terça-feira, 28 de agosto de 2018

Cesto de vime.

A Felicidade pode ser servida em gramas.
Queremos quilos dela e não nos apercebemos que ela cabe num grão de areia.
Andaremos demasiado distraídos, ou em negação?
É tão mais fácil deixarmo-nos levar pela corrente, do que lutar contra ela.
Ainda assim, preferimos na maior parte das vezes remar contra algo que afinal apenas nos está a levar para terra segura.
É a nossa dificuldade em aceitar o desconhecido.
Querermos controlar o incontrolável.
Não existem Vidas vazias.
Existem Corpos vazios. Despojados de Alma.
A Alma é uma semente que tem de ser alimentada para germinar e florescer.
Quantas vezes nos esquecemos de a regar.
Somos preguiçosos congénitos, que estamos sempre à espera que alguém se lembre que existimos.
Valorizamos o acessório e perdemo-nos na estrada que nos levaria ao essencial.
Somos feitos de ferro forjado, mas sentimo-nos como que de cristal.
Obstinados, incongruentes e ao mesmo tempo conformados.
A antítese do Ser sumptuoso que deveria de aflorar em cada um de nós.
Odeio tudo aquilo que é definitivo.
Desprezo aqueles que ferem crianças com o seu egocentrismo e com uma frieza assustadora.
Adoro as crianças porque só elas conhecem o amor incondicional e só elas ficam confusas quando de repente os adultos que elas veneram se afastam sem olharem para trás.
Com os anos tenho aprendido a não perdoar e faz-me tanto sentido porque existem actos que não se podem perdoar.
Comecei por falar de Felicidade..




Diz?

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Sem sonda.

Ainda me recordo de ser alimentado através de uma sonda. Não foi assim há tanto tempo. Porém existem várias formas de medir o Tempo. Apesar desta recordação ser tão próxima, tenho a sensação de que o Tempo se foi desdobrando e acrescentando mais tempo, parecendo dessa forma que algo tão recente se tenha transformado numa memória ténue fruto de um Passado longínquo.
Parecia tudo tão mais fácil, sem exigir grande esforço. 
Limitava-me a deixar que o alimento viesse até mim sem ter sequer de o mastigar.
À distância percebo que tudo estava errado. Que a letargia à qual me entreguei e que me parecia tão confortável, era na verdade um muro revestido a arame farpado que não me permitia ver aquilo que estava para além dele.
Não havia dor. Não havia angústia. 
Aquilo que existia era na verdade uma realidade disfarçada pela necessidade que eu tinha em acreditar que o Paraíso terminava onde começava o muro e que por detrás dele apenas deserto.
Quando me retiraram a sonda, veio o pânico, a dificuldade em aceitar que me conseguiria alimentar sozinho, sem o auxílio de algo externo.
Eu não sabia, mas consegue-se aprender a mastigar de novo. 
Foi um processo que para mim exigiu um esforço enorme, mas que gradualmente me tem proporcionado manjares divinais que provocam fogo de artifício no meu palato.
Comigo teve de ser à bruta. Talvez fosse mesmo a única forma. 
Hoje não saio de casa sem fazer o meu café de saco, as minhas duas torradas com queijo da ilha e fiambre, os meus 3 ovos mexidos e sentar-me à mesa a desfrutar da minha primeira refeição do dia. Deixei de correr, de sair à pressa com um bocado de pão na mão e comê-lo apressadamente, sem sequer lhe sentir o sabor.
O melhor de tudo é que quando me sento de manhã naquela mesa, não me sinto só. Deixo-me levar pelo prazer que o alimento que hoje eu preparo para mim com tanto afinco, me proporciona.

Nunca é tarde demais para recomeçar. A dor e a angústia têm vindo a ser substituídas por algo novo, uma ementa de novos sabores com ingredientes cuidadosamente selecionados
Enter and close the door.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Epitáfio.

Esta noite tive um sonho estranhíssimo.
Sonhei com todas as pessoas que já conheci ao longo da minha vida. Algumas já nem me recordava delas.
Foi bastante intenso, na medida em que consegui meter num sonho centenas de pessoas com as quais ia falando.
Quando acordei fui pesquisar acerca deste tipo de sonhos.
Li algures que pode ser um pronúncio de morte. Se for isso é chato porque tenho roupa para lavar e estender.
Para me precaver e se de facto o senhor de capa negra com capuz e de foice me vier buscar, quero deixar aqui alguns desejos de forma a que me sejam satisfeitos.
Não quero velório. Quero que o meu corpo siga directamente da morgue para o Crematório e depois de cremado que com as minhas cinzas fertilizem um canteiro de alfazema.
Não quero que ninguém acompanhe a cerimónia fúnebre. 
Na noite do suposto velório (que não irá acontecer), quero que os meus amigos se reúnam numa sala e assistam a alguns dos Filmes da minha vida:

Der Himmel über Berlin, do Wim Wenders.
- Shame, do Steve McQueen.
- Paris Texas, também do Wim Wenders.
- Fallen Angels, do Kar-Wai Wong
- Lost in Translation da Sofia Coppola.
 Se ainda houver resistentes que não tenham adormecido, gostava que vissem também o Clockwork Orange do Kubrick.

No dia da minha cremação e durante o processo da mesma quero ter banda sonora.
Deixo portanto aqui uma playlist:

- Wanderer, da Cat Power.
- My ideal, do Chet Baker.
- Frosted Candy,dos We are the Muffy.
- Racing like a Pro, dos The National.
- Distant Sky ( de preferência a versão ao vivo no Concerto de Copenhaga) do Nick Cave.
- Sesame Syrup, dos Cigarettes After Sex.
- Melody Noir, do Patrick Watson.
- Dark Saturday, dos Metric.
- The Whole Summer, do Lo-Fang.
-Pensa bem, da Joana Espadinha.
-Put Your Money on Me, dos Arcade fire.
-With Animals, do Mark Lanegan.
-Cactus, dos Teleman.
-Get Your Shirt, dos Underworld com o Iggy Pop.
-.Alabama Song, do David Bowie.
-Nature Boy, do Jonh Coltrane.
-Solitude, da Martina Topley-Bird.
-Catch, dos The Cure.
-Pink Rabbits, dos The National.
-Cure for Pain, dos Morphine.
-Decades, dos Joy Division.
-This Old House, dos Madrugada.
-I Am the Cosmos, do Pete Yorn.
-Boys Don´t Cry, dos The Cure.
-Funnel of Love, dos SQURL.
-Heroes e Ashes to Ashes do david Bowie para finalizar.

Se não respeitarem estes meus desejos condeno-vos a todos a uma vida miserável, onde a Maria Leal estará sempre presente até ao final dos vossos dias.



quarta-feira, 18 de julho de 2018

Non(sense)

Cansei-me de experimentar novas fragrâncias.
Nenhuma delas me levou até ti.
Já não me recordo do teu cheiro, tenho-o procurado por onde passo na esperança de o reconhecer.
Deixaste-me quase nada.
Criaste em mim um vazio etéreo que não consigo preencher.
A multidão é demasiado vasta e o esforço para te encontrar demasiado pesado.
Ainda me recordo de algumas coisas.
Do sorriso nada fácil, do inconformismo tão premente e do vácuo que o teu olhar originava.
Lembro-me de ti como uma silhueta no chão de calçada gasta pelos passos apressados de quem não consegue parar para simplesmente contemplar.
O meu GPS diz-me para seguir em frente e quando chegar à bifurcação virar à esquerda.
Quando finalmente lá chego é obrigatório virar à direita.
Desligo-o e sigo o meu instinto.
Sigo o meu instinto e lentamente sinto-me a desligar.
Devia de ter deixado um rasto de pedaços de fotografias rasgadas para não me perder.
Queimei-as, destruí-as e agora não me resta nada que me oriente.
Paradoxalmente sinto que não quero regressar.
Que estar perdido me permite descobrir novos caminhos, novos rostos, novas demandas.
Já não é sobre ti.
Aquilo que sobrou foram algumas gramas de cinzas que lentamente vão sendo levadas pela brisa destas manhãs de Verão.
Tenho uma prateleira vazia de troféus e repleta de pó.
Chegou a hora de começar a respirar sem o auxílio de uma máquina.
Alguém que a desligue por favor.
Já consigo respirar sózinho.


once upon a time



terça-feira, 17 de julho de 2018

Fogo- fátuo

Li atentamente tudo aquilo que escreveste nas tuas mensagens.
Denoto alguma mágoa e alguma culpa. Como se tu devesses controlar o efeito causado pelo vírus que assombrava e minava tudo aquilo em que acreditavas.
Penso mesmo que aguentaste até onde conseguiste aguentar e sei que não deve ter sido nada fácil lidar com aquilo que esse vírus silencioso ia destruindo.
Identifico-me com essa impotência de controlar as emoções.
Talvez não exista culpa, mas somos aquilo que vivemos e aquilo que recebemos.
Sei o que são olhares vazios e silêncios ruidosos.
Sentiste-os?
Percebes agora que afinal não estavas assim tão enganada?
Que o Tempo, esse gajo estranho, acabou por te dar razão?
Durante a vossa estória aquilo que tiveste nas tuas mão não passava de um fogo-fátuo.
Por hábito, ou por defeito não conseguimos compreender aquilo que não controlamos.
Nada daquilo que aqui escrevi apazigua a angústia, a incerteza e sobretudo a esperança.
Perdermo-nos a olhar pelos olhos dos outros e  questionar aquilo que os nossos olhos vislumbram, é tão usual.
Espero que consigas seguir em frente com a certeza de que nada estava nas tuas mãos.
Nunca esteve.

Reticências



segunda-feira, 9 de julho de 2018

(Im)perfeição

Jamais me queixarei de ter optado ser Cordeiro e viver no meio dos lobos.
Como a erva e deixo-lhes a carne.
Sou carne tenra que os lobos não tocam.
Somos azeite e vinagre. Complementamo-nos sem nos misturarmos.
Essa harmonia conquistámo-la.
A nossa sede e a nossa fome é repartida em partes desiguais.
Sem atropelos, caminhamos numa formação pré-estabelecida.
Não ousamos ser iguais e estranhamente não somos assim tão diferentes.
As armadilhas estão lá. Eu sei e eles sabem.
Temos as nossas rotas, que convergem sempre no mesmo local.
Nada nos impele a parar.
Sabemos que antes de atravessar a estrada, temos de olhar para ambos os lados.
Existem sons familiares que nos guiam e nos afastam das escarpas escondidas pela densa vegetação.
É como confiar que os abutres não tocarão na carcaça com uma Fé inabalável.
Sigo os lobos porque só eles conhecem o poder que uma alcateia pode ter.
Eles deixam que eu os siga, porque apenas um cordeiro sabe que a fragilidade não é uma imperfeição.
the perfect blend


domingo, 1 de julho de 2018

Até já...

Nos últimos quinze dias tenho trabalhado que nem um cão da lama.
Sem uma folga, sem um minuto durante o dia em que consiga parar.
Tem sido extenuante. Sinto-me correr os 100 metros em repeat.
Amanhã vou de Férias. Sinto que as mereço tanto.
Vou com o meu filho, as nossas primeiras Férias em que estaremos apenas os dois.
Serão quinze dias em que estaremos em comunhão.
Este mês ele faz 7 anos, cresceu tão depressa. Conversamos imenso sobre variadíssimos temas.
Faz-me sorrir com determinadas perguntas que me faz e cuja resposta por vezes é tão difícil de lhe dar.
Sinto uma disponibilidade enorme para com ele. Damos tanto um ao outro.
Tem estado de Férias com a mãe e chega hoje. Perguntei-lhe se estava preparado para ir de Férias novamente amanhã com o Papá; se não estava já farto de praia? Respondeu-me que não, que queria muito ir de Férias novamente.
Alguns colegas dele da Escola sentem inveja do Kukas porque os pais estão separados e assim ele tem Férias a dobrar. Alguns já disseram aos seus pais que eles também se deviam de separar para terem mais Férias.
Este ano tem sido de grandes mudanças, a todos os níveis.
Ao fim de 20 anos, estou sozinho e tem sido um processo de aprendizagem.
Mudei de casa, comprei uma onde sinto uma óptima energia.
Tinha uma relação de três anos que terminou em Janeiro e que no inicio me foi muito complicado lidar com essa separação.
Neste momento sinto que essa relação terminou na altura certa e tenho aproveitado os benefícios de estar sozinho e de me sentir em paz e tranquilo desta forma.
Na verdade não estou só. tenho alguém por quem sinto um Amor enorme, diferente de tudo aquilo que eu conhecia.
Temos a relação perfeita, porque não temos "uma relação".
É uma coisa tão nossa que não é sequer explicável.
Com esta pessoa aprendi o que é dar e receber em moldes iguais.
Os nossos momentos são especiais e enchem-nos de uma forma que nos bastamos quando estamos juntos.
Cresci bastante emocionalmente, o que me deu ferramentas de racionalidade que nunca tive.
Amanhã vou de Férias com a sensação de que não trocaria estes 15 dias com o meu filho por nada deste Mundo.
A minha banda sonora nos últimos dias

terça-feira, 19 de junho de 2018

So Fuckin Special

Depois de muitos anos, comecei a fazer coisas que eram importantes para mim. 
A Música é uma delas. Não tenho voz para cantar, mas fiz a minha versão do Creep dos Radiohead para desenferrujar.


quarta-feira, 13 de junho de 2018

"We have a Modern Love"


Confesso que estava nervoso quando ia no carro ter contigo para o nosso primeiro jantar.
Já nos conheciamos há tantos anos e nunca haviamos estado juntos.
Estavas linda e eu ao teu lado parecia um miúdo que acabara de chegar no seu skate.
O nervosismo desapareceu de imediato e de uma forma espontânea.
Ambos falávamos a mesma língua e isso deixou-nos de imediato à vontade.
Foi tudo tão rápido e ao mesmo tempo tão natural.
Passaram três meses e parece-me que foi há três dias.
Já falámos sobre isso, é como se nos conhecessemos desde sempre.
Temos a relação perfeita.
A Conversa nunca se esgota. Respeitamos os silêncios um do outro.
É um estranho, mas quente amor que nos une.
Os últimos meses não têm sido fáceis para ambos. Especialmente para ti.
Ainda assim sabemos que nos temos se necessitarmos.
Não precisamos de pedir seja aquilo que for um ao outro, porque ambos não precisamos de palavras para saber aquilo que o outro necessita.
Sabes que ficámos gravados a fogo um no outro?
Adoro a forma como não fazemos planos. Vivemos um dia de cada vez.
Conseguimos partilhar o mesmo espaço e estarmos juntos, ou sem darmos conta um do outro.
Tenho saudades de me acordares. És perfeita a fazê-lo.
Gostava de te poder dizer que tudo irá ficar bem, mas sabes que não te minto.
Aquilo que te posso prometer é que estarei cá da forma que quiseres que eu esteja. Como sempre foi até hoje.

Para o Cabé
Our thing


domingo, 10 de junho de 2018

Demasiado formal

Todas as células do teu corpo são indivisíveis.
É um defeito congênito, ou uma coincidência rara.
Nunca te agarras a nada que te pertença.
Eu sei que é propositado. Faz parte de um tipo de charme translúcido.
Claro que não sabes daquilo que estou a falar. Nunca estiveste atenta.
Escolhes sempre as estradas mais iluminadas para chegar aos destinos mais recôndidos.
A antítese da racionalidade elaborada.
Sim, porque eu sei. Sei tão bem.
Crias imagens falsas de falsos desejos.
Nao te iludas, até os cegos tèm a sua visão do Mundo.
As vezes em que gritei até quase te furar os tímpanos foram em vão, não me escutaste apesar de gritar até ficar sem voz.
As dúvidas que me assombravam afinal eram estéreis.
Tenho quase a certeza de que no dia em que nasceste, foi o dia em que comecei a definhar.
Não existe aqui culpa nem culpados.
Falo de alguém que nunca percebeu o significado do verbo alimentar.
Podia dar-te algumas pistas, mas nunca lá chegarias.
Estou a um passo de criar um novo conceito; perpetuar no Tempo as raízes de uma nova árvore de fruto.
Já não vais a tempo, já não tenho tempo.
De fora para dentro