auto-estima é sólida e construída com bases reais.
Há coisas que me continuam a assustar. As minudências que tal acendalhas, inflamam relações, convicções, certezas...
Tenho medo de Pessoas. De algumas Pessoas.
Não do mal que me possam causar, mas da facilidade com que o fazem. Do desprezo que sentem em relação aquilo que os seus actos podem causar.
Gostaria de ver a Lei de Murphy invertida. Que as coisas boas se transformem em coisas ainda melhores. É por isso que eu luto. É nisso que continuo a acreditar.
Não confiar desconfiando, mas confiar estando mais atento.
É muito fácil alguém destruir aquilo que construímos. Estar vigilante, protege a nossa casa. A nossa Felicidade e aqueles que nos ajudam a construí-la.
Neste momento tenho tudo aquilo que necessito. Vou lutar para que ninguém o destrua. Vou-me proteger a mim e aqueles que eu amo, dos que não têm qualquer pejo em destruir tudo o que de mais belo alguém conquistou e se esforça por manter e cuidar.

4 comentários:

  1. Bom dia Paper Cut. Percebo tão bem essa vontade em preservar tudo aquilo que temos de bom. O medo daqueles que nada têm a perder e que nos conseguem estilhaçar com a sua maldade, tudo aquilo que temos de melhor mas nossas vidas. Deveríamos de estar protegidos com um escudo contra a crueldade alheia. Keep on going my friend.

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    1. Obrigado pelo teu comentário. Alguém próximo de mim me dizia um destes dias que se sentia tão feliz, que isso a assustava. Tinha medo que alguém lhe "roubasse" esse estado de Felicidade. Eu entendo-a. Uma coisa é respondermos pelos nossos erros e pelas nossas falhas, temos forma de o controlar. Outra é a impotência que sentimos perante as acções de terceiros. Um dia de cada vez e tudo se conjuga.. Beijinhos

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  2. Meu Amigo, a imagem diz muito para além do que escreveste. Em tempos dizia-te que tu consegues, numa daquelas fases menos boas, agora estás a colher o bom que foste semeando em Ti, porque tudo parte de Ti. E Tu acreditas em Ti, e muito mais de " Ti" há para dizer, mas depois ninguém te atura com o ego tão lá nas alturas[risos], "em bom rigor", és um Gajo fixe e que merece ser feliz!

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    1. Isto de me conheceres tão bem não facilita.. Verdade que em bom rigor nas fases menos boas, estiveste sempre presente. Mesmo quando eu "fugia", tu vinhas à minha procura. You are a keeper.. Obrigado por teres sempre acreditado no meu "Eu".. Ahahahha.

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