segunda-feira, 9 de julho de 2018

(Im)perfeição

Jamais me queixarei de ter optado ser Cordeiro e viver no meio dos lobos.
Como a erva e deixo-lhes a carne.
Sou carne tenra que os lobos não tocam.
Somos azeite e vinagre. Complementamo-nos sem nos misturarmos.
Essa harmonia conquistámo-la.
A nossa sede e a nossa fome é repartida em partes desiguais.
Sem atropelos, caminhamos numa formação pré-estabelecida.
Não ousamos ser iguais e estranhamente não somos assim tão diferentes.
As armadilhas estão lá. Eu sei e eles sabem.
Temos as nossas rotas, que convergem sempre no mesmo local.
Nada nos impele a parar.
Sabemos que antes de atravessar a estrada, temos de olhar para ambos os lados.
Existem sons familiares que nos guiam e nos afastam das escarpas escondidas pela densa vegetação.
É como confiar que os abutres não tocarão na carcaça com uma Fé inabalável.
Sigo os lobos porque só eles conhecem o poder que uma alcateia pode ter.
Eles deixam que eu os siga, porque apenas um cordeiro sabe que a fragilidade não é uma imperfeição.
the perfect blend


domingo, 1 de julho de 2018

Até já...

Nos últimos quinze dias tenho trabalhado que nem um cão da lama.
Sem uma folga, sem um minuto durante o dia em que consiga parar.
Tem sido extenuante. Sinto-me correr os 100 metros em repeat.
Amanhã vou de Férias. Sinto que as mereço tanto.
Vou com o meu filho, as nossas primeiras Férias em que estaremos apenas os dois.
Serão quinze dias em que estaremos em comunhão.
Este mês ele faz 7 anos, cresceu tão depressa. Conversamos imenso sobre variadíssimos temas.
Faz-me sorrir com determinadas perguntas que me faz e cuja resposta por vezes é tão difícil de lhe dar.
Sinto uma disponibilidade enorme para com ele. Damos tanto um ao outro.
Tem estado de Férias com a mãe e chega hoje. Perguntei-lhe se estava preparado para ir de Férias novamente amanhã com o Papá; se não estava já farto de praia? Respondeu-me que não, que queria muito ir de Férias novamente.
Alguns colegas dele da Escola sentem inveja do Kukas porque os pais estão separados e assim ele tem Férias a dobrar. Alguns já disseram aos seus pais que eles também se deviam de separar para terem mais Férias.
Este ano tem sido de grandes mudanças, a todos os níveis.
Ao fim de 20 anos, estou sozinho e tem sido um processo de aprendizagem.
Mudei de casa, comprei uma onde sinto uma óptima energia.
Tinha uma relação de três anos que terminou em Janeiro e que no inicio me foi muito complicado lidar com essa separação.
Neste momento sinto que essa relação terminou na altura certa e tenho aproveitado os benefícios de estar sozinho e de me sentir em paz e tranquilo desta forma.
Na verdade não estou só. tenho alguém por quem sinto um Amor enorme, diferente de tudo aquilo que eu conhecia.
Temos a relação perfeita, porque não temos "uma relação".
É uma coisa tão nossa que não é sequer explicável.
Com esta pessoa aprendi o que é dar e receber em moldes iguais.
Os nossos momentos são especiais e enchem-nos de uma forma que nos bastamos quando estamos juntos.
Cresci bastante emocionalmente, o que me deu ferramentas de racionalidade que nunca tive.
Amanhã vou de Férias com a sensação de que não trocaria estes 15 dias com o meu filho por nada deste Mundo.
A minha banda sonora nos últimos dias

terça-feira, 19 de junho de 2018

So Fuckin Special

Depois de muitos anos, comecei a fazer coisas que eram importantes para mim. 
A Música é uma delas. Não tenho voz para cantar, mas fiz a minha versão do Creep dos Radiohead para desenferrujar.


quarta-feira, 13 de junho de 2018

"We have a Modern Love"


Confesso que estava nervoso quando ia no carro ter contigo para o nosso primeiro jantar.
Já nos conheciamos há tantos anos e nunca haviamos estado juntos.
Estavas linda e eu ao teu lado parecia um miúdo que acabara de chegar no seu skate.
O nervosismo desapareceu de imediato e de uma forma espontânea.
Ambos falávamos a mesma língua e isso deixou-nos de imediato à vontade.
Foi tudo tão rápido e ao mesmo tempo tão natural.
Passaram três meses e parece-me que foi há três dias.
Já falámos sobre isso, é como se nos conhecessemos desde sempre.
Temos a relação perfeita.
A Conversa nunca se esgota. Respeitamos os silêncios um do outro.
É um estranho, mas quente amor que nos une.
Os últimos meses não têm sido fáceis para ambos. Especialmente para ti.
Ainda assim sabemos que nos temos se necessitarmos.
Não precisamos de pedir seja aquilo que for um ao outro, porque ambos não precisamos de palavras para saber aquilo que o outro necessita.
Sabes que ficámos gravados a fogo um no outro?
Adoro a forma como não fazemos planos. Vivemos um dia de cada vez.
Conseguimos partilhar o mesmo espaço e estarmos juntos, ou sem darmos conta um do outro.
Tenho saudades de me acordares. És perfeita a fazê-lo.
Gostava de te poder dizer que tudo irá ficar bem, mas sabes que não te minto.
Aquilo que te posso prometer é que estarei cá da forma que quiseres que eu esteja. Como sempre foi até hoje.

Para o Cabé
Our thing


domingo, 10 de junho de 2018

Demasiado formal

Todas as células do teu corpo são indivisíveis.
É um defeito congênito, ou uma coincidência rara.
Nunca te agarras a nada que te pertença.
Eu sei que é propositado. Faz parte de um tipo de charme translúcido.
Claro que não sabes daquilo que estou a falar. Nunca estiveste atenta.
Escolhes sempre as estradas mais iluminadas para chegar aos destinos mais recôndidos.
A antítese da racionalidade elaborada.
Sim, porque eu sei. Sei tão bem.
Crias imagens falsas de falsos desejos.
Nao te iludas, até os cegos tèm a sua visão do Mundo.
As vezes em que gritei até quase te furar os tímpanos foram em vão, não me escutaste apesar de gritar até ficar sem voz.
As dúvidas que me assombravam afinal eram estéreis.
Tenho quase a certeza de que no dia em que nasceste, foi o dia em que comecei a definhar.
Não existe aqui culpa nem culpados.
Falo de alguém que nunca percebeu o significado do verbo alimentar.
Podia dar-te algumas pistas, mas nunca lá chegarias.
Estou a um passo de criar um novo conceito; perpetuar no Tempo as raízes de uma nova árvore de fruto.
Já não vais a tempo, já não tenho tempo.
De fora para dentro

Super-Herói

Esta noite recebi uma lição gigante do meu filho de seis anos.
Quando nos preparávamos para adormecer o Kukas desatou a chorar. Assim do nada.
Perguntei-lhe porque chorava, se lhe doía algo?
Respondeu-me entre soluços que estava a ter um pensamento mau.
-Que pensamento mau estás a ter filho?
-Que o Papá pode ficar doente e morrer, respondeu-me ele.
Abracei-o e disse-lhe que tinha um segredo para lhe contar, mas que ele não podia dizer a ninguém.
Acenou que sim e perguntou-me qual era o segredo.
-Olha filho, não podes dizer a ninguém, mas o Papá é um Super Herói muito forte e nunca irá ficar doente. Vou é ficar velhinho, mas estarei sempre ao teu lado.
Agarrou-se com força ao meu pescoço e assim adormeceu em paz.
Recebi ontem uma lição de Amor incondicional de uma criança de seis anos.
Escrevo aqui imensas vezes sobre o Amor e chego à conclusão que o meu puto compreende-o muito melhor do que eu.
Não existe maior declaração do que esta. Isto é que é Amor, tudo o resto são engodos que as nossas cabeças nos lançam.
Não existe maior pureza e verdade do que o medo de uma criança de seis anos perder o seu pai e isso ser uma fonte de angústia para ela.
Irei ser um Super-Herói e cumprir a promessa que fiz esta noite ao meu filho. 

Hoje sinto-me inebriado de Amor, carinho e Paixão.

sábado, 9 de junho de 2018

100%

Se todos os sonhos se concretizassem, deixaríamos de sonhar.
A beleza está na incerteza. No desejo de algo intenso pelo qual ansiamos.
Existe uma fronteira entre aquilo que é transcendente e a transcendência da inevitabilidade
Tememos o que é efêmero, mas prolongamos a agonia infinita da dor auto-infligida.
Tenho a certeza daquilo que não quero e ainda assim não me desvio do caminho.
Uma demanda masoquista da qual não consigo(não quero) fugir.
São os filhos da puta dos sonhos.
Não são os culpados, são o veículo que escolhi para mim.
Quando faço uma restrospectiva lúcida chego sempre à mesma conclusão; nada faria diferente.
Tenho aprendido à bruta. É assim que funciono.
Nada pela metade. Sofrer faz parte do processo.
São os cabrões dos sonhos.
Quando espetei pela primeira vez uma agulha na minha veia, sabia perfeitamente onde aquele gesto me ia levar.
Quando arrisquei todo o dinheiro que tinha numa mesa de casino, tinha a noção de que podia perder tudo.
Quando me entreguei sem reservas a alguém, fi-lo de olhos abertos.
São a merda dos sonhos..
Tenho algumas feridas ainda abertas, mas milhares de cicatrizes.
Cada cicatriz baptizada com um nome.
A minha Alma nunca passou fome. Nunca passou sede. Tenho-lhe oferecido banquetes contínuos.
Quantos de vós já arriscaram verdadeiramente?
Sabendo que podem perder tudo.
Não consigo viver de migalhas.
São a porra dos sonhos.

Sad true

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Adenda

Possuis o mapa de todas as minhas feridas por cicatrizar. Aproveitas-te dele para continuares a tocar-lhes de forma a que não cicatrizem.
Tudo aquilo que me pedes, é tudo aquilo que não me dás.
Crias em mim uma mágoa que se vai alimentando em vez de definhar.
Existem as tuas verdades, as minhas verdades e a verdade Universal.
Percebo que para ti é mais fácil fechares-te nas tuas. Penso mesmo que inconscientemente te apazigua alguma culpa. Porque a culpa é transversal aos dois.
É-me tão fácil aceitar a minha e lidar com ela; já tu usas a minha para desculpar a tua.
A imagem que criaste de mim não é real e eu não posso, não devo, não aceito e não me revejo nela.
Sou muito mais do que aquilo que vês. Na realidade, nunca fizeste um esforço para perceber isso, porque o teu foco foste sempre tu. 
Dizes-me que darias um rim por mim, pois eu daria o meu coração por ti. Sem pestanejar.
Sei muito mais sobre o Futuro do que tu. Sei porque apesar de pensares o contrário e apesar de toda a minha loucura, estou mais lúcido do que tu. 
Adoras usar a palavra confiança, mas devemos valorizar as palavras conhecendo-lhes o sentido.
Devias aprender mais sobre Justiça. Não devemos julgar ninguém, sem pelo menos dar-lhe a hipótese de se defender. Fazes justiça pelas tuas próprias mãos e isso é algo tão injusto e de um enorme egocêntrismo.
Existem pessoas que não se conhecem a elas próprias (passe o pleonasmo) e tu és uma dessas pessoas. 
Estás formatada num circuíto fechado que não permite actualizações. Cresce-se mais lentamente dessa forma, mas tu és inteligente e já devias ter chegado a essa conclusão.
Corrompes continuamente aquilo em que julgas acreditar e mais uma vez não te dás conta.
Sei por experiência própria de que um dia irás aprender da pior da forma.
Conheço-te demasiado bem para o saber. Entretanto vais tendo momentos de êxtase que se vão desvanescendo até se transformarem em angústia. Durante o processo a culpa será sempre dos outros. Foi assim no Passado e será assim no Futuro. É a tua essência.
Aquilo que te causava insatisfação no Passado, de repente já não te macera no Presente.
Adoras monólogos, precisas deles como o ar que respiras, porque assim não terás de ouvir coisas que não vão de encontro aquilo em que (falsamente) acreditas. 
Talvez não tenhas culpa de sofrer de surdez selectiva, mas deixa-me dar-te uma novidade; esse tipo de surdez tem cura.
Este texto faz-me sentir tão vazio que não lhe consigo colocar uma foto ou uma música.
Isto não é um desabafo, é um grito de revolta.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Documentários em sonhos

Hoje sonhei com a migração das sardinhas. Todos os anos em Junho vão da África do Sul até à Antártica, formando cardumes com cerca de 13km de comprimento, percorrendo milhares de kilómetros. Foi um sonho ao nível do National Geographic. O conteúdo do sonho em si é irrelevante. Quando acordei senti uma leveza enorme, não sonhei com nada abstrato, pesado, ou com mensagens subliminares. Sonhei com sardinhas. Finalmente começo a ter noites tranquilas, sem desgaste, sem angústia, sem auto-comiseração. Tão bom quando nos livramos daquilo que nos faz mal. Que nos inflige dor e culpa camuflada. Espero esta noite sonhar com a Indústria de Curtumes Norueguesa e o seu impacto na Economia local.
Banda sonora para a viagem das sardinhas

domingo, 3 de junho de 2018

A caneta

Entre todas as coisas que possuía, havia uma que lhe era sagrada. Uma velha caneta alimentada por um tinteiro.
Foi com ela que ele escreveu o seu primeiro poema. Passaram tantos anos que o poema se perdeu no Tempo e no espaço.
Apenas se recorda do nome: "Moléculas de veludo".
Lembra-se que não retratava nenhum Amor, porque quando o escreveu ainda não o havia conhecido.
Nele falava sobre um miúdo que sentia imenso medo. Havia algo naquele miúdo que lhe causava um enorme pavor; a expectativa. Queria saber tudo acerca de tudo e não conseguia controlar esse ímpeto que o impelia a ser um Ser insatisfeito e compulsivo.
Era um Poema quase tridimensional. A tinta no papel ganhava vida e as letras transformavam-se uma a uma em pontos de interrogação.
Estava algures entre a fragilidade dos sentidos e a certeza de que o inconformismo era a estrada a percorrer.
Um pedido de ajuda, na minha opinião. Uma tomada de posição, na opinião do miúdo.
O Poema perdeu-se, o miúdo perdeu-se, o homem que foi um dia miúdo encontrou-se e percebeu que a expectativa é a estrada secundária da mentira.
Golden Ticket