segunda-feira, 12 de fevereiro de 2018

Sem despertador

Bom dia. 
Não me lembro da última vez em que acordei assim tão devagarinho.
O quarto continua às escuras, o meu iPad diz que são 11:37 horas. 
Recordo-me bem ao longe de ter recebido duas chamadas esta manhã (fui confirmar ao registo do telemóvel) . Uma de um colega de trabalho, não me lembro do que falámos, mas certamente grunhi algo e despachei-o. A outra da miúda cá de casa que me pareceu ter sido mordida por uma abelha. (A minha mãe diz que nestes casos se deve meter uma moeda por cima do local da picada. Não me recordo se lhe disse isso.)
Coloquei uma música enquanto acordo neste ritmo tão raro. Normalmente levanto-me à pressa. Está a saber-me tão bem esta ronha inocente, este acordar lentamente, esta tranquilidade que habita no meu quarto.
Sinto uma isenção de responsabilidade que me permite simplesmente descansar.
Enquanto escrevo, tenho de voltar muitas vezes atrás e corrigir aquilo que vou escrevendo. A minha coordenação motora ainda está a 60%. 
Tenho fome, apetece-me uns ovos mexidos. Será que se for a correr à cozinha cozinha-los e voltar, não corrompo este momento, este Estado de Graça?
Estou aqui nesta luta, vou ou fico. Eu acho que se for rápido ainda consigo voltar e recuperar esta letargia boa... ( vou arriscar, a fome é muita).
Eu sabia. Estou de volta ao quarto e à cama, pequeno almoço no tabuleiro, mas aquela ronha tão boa e despretensiosa foi embora.
Pelo menos tenho a minha sandes de hambúrguer,queijo Terra Nostra , Philadelphia e os meus ovos mexidos com queijo de cabra e uma banana para rematar.
São 12:21 horas, estou quase há uma hora para escrever um texto, que normalmente levaria uns 15 minutos para começar e finalizar.
12:31 horas. Estive dez minutos a olhar para o teclado e sem saber aquilo que escrever mais neste texto. Porra, foi-se o 
momento...(acho que as moedas que se usam para as ferroadas de abelha têm de ser daquelas pretas, de cêntimos).
Slowly


domingo, 11 de fevereiro de 2018

Bla bla bla

Se quando o dia acabar não souberes aquilo que te apetece fazer, senta-te um pouco, bebe um chá, ouve aquela tua música; sabes? Aquela que te faz sempre sentido quando a escutas. Não tenhas pressa, permite-te descansar enquanto descobres aquilo que realmente te apetece. A música está perfeita, não está? chega-me até mim o aroma do chá, é aquele da Gorreana? Sim, continua frio lá fora. 
Não me apetece sentar. Talvez beba uma chávena de chá e vá sair. Estou cansado, mas apetece-me sair. Sim, na verdade aquilo que não me apetece é ficar. Também não sei o que me apetece fazer, mas sei que não me apetece ficar. Está bastante quentinho aqui e demasiado frio lá fora, mas sinto-me mais confortável fora daqui. Claro que não gosto de frio! Ainda não sei onde vou, acho que vou só por aí. Eu agasalho-me. 
Obrigado, mas não me apetece falar sobre o meu dia, mas foi um dia normal. Aliás, nem me recordo bem de como foi o meu dia agora que perguntas...
Ainda não tenho fome, como qualquer coisa por aí. Na verdade ultimamente ando com pouco apetite. Claro que me alimento, mas por vezes tenho de fazer um esforço porque tenho tido pouca fome.
Não sei de novo da chave do carro. Já vi aí, não está. Deixa-te estar sentada, eu procuro. Olha, já encontrei. Estava no casaco que tinha ontem vestido.
Está tudo bem. A sério. Não te preocupes. Só não me apetece estar aqui. 
Estás enganada, eu não me fecho. Apenas não tenho nada para te dizer. Não tem a ver contigo. Desculpa, não estou a ser honesto. Tem tudo a ver contigo, mas também comigo.
O chá já arrefeceu, acho que prolongámos demasiado a conversa. Tens razão, estamos há imenso tempo a falar sobre nada. Não, não me causa desconforto, mas também nada me acrescenta.
Já descobriste o que te apetece fazer.. Boa, afinal o meu método resultou. Ficares em casa a ver um filme com o aquecedor aos teus pés parece-me óptimo. Não, está demasiado abafado aqui para mim, vou mesmo sair. Ainda não sei onde vou. 


Até amanhã...
I go out


sábado, 10 de fevereiro de 2018

De novo nos 20

Chegamos aos quarentas e dizem aqueles que sabem de coisas, que trazemos com eles a tão “afamada” crise de meia idade.
Compramos um Porche ou um Ferrari e arranjamos uma miúda 20 anos mais nova.
Não sei se me chegou até mim este flagelo, esta crise de meia idade. Não tendo dinheiro para comprar um Porche, ou um Ferrari e consequentemente arranjar uma miúda com metade da minha idade torna-se complicado se estiver a atravessar por este processo.
Como por vezes o Universo é nosso compincha, veio até mim um skate long board.
Tenho a sorte de morar ao lado do Rio Tejo e ter 8km de Calçadão à beira rio.
Desde que tenho o skate sempre que me é possível no final do dia faço estes 8km montado no meu “Porche” de phones nos ouvidos a deslizar e contemplar.
Tem sido terapêutico. É como recuar no Tempo, sentir o vento na cara e uma sensação de leveza indescritível.
Se estiver a atravessar a crise dos 40, então sou um sortudo, porque arranjei o antídoto perfeito para a combater.
No primeiro dia cometi dois erros. O de ter levado o cão preso pela trela e o meu filho. Enquanto o cão me puxava, o Kukas meteu-se à minha frente tal forcado a fazer uma pega a um touro. Eu gritava para ele se afastar e ele irredutível. Tive de me atirar para o chão para não o atropelar. O skate foi parar ao rio e não fosse ficar preso num canavial e neste momento jazia no fundo do rio. Resultado; bati com as costelas e agora não há Voltaren que me valha.
Estou fã do meu Skate e não o trocava por Ferrari ou Porche Carrera s4.
Go with the flow

Fade out...

Lembras-te quando éramos tudo e não existia o nada? 
De nos fundirmos com a Lua Cheia como nossa madrinha?
Recordas-te de quando ouvíamos a mesma música, tu numa dimensão, eu noutra e ambos na mesma?
De chorarmos porque o Amor assim o exigia?
Das portas, das janelas, das ruas, do pouco que tínhamos e do quanto nos preenchia?
De nos levarmos ao limite, de nos massacrarmos, ferir-mo-nos e de transformarmos  a dor em exílio e sermos Felizes só por nos termos?
De me pedires para não ter medo, para confiar, percorrer o arame a mil metros de altura, sem rede que me amparasse a queda?
De me colares com a tua saliva, criando-me fundações mais fortes do que betão armado?
Da paixão avassaladora e descontrolada que nos carregava e nos segurava deixando-nos repousar para apenas a desfrutar?
E, dos abraços? Lembras-te dos nossos abraços? Do quanto nos alimentavam?
Lembras-te que éramos tudo e não existia o nada?
Recordaste-te que não tínhamos bússola, que nos perdíamos e que nos voltavámos sempre a encontrar?
Das promessas que nunca quebrámos? das promessas que nunca ousámos fazer? 
Dos lugares que os teus olhos partilharam com os meus? 
Da chuva que nos aconchegava, em noites frias?
De me entregares os teus fantasmas para que eu os guardasse numa caixa estanque e impenetrável?
Tal qual duas Cegonhas construirmos o nosso ninho, sem pressa, sem esforço?
Lembras-te quando éramos tudo e agora não somos nada?
 

sexta-feira, 9 de fevereiro de 2018

A vida a 80

Hoje vi escrita numa lápide de uma campa a seguinte frase: “ A vida são grãos de areia que a morte sopra para longe”.
Fiquei a pensar no sentido daquilo. Parece- me tão redutor e tão limitado que a vida seja algo assim tão frágil e a morte tão portentosa.
Aquilo que vivemos tem de ser algo bem mais sólido do que pequenos grãos de areia. Há tanta potencialidade na vida. Somos maiores do que aquilo que parecemos.
Existe energia na vida, ao contrário da morte que é estática e permanente.
Temos mais medo da morte do que da vida e ainda assim temos tanto medo daquilo que a vida tem para nos oferecer. Na verdade andamos apavorados com as nossas vidas e fingimos que é a morte que mais nos assusta.
Nenhum de nós quer morrer. Quantos de nós queremos realmente viver?
Respirar é algo de inato. Sobreviver não requer grande esforço. Viver no limite da intensidade, essa é a nossa grande lacuna. A maior das nossas dificuldades. Acomodamo-nos, acobardamo-nos e escolhemos ser meros grãos de areia.
A vida , as nossas vidas podem deixar marcas maiores do que a morte.
Se eu pudesse alterava a frase naquela lápide e escreveria:
“ A vida são abraços, sorrisos, conquistas, angústias, amores , tristezas, certezas, incertezas, acertos e desacertos que a morte não consome”
Wild os the wind




quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

Pedaço de papel.

-Tens papel e caneta contigo?
-Espera, vou buscar..
-Já os tenho.
- Escreve o seguinte: - Nunca me irei esquecer que aquilo que mais quero ainda estou para o descobrir.
- Só isso?
- Sim, apenas isso. escreve e guarda o papel sempre junto de ti.
- Porquê?
- Para que não tenhas de correr. Para que saibas que aquilo que mais queres não te pode exigir cansaço.
- Não estou a perceber..
- Sabes, é exasperante corrermos atrás de algo que desconhecemos. Acabamos por nos perder em encruzilhadas, em bêcos sem saída.
-Entendo, mas assim quando irei descobrir aquilo que mais quero?
- Esse é o segredo. Não serás tu quem o irá descobrir. Tal como uma pena de um pássaro que flutua no ar, virá até ti e aí saberás.
-Consegue-se viver assim, com a ansiedade dessa espera?
-Essa é a parte difícil, controlar essa ansiedade que chega a ser angustiante. Existem coisas que exigem um esforço extra da nossa parte, essa é claramente uma delas.
-A ti já te encontrou?
- Vivemos de ganhos e percas. Já ganhei Bens preciosíssimos, uns que mantenho, outros que já perdi. Acredito no entanto que ainda vou a meio do meu percurso e que muito ainda tenho para ganhar.
- Então aquilo que me dizes é que devemos ficar estáticos? Não correr atrás dos sonhos?
-Nada disso. Estás a confundir tudo.
-Estou?!
-Estás. Os sonhos são algo de concreto, que sabemos querer e desses vale sempre a pena correr atrás. Estou a falar-te daquilo que desconheces, que nem sequer nunca sonhaste, mas que te desgasta por tanto procurares, não tendo noção que está envolto num manto de invisibilidade.
-Não sei se consigo..sou demasiado insatisfeita.
-Percebo muito bem essa insatisfação; é como uma erva daninha que vai destruindo
 todas as plantas bonitas que estão à sua volta.
-Ajuda-me a lidar com ela então.
-Posso apenas dar-te uma ferramenta. Um regador.
-Um regador?
-Sim, come ele regas as plantas bonitas que já plantaste no teu jardim e resguarda-las dessa erva daninha. Pelo menos essas não vais perder, protege-as.
- Prometes que a espera vale a pena?
-Prometo.

Senta-te e desfruta

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A música esmiuçada

Sou um apaixonado por música. Preciso quase tanto dela como de respirar.
Ouço-a de uma forma muito particular. Não me basta que soe bem, nas músicas que me apaixonam tudo tem de fazer sentido. A Letra tem de estar em consonância com a parte musical. Só assim me faz sentido. Se o vocalista expressa uma determinada emoção, os instrumentos têm de o fazer também.
Vou dar um exemplo prático para tentarem perceber do que falo.
Nesta música que expressa revolta, raiva, tristeza e inconformismo,  conseguimos se estivermos atentos perceber cada uma destas emoções nos instrumentos utilizados.
Temos uma bateria, com uma batida forte e crescente que representa a raiva expressa na letra. No refrão vão ouvir um violino eléctrico que quase parece chorar e que espelha a tristeza. Temos o Baixo que confere um equilíbrio constante à música e uma guitarra que consoante aquilo que o vocalista expressa nas suas palavras  o acompanha com riff´s siameses , quase como se a letra e a guitarra estivessem de mãos dadas.
Querem Experimentar? Cliquem no Teste auditivo.

Teste auditivo

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Nostalgia presa em memórias.

Podemos descansar da Nostalgia?
 É-me tão difícil por vezes saboreá-la. Avivar memórias nostálgicas, que não quero apagar mas que ao mesmo tempo me cortam e ferem. É ultrapassar uma barreira invisível e incontornável.
"As memórias estão na nossa cabeça", disse-me outrora alguém. Este pleonasmo, transvestido de cliché é factual.
As memórias estão na nossa cabeça e são elas que nos vão construindo. Somos o seu somatório.
Elas moldam-nos, dão-nos novas perspectivas, fazem-nos sorrir, mas são também tóxicas.
Saber lidar com elas é um dos maiores desafios. Nunca se consegue ser racional o suficiente para as conseguir manter arrumadas num armário de arquivo, devidamente catalogadas e fechadas.
Gostava tanto de me baquentear num festim de Nostalgia estéril, límpida e sem gumes afiados.
Vêm de novo as memórias, fotografias guardadas numa cloud  impenetrável e incorruptível.
As melhores, são muitas vezes aquelas que nos causam mais sofrimento. Perfeita antítese daquilo que melhor tivémos.
Tenho muitas boas e muitas más e nenhuma delas para troca ou venda.
No fundo o que eu pretendia era ter um Manual que me ensinasse a viver com elas sem que me causassem dor. As boas e a más. Embora me seja muito mais fácil ser racional com aquelas menos boas, ou verdadeiramente más.
Talvez tenha começado mal este texto, talvez a questão não seja se podemos descansar da Nostalgia, mas sim se podemos consumi-la sem que ela nos consuma a nós.
Nostalgia

Conversas entre pai e filho

O meu filho começou ontem na escola a aprender os dias da Semana. Fui buscá-lo ao Colégio e ele ia-mos repetindo enquanto faziamos a pé o trajecto do Colégio para casa. Segunda-Feira, Terça- Feira, Quarta Feira; Quinta- Feira, Sexta- Feira, Sábado e Domingo.
Eu disse-lhe que o dia da semana que menos gostava era a Segunda- Feira.  Perguntou-me porquê?
Respondi-lhe que os crescidos normalmente não gostam das segundas-feiras, porque são o dia a seguir ao Fim de Semana e têm de voltar ao trabalho.
Perguntou-me se eu não gostava de trabalhar.
- Gosto filho, mas gosto mais de estar em casa a descansar e ir passear; mas os adultos precisam de trabalhar para poderem ganhar dinheiro para terem uma casa, comprarem comida, pagar a água e a luz, etc..
Olhou para mim e disse-me: - Papá a Escola é como um trabalho?
Respondi-lhe que sim e ele perguntou-me se também ganhava dinheiro?
Eu disse-lhe que na Escola não se ganha dinheiro, na escola aprendemos coisas importantes para depois podermos arranjar um trabalho quando formos adultos.
- Já sabes que trabalho queres ter quando fores grande?
- Ainda não sei Papá. tenho de escolher já?
- Não filho, ainda falta muito tempo para acabares a Escola e teres de escolher um trabalho. Podes pensar com calma.
Quando estávamos a entrar no átrio do Prédio perguntei-lhe:
- Qual é o dia da semana que tu menos gostas Dudu?
- São os dias em que não estou com o Papá...

Get my hand




segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Conta-me um segredo...




                                                                                 
Queres que te conte um segredo? 
Já saltei de uma ponte. Fi-lo em consciência, mas de olhos vendados. Se tive medo?
 Muito. Não como se estivesse a ser empurrado, mas por receio de não ter coragem.
 Se me estatelei lá em baixo? 
 Fiquei em pedaços, desconstruido, completamente desfragmentado. Desmontei-me para voltar a ser reconstruído; mas agora livre de lacunas  do passado e do presente que me haviam secado, mumificado.
 Porque vendei os olhos?  
Porque queria começar de olhos fechados, sem olhar para o abismo e ter a certeza que não me acobardaria durante a queda.
 O que havia lá em baixo? 
Tudo aquilo que não havia em cima da ponte. Esperança, vontade e sobretudo o desconhecido que me poderia salvar de uma morte que já era a minha. 
Se não havia outra forma?
 Existem sempre alternativas, mas por vezes temos de seguir o instinto, superar o medo e arriscar da forma mais extrema. Já te disse que o fiz em consciência ?
 O que mudou deste que saltei? 
Tudo. Comecei a respirar, recuperei a minha essência, comecei a sentir, deixei de odiar o Futuro e a conhecer as minhas imperfeições.
 Se continuo imperfeito?
 Sempre o fui, mas antes de saltar não tinha noção e agora conheço em mim cada uma dessas imperfeições o que me permite não só lidar com elas, como tentar diariamente corrigi-las? Se consigo corrigi-las? Consigo, com ritmos diferentes, umas já as enterrei, outras ainda me assombram e me exigem que me esforce ainda mais. 
 Se sou Feliz ? 
Desde que me atirei sem reservas para o abismo que tenho tido imensos momentos de Felicidade. 
Se Voltaria a saltar da ponte?
Voltarei se me voltar a corromper ..  
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