sábado, 8 de junho de 2019

Conta-me um segredo (2)

Entre o deve e o haver.
Poderíamos conjugar verbos indefinidamente. Sorver adjectivos compulsivamente.
Teríamos tempo. Bastante tempo.
Conseguiríamos abdicar das analogias.
Entre a Fé e a descrença.
Andaríamos de mãos dadas. Sempre com a Esperança de que o Passado não nos dividisse.
Seríamos um. Seríamos apenas os dois.
Entraríamos por qualquer porta livres de medo.
Entre a vida e a morte.
Escolheríamos sempre prolongar o Tempo. Acrescentar-lhe aço.
Iríamos para onde a brisa límpida das manhãs de Primavera nos levasse.
Sorriríamos porque é de sorrisos que nos alimentamos.
Entre o veneno e o antídoto.
Deixaríamos tudo aquilo que é tóxico. Não nos iríamos nunca render ao acessório.
Vestiríamos a farda de soldados disciplinados. Leais e destemidos.
Entre tudo aquilo que é nada.
Empunharíamos as nossas espadas, forjadas na lava de um vulcão. Indestrutíveis.
Combateríamos gigantes disfarçados de anões e no final não  nos renderíamos.

Entre ficar e partir existe o verbo parar. Depois e apenas depois vem o verbo decidir. 



It´s all here


3 comentários:

  1. Que delicia de texto. Que saudades eu tinha de ler um dos teus textos mais intimistas.
    Voltaste dos mortos Paper Cut? Espero que sim, porque regressaste em grande.
    Beijinhos.
    M.J.

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  2. Que murro no Estômago este texto. Identifico-me com cada frase. Obrigado Paper Cut.

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  3. Este texto é sobre resignação ou sobre esperança?
    Beijinhos PC

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