quinta-feira, 3 de novembro de 2016

O cansaço também é permitido às Quintas feiras

Decidi que hoje me irei permitir a sentir cansado. Reservo-me a esse direito sem qualquer problema de consciência.

Trabalho das 09:00 horas às 18.00 horas, com dois fins de semana por mês apenas de folga.
 Tenho de lidar com a minha ex-mulher, que neste momento anda obcecada com piolhos. Já gastou três frascos de produtos diferentes para matar os supostos piolhos que o Kukas tem e que eu teimo em não os conseguir ver. Tenho receio que o puto ande a ficar intoxicado com tanto produto anti-piolhos. Já me informou que no fim de semana lhe vai cortar o cabelo rente.

Sinto-me cansado por ter tomado a decisão de deixar de fumar e não conseguir dormir de noite devido à ansiedade que sinto da privação dos cigarros.

Sinto-me cansado por ter de andar a correr depois de sair do trabalho para ir buscar o Kukas ao Colégio, ter tempo para ele, fazer o jantar, dar um jeito à casa, limpar o cocó das gatas e entregar o miúdo à mãe nos dias em que não fica comigo.

Sinto-me cansado porque estou a fazer um tratamento a um problema de saúde que me acompanha há muitos anos e que me quebra um pouco. Além de que ultimamente também  ando com tonturas e fui medicado com uns comprimidos que aparentemente não fazem efeito.

Sinto-me cansado porque um dos meus melhores amigos está com graves problemas e eu comprometi-me com ele a tirar três noites por semana para o ajudar.

Sinto-me cansado porque também assumi um compromisso quinzenal com uma Comunidade que distribui comida e roupa pelos sem abrigo de Lisboa, que me ocupa duas noites de Domingo mensais onde a miséria que vejo e com que lido me deixa abatido e frustrado .

Além do cansaço, sinto um peso enorme sobre os meus ombros, peso esse que ainda me deixa mais cansado.

Hoje sinto-me cansado, mas também com a consciência de que nada faria diferente.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

Porto de abrigo

Hoje acordei com uma vontade imensa de aqui estar, neste pedaço de Paraíso. Respirar o ar que só aqui se respira, sentir os cheiros que aqui abundam. Acordei nostálgico, sem vontade de estar em qualquer outro lugar senão aqui. Existem dias em que lugar nenhum nos pertence, mas em que existe um pedaço do Mundo onde nos podemos refugiar porque lá nos sentimos protegidos. Hoje este é o meu porto de abrigo. https://youtu.be/pybqjwf8w8s

terça-feira, 1 de novembro de 2016

Memorias revisitadas

Hoje enquanto percorria o caminho pedonal da zona ribeiririnha lembrei-me de um filme que vi no saudoso Cinema King. " As minhas noites são mais belas que os vossos dias" de Andrej Zulaswski.
Resumindo o filme retrata um génio informático com uma rara doença que lhe vai apagando a memória. Ele conhece uma mulher e passam alguns dias e algumas noites juntos. Não direi mais sobre o filme, para que a curiosidade vos leve a procurá-lo.

Lembrei-me dele porque durante o meu passeio, revisitei vários sítios que me trazem muitas memorias. Um banco de jardim onde aconteceu um primeiro beijo. Uma cerca onde um dia duas pessoas se abraçaram de uma forma tão intensa e sentida. Uma porta vermelha no velho cais onde um dia descansei quando tanto precisava de descansar. Um caminho onde dávamos longos passeios e conversávamos sobre assuntos que nos apaixonavam e nos aproximavam.

Recordei-me deste filme porque as minhas memórias são como um tesouro que quero guardar para sempre. Até aquelas que não foram tão boas, mas que fizeram parte de segmentos da minha vida em que me provocaram mudanças. Por vezes é tão difícil mudar, sair da zona de conforto e arriscar em algo incerto, mas que nos pode trazer um bem maior.

 Confesso que me assusta perder todas estas memórias. Despertam-me sentidos, entrelaçam-se em mim como os braços de alguém muito importante nas nossas vidas, que não vimos há muito tempo e que nos vem visitar dando-nos o mais forte dos Abraços

Hoje tive acesso a todas estas memórias e esta manhã foi de certeza mais bela do que as vossas..

segunda-feira, 31 de outubro de 2016

Troquei os cigarros por sorrisos

Fez ontem quinze dias que deixei de fumar. Adoro fumar, é algo que apesar da consciência de todo o mal associado gosto de sentir; acender o cigarro, dar a primeira passa que é sempre a que me sabe melhor, manusea-lo entre os dedos. Gosto do cheiro, do sabor, da forma como me tranquiliza.

Há quinze dias tomei a decisão de deixar de fazer uma das coisas que mais prazer me dá. Não foi pelo mal que faz à saúde, não foi pelo preço exorbitante. Tomei essa decisão depois de olhar para a miúda e ela me ter dito que uma das coisas que a deixava mais triste era eu não parar de fumar e que provavelmente a iria deixar por causa de uma doença associada ao tabaco.

Mais do que as palavras , foi o olhar dela enquanto me dizia o quanto a assustava eu poder contrair uma doença grave provocada pelo tabaco, que me fez tomar essa decisão com efeito imediato. Não quero perder a miúda para uma doença que me leve à morte; mas mais do que isso não quero que os meus actos sejam motivo de tal angústia. A mesma angústia que eu vi nos olhos dela enquanto me dizia o quanto lhe custava eu fumar.

Passaram quinze dias e não está a ser nada fácil. Gosto demasiado daquela merda. Custa-me imenso dormir, concentrar-me . Faço um esforço enorme para ter paciência para as coisas mais insignificantes. Masco pastilhas elásticas, por vezes saio de casa porque parece que a minha cabeça vai explodir e tenho de apanhar ar.

A miúda pergunta-me como está a correr eu respondo sempre que está a correr bem. Na verdade está a correr bem porque há quinze dias que não fumo, independentemente de todo o sofrimento associado. Deixei algo de que gostava muito, por algo bem maior. Ter a noção do quanto ela ficou feliz com esta minha decisão, de que aquilo que ela sente devido a alguns actos meus; medo, tristeza, incerteza, tem muito mais relevância do que qualquer cigarro.

Não deixei de fumar por mim, também não foi por ela. Deixei de fumar porque causava sofrimento em alguém de quem gosto muito e não o fazer seria um acto de egoísmo para com a mulher que eu amo e prometi proteger.

domingo, 30 de outubro de 2016

Kit de emergencia para a miuda

A miúda quando decidiu voltar a estudar, tinha a noção exacta que não iria ser fácil. Se fosse fácil também não era para ela. Decidiu inscrever-se em Medicina, não só por ser algo que a cativa, mas sobretudo pelo desafio.
Desde que ela tomou essa decisão, apoiei incondicionalmente por ter a certeza de que além de ser algo que ela queria muito, também por saber que seria capaz. Que conseguiria alcançar esse objectivo.

Apesar de tudo gostava de poder fazer mais para ajudar. Hoje senti-me um pouco egoista por ter saído de manhã e ter ido passear junto ao rio, enquanto ela estava presa à secretaria a estudar. Sei que foi a escolha foi dela é que é isso que lhe faz sentido.
Precisava de fazer alguma coisa. De que forma poderia contribuir para ajudar a minha miúda e amenizar todo o esforço que ela tem feito nos últimos tempos?     
Ainda pensei escrever uma carta ao Prof. Marcelo para lhe dizer o quão fantástica é a miúda e que ele  podia falar com o Bastonário da Ordem dos Médicos e dar-lhe já a cédula profissional, mas desisti porque o nosso Presidente ainda tem a carta da estudante que não conseguiu entrar em Medicina para ler. Então resolvi ajudar de outra forma. Criar um Kit de emergência para estudantes desesperadas. Aqui vos deixo o meu kit e pode ser que ajude mais alguém.


Final de Domingo

Nada como passar um final de Domingo a ver uns desenhos animados onde uma fatia de pizza com óculos escuros é a melhor amiga de um tipo desdentado chamado Titio Avô...