Vou falar de algo que me faz alguma confusão. Pai Solteiro. Afinal qual é a diferença entre um pai que vive com a mãe do seu filho e um que viva sozinho?
A responsabilidade, a atenção, a cumplicidade, a interação e a disponibilidade que sinto hoje em relação ao Kukas, são exactamente as mesmas que sentia quando vivia com a mãe dele.
O dia de ontem pode
servir como exemplo prático daquilo que estou a falar:
Saí do emprego às 18 horas, fui buscar o Kukas ao Colégio. No carro negociámos como iria ser a nossa noite. Admito que ele é um negociador bastante difícil. Ficou acordado que chegaríamos a casa e a primeira coisa seria o Kukas tomar banho, ele ainda tentou que primeiro via dois desenhos animados e tomaria banho depois, obviamente o Papá venceu a disputa.
Chegados a casa, fomos directos à casa de banho, cocó seguido de banheira. De seguida foi a escolha do pijama, tarefa também sempre muito discutida. Pijama vestido, fomos para a cozinha, enquanto eu fazia o jantar, ele brincava com os seus bonecos na mesa ao meu lado. Jantar ao lume, tratar das gatas e apanhar a roupa que estava estendida enquanto ele via o Titio Avô na TV. Tínhamos cerca de 45 minutos antes de jantarmos, fomos então buscar as tropas e planear um ataque nas montanhas dos Açores.
Hora de jantar, depois de o ter chamado cerca de 22 vezes para a mesa, lá apareceu e sentou-se. Assim que se sentou pediu para ir à casa de banho fazer xixi (faz sempre isto) . Hoje o Kukas decidiu que não gostava de arroz. Eu decidi que quem não gostava de arroz, não gostava também de jogar no Tablet nem brincar com bonecos. O arroz lá desapareceu do prato.
Lavar as mãos e os dentes gera sempre alguma discórdia: - Já lavei os dentes ontem papá. Eu respondo: - Já te comprei um presente no Natal passado, então este ano não preciso comprar. A rapidez com que ele foi lavar os dentes foi supersónica.
Hora de ir para a sala relaxar, enquanto o Papá sorri com o resultado do Benfica e depois com o do Sporting, ele usa a minha barriga como base de comando das tropas. Finalmente o sono vence e ele adormece no sofá .
Entretanto a miúda que esteve a trabalhar até às tantas adormece tb ao meu lado. Tenho o meu Príncipe e a minha Princesa exaustos a dormirem, uma das gatas deitadas na minha barriga e a outra aos pés do Kukas.
Reina uma Paz tão acolhedora nesta sala, que me sinto previligiado por ter isto só para mim.
Hora de os deitar, levo o Kukas para a cama dele, enquanto a miúda se arrasta para a nossa cama. Deito-me, abraço-a e ela cede novamente ao cansaço adormecendo nos meus braços. Final perfeito para um dia vivido a correr.
Quatro da manhã, acordo com o choro do Kukas, vou ao quarto dele e ele chora porque diz ter muitas dores nas pernas. É recorrente, a pediatra chama-lhe "dores de crescimento" . Vou buscar o Ben-u-ron e o Voltaren gel. Dou-lhe o xarope e massajo-lhe as pernas com o gel enquanto ele chora e me pede para não parar de o massajar. Fico ali durante meia hora até que finalmente ele adormece e volto para a minha cama.
Oito da manhã, tenho o Kukas deitado ao meu lado a dizer que quer levantar-se e quer beber um leitinho na sala a ver Televisão.
Nada daquilo que relatei aqui é novo para mim, desde o dia em que ele nasceu, esta tem sido a minha realidade; será que os pais casados têm alguém que os substitua com os filhos?