terça-feira, 8 de novembro de 2016

A minha fiel visita

Tenho um amigo que há vinte anos atrás, perdeu a mãe e na mesma altura a namorada de então terminou a relação que tinha com ele. Não aguentou,  teve uma depressão seguida de um esgotamento.

Esse meu amigo vive há vinte anos no passado. Como se o tempo tivesse parado aí. Ouve as músicas que ouvia então, fala das pessoas e dos acontecimentos dessa altura.

Todos os dias vem visitar-me , mais do que uma vez ao meu local de trabalho. As pessoas que trabalham comigo já estão habituadas à sua presença diária.

Faz-me sempre as mesmas perguntas, todas relacionadas com o passado e eu dou-lhe sempre as mesmas respostas.  Fica ali cinco ou dez minutos comigo e sai para ir dar uma volta. Mais tarde irá passar novamente pelo meu escritório e voltará a fazer-me novamente as mesmas perguntas.

Recentemente descobri que ele está com um problema oncológico.  Soube que está a fazer sessões de quimioterapia. Já tentei aborda-lo em relação ao estado de saúde dele, mas cheguei à conclusão que ele não tem a mínima noção do que se está a passar com ele.

Quando estou de ferias ele passa sempre no meu local de trabalho à minha procura e embora lhe digam que só voltarei daqui a 15 dias, ele no dia a seguir lá está novamente a perguntar por mim.

Existe uma estranha relação entre nós.  Quando estamos juntos é como se voltassemos atrás vinte anos no tempo e as nossas conversas giram sempre à volta disso. Não me canso dele, nem de ter de lhe dar sempre as mesmas respostas às mesmas perguntas.

A amizade não tem limites, não tem roupagem, nem nunca se desiste de um amigo.




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