quinta-feira, 6 de julho de 2017

Desapego

Como transformar o desapego em algo positivo? Para muitos significa afastamento, desligar, desistir.. Para mim desapego significa confiar, entregar, libertar.
Há uns tempos escrevi aqui um texto acerca do aconchego, da dedicação, da preocupação pela pessoa que está comigo. Da minha necessidade de estar sempre presente, mas esqueci-me de algo primordial; eu não posso viver a vida dos outros. Estar focado na outra pessoa, retira-me o foco em mim. Desapego é no fundo olhar em primeiro lugar para mim, entregar a responsabilidade das escolhas e do trajecto que o outro decidiu fazer e sobretudo confiar na sua capacidade de lidar com as suas coisas.
Desapego é deixar que a outra pessoa bata com a cabeça na parede se for essa a vontade dela e ter o kit de primeiros socorros para lhe tratar das feridas. Desapego é amar incondicionalmente, sem mudar a essência do outro.
Desapego é estar sem esforço e de uma forma invisível.

terça-feira, 4 de julho de 2017

Aquilo que eu mostro nem sempre é aquilo que sou

Hoje em conversa com uns amigos, disse-lhes que havia uma qualidade minha que eu prezava imenso e que era o facto de ter plena consciência dos meus defeitos. Não é algo congénito, é uma qualidade adquirida. Não acordei um dia e tive uma epifania. Foi um processo empírico. Olhar para dentro e perceber o quanto disfuncional consigo ser. Perceber que me é permitido errar, mas que não me é permitido perpetuar os erros. Esta consciência que hoje tenho dos meus defeitos obriga-me a lidar com eles e sobretudo a encontrar formas de os corrigir. Um dos maiores defeitos que eu tenho é (era) ter a presunção que sou óptimo a cuidar dos outros. Aprendi que sou péssimo a cuidar de mim e que mascaro essa minha dificuldade, tentando ser a rede que ampara as quedas daqueles que amo.
Tomei a decisão de me colocar em primeiro lugar, cuidar de mim, fortalecer-me mental e psicologicamente e só dessa forma conseguirei ter a força necessária para segurar a  rede que ampara aqueles que eu amo. Gostar mais de mim, não implica que goste menos dos outros. Olhar mais para mim é uma forma de tirar o peso de cima daqueles a quem eu de uma forma quase obsessiva tento carregar ao colo.
Não me basta ser uma boa pessoa, preciso de ser de uma forma contínua uma melhor pessoa e isso só é possível fazendo uma introspecção e alterar objectivos e comportamentos.
Outra coisa que percebi é que por vezes aquilo que eu considero ser o melhor para mim, não tem de ser necessariamente o melhor para os outros. Respeitar o espaço das outras pessoas não deveria de ser uma necessidade, tem de ser uma obrigação.
Sempre achei que era um tipo super forte e que aguentava tudo. Sou forte e aguento muita coisa, mas agora que parei um bocadinho para olhar para mim percebi que preciso de ajuda, não sou auto-suficiente e que até sou um pouco co-dependente e que as ferramentas que preciso para melhorar estão dentro de mim. O esforço tem de ser obrigatoriamente meu, mas também tendo consciência de que sozinho não sou capaz, não ter receio de pedir ajuda. Ajuda essa que não passa por me levarem ao colo, mas por me darem a mão se eu sozinho não conseguir percorrer esse caminho.
É engraçado como sabemos sempre aquilo que é o melhor para os outros, quando não fazemos a mínima ideia daquilo que é o melhor para nós.

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Eu acredito em anjos

Existem pessoas na nossa vida que até determinada altura são apenas pessoas que existem na nossa vida. Conhecêmo-las, convivemos com elas, rimos com elas; mas de repente chega um dia e percebemos que não conhecíamos de todo aquela pessoa.
Um dia precisamos de alguém e sem qualquer expectativa ou aviso, aparece-nos à frente aquela pessoa que tu nunca imaginaste o quanto ela teria guardado para ti. Sim, nem ela o sabia.
Existem pessoas que passam pelo pior e mesmo durante esse processo ainda conseguem dar-nos o melhor delas; sem pedir nada em troca, sem sequer se questionarem. Nesse dia descobres que existem pessoas maravilhosas, altruístas e que te agarram ao colo mesmo estando elas próprias num estado tão debilitado que possivelmente ainda precisam que a agarrem mais do que tu.
São estas pessoas que me fazem acreditar (ainda) no ser humano e que a guardarei para sempre no meu cantinho mais quente e acolhedor.
Espero um dia ser como esta pessoa, porque tenho tanto a aprender com ela.

Obrigado por me teres amparado, mesmo quando as tuas forças estavam no limite.

O Amor é um Filho da Puta

Acordas um dia em que tudo será normal. Vais trabalhar e no final regressas a casa, ao teu refúgio onde encontrarás o conforto de que tanto anseias.
No final do dia a Pessoa com quem vives e por quem tanto te apaixonaste diz-te que já não é feliz contigo. que quer ficar sozinha.
No Final do dia parte de ti morre ali no asfalto do parque de estacionamento .
Choras, imploras, humilhas-te, pretendes arranjar culpados, experimentas odiá-la...mas no final do dia ela continua a ser a mulher por quem estás irremediavelmente e arrebatadamente apaixonado.
A seguir vem o medo e o vazio. A esperança, mas acompanhada pela descrença.
O Amor é o maior dos enganos, a pior das drogas, o monstro mais atroz. O Amor enfraquece-nos, corroí-nos . É um Filho da puta que vem de mansinho, mas quando se vai parte tudo à sua volta, deixando-nos em cacos irremediavelmente recuperáveis.
O Amor será sempre o vilão disfarçado de herói .

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

Sporting e cocó

Ontem era dia de Sporting-Real Madrid para a Liga dos Campeões. Tinha tudo programado para fazer o jantar e às 19.45 horas sentar-me tranquilamente  no sofá a ver o jogo.
às 19:00 horas liga-me a mãe do Kukas a perguntar-me se ele podia dormir em minha casa. Claro que sim, respondi eu.

Alteração de planos, precisava de ir ao supermercado, dar banho ao Kukas e fazer o jantar até começar o jogo. Fui a correr ao Supermercado, cheguei a casa e comecei a preparar a refeição .
O Kukas veio ter comigo à cozinha informar-me que ia fazer cocó e que depois me chamava para lhe limpar o rabo.
Estou na cozinha e ele chama-me. 
Achei que tinha sido demasiado rápido, quando entro na casa de banho ele está com as mãos completamente cheias de merda. Foi um acidente papá,  dizia ele enquanto eu olhava para aquele quadro de miséria. Fui a correr à cozinha colocar o bico do fogão no mínimo, voltei a casa de banho para lhe lavar as mãos,  o sabonete líquido tinha acabado. Disse-lhe para não tocar com as mãos em nada, fui buscar gel de duche e lá lhe lavei as mãos.  Quis dar-lhe banho de seguida, mas ele ainda tinha mais cocó para fazer. Voltei para a cozinha e para o jantar. O Sporting entretanto já tinha começado.  Chamou-me e disse que já tinha feito cocó,  limpei-lhe o rabo e comecei a despi-lo para lhe dar banho. Começou a resmungar que já tinha tomado banho "no outro dia". Lá o convenci a entrar na banheira, mas queria a banheira cheia. Dei-lhe banho enquanto a banheira enchia e deixei-o lá depois a brincar dentro de água enquanto fui acabar o jantar.

Jantar pronto, volto à casa de banho para o tirar da banheira e quando la chego tudo o que era embalagens estava dentro da banheira, champoos,  gel de duche,  cremes hidratantes, um banco , etc.
Limpei-o, vesti-lhe o pijama e entretanto o jogo estava no intervalo.

Resumindo,  não faças planos que só da merda.





segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Adeus Pirata

No sábado à noite quando chegámos a casa o nosso chinchila pirata estava morto na sua gaiola. O Pirata foi um Presente de aniversário do Kukas.  Ficámos obviamente tristes, mas fiquei também sem saber como dar a notícia ao meu filho.

Este ano é o segundo animal de estimação que ele perde. Há uns meses foi a tartaruga que ele tinha em casa da mãe que morreu. 
Antes da confirmação do óbito da tartaruga, já ele um mês antes me tinha dito que ela estava morta dentro do aquário, eu questionei a mãe e ela disse-me que não estava morta, estava a hibernar.
Um dia em que fui entregar o Kukas em casa dela, ela pediu-me para eu ver a tartaruga, para lhe dar uma opinião se de facto estava a hibernar, ou se estaria efectivamente morta. Quando me trouxe o aquário para eu ver, lá estava ela a boiar, outrora verde e castanha e agora Branca, com uma das patas soltas a boiar ao seu lado. Eu disse-lhe que de facto o nosso filho há um mês atrás quando me disse que a tartaruga estava morta, já estava realmente morta, uma vez que já estava num elevado estado de decomposição. Perguntei-lhe se ela não tinha estranhado o facto do bicho não comer, não se mexer, ter mudado de cor e andar uma das patas a boiar ao lado dela. Repondeu-me que achava que estava a hibernar e que no verão voltaria ao estado normal.

Voltando ao chinchila,  hoje vou ter de dar uma explicação ao Kukas sobre o facto de ele já não se encontrar na gaiola. Estou hesitante em contar-lhe a verdade, ou dizer-lhe que ele fugiu, ou que os pais o vieram buscar. 
Também já pensei em comprar um igual e esperar que ele não note a diferença. 

Penso que o mais acertado será contar-lhe a verdade.  Por vezes temos de lidar com questões difíceis, será talvez mais acertado que ele lide com a morte do chinchila e eu cá estarei para lhe responder às perguntas que ele tenha para me fazer. 


quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Este é para a miúda

Um destes dias a miúda enviou-me um texto acerca das relações entre mulheres mais novas e homens mais velhos.  Sendo eu mais velho do que a miúda, li atentamente e identifiquei uma série de comportamentos entre a autora do texto e o seu namorado, que facilmente transportei até à minha relação.

O texto estava mais centrado no ponto de vista da autora e naquilo que diferenciava esta sua relação, de relações anteriores com homens da mesma idade.
Pus- me a pensar naquilo que tinha mudado em mim desde que namoro com a miúda. A verdade é que a minha última relação foi com uma mulher dez anos mais nova do que eu e era tão diferente daquela que eu tenho agora com a miúda.

Cheguei facilmente à conclusão de que se hoje em dia tenho uma relação em que me sinto completo, feliz e diferente; não é porque a miúda é mais nova, mas sim por ser especial e única.

Antes de me apaixonar por ela, apaixonei-me pela sua inteligência, pela maneira como ela olhava para o Mundo e sobretudo pela paz que ela me conseguia transmitir.

Foi uma das descobertas mais incríveis da minha vida. A cada dia havia algo novo que me fascinava nela. Era como se eu fosse construindo um puzzle às cegas sem ter qualquer vislumbre da imagem final. As peças apenas se iam encaixando aleatoriamente, mas sempre no sítio correcto.

A forma como os seus olhos mudavam de cor, sem que eu nunca tivesse noção de qual a cor verdadeira deles; o estado em que a cara dela ficava depois de ser atacada por milhares de melgas nos passeios que dávamos pelo jardim; como corou e fugiu depois de eu lhe ter roubado o primeiro beijo; ter- me deixado 3 horas à espera na primeira vez que saímos; como me apertava a cintura com força e encostava a cabeça dela na minha, enquanto atravessávamos a ponte sobre o Tejo quando fomos dar um passeio de Vespa.
Era inevitável que ficasse completamente arrebatado por esta miúda que punha tanta paixão naquilo que de mais importante queria para a vida dela.

Ela ensinou-me a não ter medo. A arriscar. Resgatou-me da letargia em que eu vivia. A miúda um dia decidiu que me iria salvar e salvou.

"O Inferno são os outros" e o meu inferno era eu próprio com o medo que sentia de arriscar e começar do zero. Foi ela quem agarrou a minha mão, me fez levantar e seguir por um outro caminho. Terei sempre essa dívida de gratidão para com ela.

Claro que também tenho noção daquilo que lhe fui dando ao longo deste tempo.  A minha dedicação, respeito, amizade, lealdade e muito amor. É este equilíbrio quase inconsciente que tem alimentado a nossa relação.

A minha miúda é especial não por ser mais nova, mas por ser única. Esta tem sido a aprendizagem que tenho tido desde que a conheço. Não sei se namorar com homens mais velhos ou mulheres mais novas tem vantagens, mas Namorar com a miúda tem sido a maior aventura da minha vida.