domingo, 16 de junho de 2019

2019 o ano da minha morte..

Ontem percebi que o ano de 2019 foi o ano da minha morte.
Que do Passado não quero guardar memórias, que no Futuro não existirei e que o Presente me começa a rasgar.
Ontem senti que já não sei lidar com metáforas, que me esqueci de todos os adjectivos e que começo a ser um Pleonasmo constante.
Funciono a corda e o mecanismo está a chegar ao fim.
Ontem não consegui chorar. Estou seco. Já não sinto a leveza dos entardeceres. Não me deslumbro com a luz que Lua cheia emana.
Sinto-me submerso em águas negras e não sentir medo significa que me resignei.
Ontem ouvi e não fui ouvido. Fui escrutinado sem direito a defesa.
Amarrado, amordaçado e injustiçado.
Não me assusta a morte nem sequer a vida. Tenho pavor da descrença, da maldade e da ingratidão.
Ontem dei uma queda enorme no meio de tantas pessoas. Ninguém me ajudou a levantar, porque neste momento sou invisível.
Também se morre de solidão, de vazio, de não pertencer.
Ontem não senti calor, nem frio. O meu termostáto avariou e com ele todos os meus sentidos.
Ando há tempos a largar pequenas migalhas como se de uma pista se tratasse. O vento leva-as, desaparecem e eu vou desaparecendo lentamente.
Ontem fui aquilo que nunca havia sido. Aquilo que nunca fui. O que nunca serei.
Já sai do Limbo e encontro-me neste momento no purgatório. Consciente.
Não foi o cansaço que me derrotou. Fui eu quem escolheu.
Ontem, quando percebi que este tinha sido o ano da minha morte, pela primeira vez percebi que o Tempo não nos gasta, somos nós quem desperdiça o Tempo.

nothing reaaly ends

sábado, 8 de junho de 2019

Conta-me um segredo (2)

Entre o deve e o haver.
Poderíamos conjugar verbos indefinidamente. Sorver adjectivos compulsivamente.
Teríamos tempo. Bastante tempo.
Conseguiríamos abdicar das analogias.
Entre a Fé e a descrença.
Andaríamos de mãos dadas. Sempre com a Esperança de que o Passado não nos dividisse.
Seríamos um. Seríamos apenas os dois.
Entraríamos por qualquer porta livres de medo.
Entre a vida e a morte.
Escolheríamos sempre prolongar o Tempo. Acrescentar-lhe aço.
Iríamos para onde a brisa límpida das manhãs de Primavera nos levasse.
Sorriríamos porque é de sorrisos que nos alimentamos.
Entre o veneno e o antídoto.
Deixaríamos tudo aquilo que é tóxico. Não nos iríamos nunca render ao acessório.
Vestiríamos a farda de soldados disciplinados. Leais e destemidos.
Entre tudo aquilo que é nada.
Empunharíamos as nossas espadas, forjadas na lava de um vulcão. Indestrutíveis.
Combateríamos gigantes disfarçados de anões e no final não  nos renderíamos.

Entre ficar e partir existe o verbo parar. Depois e apenas depois vem o verbo decidir. 



It´s all here


quarta-feira, 27 de março de 2019

Um ano do caralho

Faz um ano em que estivemos juntos pela primeira vez. Desde a nossa primeira noite nada mais foi igual na minha vida.
A nossa cumplicidade e o nosso Amor têm-me proporcionado momentos repletos de felicidade.
Somos tão diferentes, mas ao mesmo tempo Almas Gémeas. Enquanto uns lançam magia, nós lançamos o pânico.
Nunca mais nos separámos e as nossas viagens têm sido incríveis. Divertimo-nos de uma forma tão única. Somos casados, amantes, irmãos, amigos. Somos sempre aquilo que os outros esperam que sejamos, mas no fundo somos algo que só nós sabemos.
Dizemos imensas asneiras, vamos a Festas de crianças, mesmo quando as minis não são Sagres e temos de fazer o sacrificio de beber Super Bock. Vais-me buscar à cama do jardineiro, quando me engano no quarto e me deito ao lado dele.
Tem sido uma aventura fantástica.
Obrigado por fazeres parte da minha vida.



quarta-feira, 9 de janeiro de 2019

O ano de 2018 revisto muito resumidamente (maldita preguiça)

Há muito que não escrevo. Não me tem apetecido. Pura preguiça.
Tenho recebido alguns e-mails onde me perguntam se está tudo bem comigo e qual a razão pela qual não tenho escrito.
Tendo já respondido a uma das questões, irei de seguida responder à outra.
Estou óptimo, feliz e sobretudo em paz.
Faz precisamente um ano em que tudo mudou.
Em Janeiro de 2018 senti a minha Vida desmoronar-se literalmente.Se hoje mais do que Fé, tenho certezas, há um ano senti-me mergulhado em areias movediças. Sem retorno. Sem perpectivas de haver uma corda à qual me agarrar.
Durante a minha existência já tive de recomeçar algumas vezes. Fazer reset e manter a cabeça à tona, mesmo com pedras atadas às minhas pernas.
Passei por uma fase de uma tristeza sombria e gelada, depois de descrença, de raiva e confesso que amaldiçoei o Universo por ser tão filho da Puta.
Na noite de 06 de Março de 2018 foi quando tudo começou a mudar e alguém me atirou uma corda onde me agarrar.
Sozinho não teria sido capaz de sair dalí. Uma simples mensagem enviada em completo desespero, foi sem eu na altura ter noção o meu salto de Fé.
Alguém me puxou e até ao dia de hoje não mais saiu da minha vida.
A partir daquele dia nada mais foi igual.
Não sabia eu ainda que uns meses mais tarde seria eu a atirar uma bóia de salvação a essa Pessoa.
Não é que o filho da puta do Universo tem uma noção de equilíbrio e de Justiça único?!
O ano de 2018 acabou por ser um dos piores anos das nossas vidas, mas também um dos melhores.
O teu fardo foi bem maior do que o meu; mas tenho a certeza que a minha presença acabou por aliviar um pouco o peso que tiveste de carregar.
Este ano vamos comemorar o dia 6 de Março com um piquenique no Central Park. Não vejo melhor forma de reavivar esta data tão importante.
A segunda metade de 2018 foi fantástica. Fiz a viagem da minha vida. Marcou-me imenso (fisicamente também; ainda tenho as marcas das rochas do Malecon na minha pele). Conheci lugares mágicos, pessoas fantásticas, que confiavam cegamente em nós para as levarmos para aqueles sítios nada turísticos e ficavam deslumbradas pela nossa conexão.
Acrescentei outras Pessoas cujo carinho tanto me enche.
Fiz o meu luto e estou com alguém que me faz tanto sentido.
2018 acabou por ser o meu ano. Evoluí tanto. Estou agora rodeado de boas energias.
Aprendi também que nem sempre se deve desculpar. Existem pessoas tóxicas que nos fazem mal e a quem não devemos dar a outra face. Isto tem o nome de sobrevivência.
Não esquecer o bem que nos fazem, mas também não olvidar o mal que nos causam.
Fazendo uma retrospectiva lúcida, os erros que cometi prejudicaram-me sobretudo a mim. Investi tudo numa relação e esqueci-me de que sou eu a base do meu equilíbrio.
O mais curioso é que quando essa relação terminou, foi-me dada a oportunidade de olhar para dentro e fazer as coisas de forma diferente. Claro que não o percebi logo.
Sustentar o nosso bem estar através de alguém, não só é um erro crasso, como confere uma enorme responsabilidade à outra pessoa. É uma forma de egoísmo (no meu caso) inconsciente, que provoca mazelas e que desgasta.
Podemos dar tudo, não temos é o direito de pensar que a outra pessoa fica obrigada contratualmente a corresponder às nossas expectativas. Especialmente quando nada nos exigem.
Por outro lado também me senti muito magoado com algums atitudes. Fui acusado de coisas horríveis injustamente, quando apesar das minhas lacunas, existem barreiras que eu não transponho. Felizmente tive alguém do meu lado que presenciou in loco essas injustiças e que sabia que não passavam disso; de graves injustiças.
Tenho também de falar da gratidão que sinto pelos amigos que já tinha e que sempre estiveram disponíveis para mim, apesar de muitas vezes eu me afastar; e pelos novos que ganhei durante o ano de 2018, que me encheram e enchem de carinho e me provocam sorrisos constantes.
Para o final deixei a pessoa mais importante, aquele que me ama de uma forma incondicional e que me proporciona momentos únicos de felicidade. O meu Filho.
Está a crescer tão bem, as pessoas que me rodeiam sentem tanto carinho por ele que por vezes me emociono pela forma como se relacionam com ele.
Foi-lhe agora diagnosticada dislexia, algo que eu e a mãe dele já suspeitávamos. Tem tido algumas dificuldades na Escola devido a este problema e temos trabalhado imenso com ele, para tentar minimizar o desconforto e a dificuldade que ele sente.
É uma criança tão meiga e com um sentido de adaptação que me enche de orgulho.
Um bom 2019 para todos e que eu consiga trilhar o meu percurso este ano da mesma forma como terminei 2018.
Abandonado para poder ser resgatado

sábado, 20 de outubro de 2018

A miúda que escolheu o sapo em vez do Príncipe.

Ontem quando te telefonei para te convidar a vir a minha casa para assistires ao video que fiz das minhas últimas Férias, por mais estranho que pudesse parecer à generalidade das Pessoas, não senti que estivesse a correr qualquer risco.
Tu melhor que ninguém sabes que gosto de correr riscos. Não aqueles calculados. Por isso o meu convite teve unicamente a ver com partilha.
Eu sei que aquilo que irias ver não te iria em nada surpreender. Conheces-me demasiado bem.
A nossa relação sempre foi pautada pelo respeito e é por isso que ontem tive uma das melhores noites dos últimos tempos. A nossa cumplicidade é, sempre foi genuína.
Conheces tão bem a minha essência, que se eu te tivesse contado o contrário daquilo que ontem viste, nunca irias acreditar em mim; e é exactamente isso que faz de ti uma pessoa tão especial.
Fala-se tanto de aceitação, mas pratica-se tão pouco.
Enquanto assistíamos os três ao vídeo, nas imagens mais fortes eu olhava para ti e via o teu sorriso, de quem sabe que aquele maluco é exactamente assim e que precisa de toda aquela adrenalina para ser verdadeiramente feliz.
Tenho noção que não incentivas, mas também não julgas e que se for preciso serás a primeira a amparar-me a queda.
Viste como fui feliz nestas Férias e senti da tua parte uma felicidade genuína por o teres presenciado e sentido.
O resto da noite foi perfeito e só quando recebi aquele telefonema do outro lado do Atlântico é que percebemos que o relógio se tinha adiantado a nós e que eu estava quase a ir trabalhar.
A sms que me enviaste enquanto ainda estavas comigo, deixou-me a sorrir como um tolinho.
As minhas próximas férias, serão também as tuas. Sabes que serão diferentes daquelas que tens tido, mas também sei que o desejas tanto quanto eu.
Confesso-te também que hoje me alegrou ter-te oferecido três desejos e tu teres guardado um deles. Afinal não se devem desperdiçar desejos, já que são tão sagrados. Eu já tinha concretizado um dos que me ofereceste e hoje concretizei o segundo. O outro também irei guardar.
Tenho a certeza de que a noite de ontem ainda nos aproximou mais e estou radiante porque sei que hoje estarei novamente contigo.
Já quase que sei dizer o teu nome e isso também me enche de orgulho. Tu és paciente e sabes que lá chegarei.
Até já miúda gira...

Everything I Am Is Yours

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Cesto de vime.

A Felicidade pode ser servida em gramas.
Queremos quilos dela e não nos apercebemos que ela cabe num grão de areia.
Andaremos demasiado distraídos, ou em negação?
É tão mais fácil deixarmo-nos levar pela corrente, do que lutar contra ela.
Ainda assim, preferimos na maior parte das vezes remar contra algo que afinal apenas nos está a levar para terra segura.
É a nossa dificuldade em aceitar o desconhecido.
Querermos controlar o incontrolável.
Não existem Vidas vazias.
Existem Corpos vazios. Despojados de Alma.
A Alma é uma semente que tem de ser alimentada para germinar e florescer.
Quantas vezes nos esquecemos de a regar.
Somos preguiçosos congénitos, que estamos sempre à espera que alguém se lembre que existimos.
Valorizamos o acessório e perdemo-nos na estrada que nos levaria ao essencial.
Somos feitos de ferro forjado, mas sentimo-nos como que de cristal.
Obstinados, incongruentes e ao mesmo tempo conformados.
A antítese do Ser sumptuoso que deveria de aflorar em cada um de nós.
Odeio tudo aquilo que é definitivo.
Desprezo aqueles que ferem crianças com o seu egocentrismo e com uma frieza assustadora.
Adoro as crianças porque só elas conhecem o amor incondicional e só elas ficam confusas quando de repente os adultos que elas veneram se afastam sem olharem para trás.
Com os anos tenho aprendido a não perdoar e faz-me tanto sentido porque existem actos que não se podem perdoar.
Comecei por falar de Felicidade..




Diz?

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Sem sonda.

Ainda me recordo de ser alimentado através de uma sonda. Não foi assim há tanto tempo. Porém existem várias formas de medir o Tempo. Apesar desta recordação ser tão próxima, tenho a sensação de que o Tempo se foi desdobrando e acrescentando mais tempo, parecendo dessa forma que algo tão recente se tenha transformado numa memória ténue fruto de um Passado longínquo.
Parecia tudo tão mais fácil, sem exigir grande esforço. 
Limitava-me a deixar que o alimento viesse até mim sem ter sequer de o mastigar.
À distância percebo que tudo estava errado. Que a letargia à qual me entreguei e que me parecia tão confortável, era na verdade um muro revestido a arame farpado que não me permitia ver aquilo que estava para além dele.
Não havia dor. Não havia angústia. 
Aquilo que existia era na verdade uma realidade disfarçada pela necessidade que eu tinha em acreditar que o Paraíso terminava onde começava o muro e que por detrás dele apenas deserto.
Quando me retiraram a sonda, veio o pânico, a dificuldade em aceitar que me conseguiria alimentar sozinho, sem o auxílio de algo externo.
Eu não sabia, mas consegue-se aprender a mastigar de novo. 
Foi um processo que para mim exigiu um esforço enorme, mas que gradualmente me tem proporcionado manjares divinais que provocam fogo de artifício no meu palato.
Comigo teve de ser à bruta. Talvez fosse mesmo a única forma. 
Hoje não saio de casa sem fazer o meu café de saco, as minhas duas torradas com queijo da ilha e fiambre, os meus 3 ovos mexidos e sentar-me à mesa a desfrutar da minha primeira refeição do dia. Deixei de correr, de sair à pressa com um bocado de pão na mão e comê-lo apressadamente, sem sequer lhe sentir o sabor.
O melhor de tudo é que quando me sento de manhã naquela mesa, não me sinto só. Deixo-me levar pelo prazer que o alimento que hoje eu preparo para mim com tanto afinco, me proporciona.

Nunca é tarde demais para recomeçar. A dor e a angústia têm vindo a ser substituídas por algo novo, uma ementa de novos sabores com ingredientes cuidadosamente selecionados
Enter and close the door.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Epitáfio.

Esta noite tive um sonho estranhíssimo.
Sonhei com todas as pessoas que já conheci ao longo da minha vida. Algumas já nem me recordava delas.
Foi bastante intenso, na medida em que consegui meter num sonho centenas de pessoas com as quais ia falando.
Quando acordei fui pesquisar acerca deste tipo de sonhos.
Li algures que pode ser um pronúncio de morte. Se for isso é chato porque tenho roupa para lavar e estender.
Para me precaver e se de facto o senhor de capa negra com capuz e de foice me vier buscar, quero deixar aqui alguns desejos de forma a que me sejam satisfeitos.
Não quero velório. Quero que o meu corpo siga directamente da morgue para o Crematório e depois de cremado que com as minhas cinzas fertilizem um canteiro de alfazema.
Não quero que ninguém acompanhe a cerimónia fúnebre. 
Na noite do suposto velório (que não irá acontecer), quero que os meus amigos se reúnam numa sala e assistam a alguns dos Filmes da minha vida:

Der Himmel über Berlin, do Wim Wenders.
- Shame, do Steve McQueen.
- Paris Texas, também do Wim Wenders.
- Fallen Angels, do Kar-Wai Wong
- Lost in Translation da Sofia Coppola.
 Se ainda houver resistentes que não tenham adormecido, gostava que vissem também o Clockwork Orange do Kubrick.

No dia da minha cremação e durante o processo da mesma quero ter banda sonora.
Deixo portanto aqui uma playlist:

- Wanderer, da Cat Power.
- My ideal, do Chet Baker.
- Frosted Candy,dos We are the Muffy.
- Racing like a Pro, dos The National.
- Distant Sky ( de preferência a versão ao vivo no Concerto de Copenhaga) do Nick Cave.
- Sesame Syrup, dos Cigarettes After Sex.
- Melody Noir, do Patrick Watson.
- Dark Saturday, dos Metric.
- The Whole Summer, do Lo-Fang.
-Pensa bem, da Joana Espadinha.
-Put Your Money on Me, dos Arcade fire.
-With Animals, do Mark Lanegan.
-Cactus, dos Teleman.
-Get Your Shirt, dos Underworld com o Iggy Pop.
-.Alabama Song, do David Bowie.
-Nature Boy, do Jonh Coltrane.
-Solitude, da Martina Topley-Bird.
-Catch, dos The Cure.
-Pink Rabbits, dos The National.
-Cure for Pain, dos Morphine.
-Decades, dos Joy Division.
-This Old House, dos Madrugada.
-I Am the Cosmos, do Pete Yorn.
-Boys Don´t Cry, dos The Cure.
-Funnel of Love, dos SQURL.
-Heroes e Ashes to Ashes do david Bowie para finalizar.

Se não respeitarem estes meus desejos condeno-vos a todos a uma vida miserável, onde a Maria Leal estará sempre presente até ao final dos vossos dias.



quarta-feira, 18 de julho de 2018

Non(sense)

Cansei-me de experimentar novas fragrâncias.
Nenhuma delas me levou até ti.
Já não me recordo do teu cheiro, tenho-o procurado por onde passo na esperança de o reconhecer.
Deixaste-me quase nada.
Criaste em mim um vazio etéreo que não consigo preencher.
A multidão é demasiado vasta e o esforço para te encontrar demasiado pesado.
Ainda me recordo de algumas coisas.
Do sorriso nada fácil, do inconformismo tão premente e do vácuo que o teu olhar originava.
Lembro-me de ti como uma silhueta no chão de calçada gasta pelos passos apressados de quem não consegue parar para simplesmente contemplar.
O meu GPS diz-me para seguir em frente e quando chegar à bifurcação virar à esquerda.
Quando finalmente lá chego é obrigatório virar à direita.
Desligo-o e sigo o meu instinto.
Sigo o meu instinto e lentamente sinto-me a desligar.
Devia de ter deixado um rasto de pedaços de fotografias rasgadas para não me perder.
Queimei-as, destruí-as e agora não me resta nada que me oriente.
Paradoxalmente sinto que não quero regressar.
Que estar perdido me permite descobrir novos caminhos, novos rostos, novas demandas.
Já não é sobre ti.
Aquilo que sobrou foram algumas gramas de cinzas que lentamente vão sendo levadas pela brisa destas manhãs de Verão.
Tenho uma prateleira vazia de troféus e repleta de pó.
Chegou a hora de começar a respirar sem o auxílio de uma máquina.
Alguém que a desligue por favor.
Já consigo respirar sózinho.


once upon a time



terça-feira, 17 de julho de 2018

Fogo- fátuo

Li atentamente tudo aquilo que escreveste nas tuas mensagens.
Denoto alguma mágoa e alguma culpa. Como se tu devesses controlar o efeito causado pelo vírus que assombrava e minava tudo aquilo em que acreditavas.
Penso mesmo que aguentaste até onde conseguiste aguentar e sei que não deve ter sido nada fácil lidar com aquilo que esse vírus silencioso ia destruindo.
Identifico-me com essa impotência de controlar as emoções.
Talvez não exista culpa, mas somos aquilo que vivemos e aquilo que recebemos.
Sei o que são olhares vazios e silêncios ruidosos.
Sentiste-os?
Percebes agora que afinal não estavas assim tão enganada?
Que o Tempo, esse gajo estranho, acabou por te dar razão?
Durante a vossa estória aquilo que tiveste nas tuas mão não passava de um fogo-fátuo.
Por hábito, ou por defeito não conseguimos compreender aquilo que não controlamos.
Nada daquilo que aqui escrevi apazigua a angústia, a incerteza e sobretudo a esperança.
Perdermo-nos a olhar pelos olhos dos outros e  questionar aquilo que os nossos olhos vislumbram, é tão usual.
Espero que consigas seguir em frente com a certeza de que nada estava nas tuas mãos.
Nunca esteve.

Reticências