terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

Conversas entre pai e filho

O meu filho começou ontem na escola a aprender os dias da Semana. Fui buscá-lo ao Colégio e ele ia-mos repetindo enquanto faziamos a pé o trajecto do Colégio para casa. Segunda-Feira, Terça- Feira, Quarta Feira; Quinta- Feira, Sexta- Feira, Sábado e Domingo.
Eu disse-lhe que o dia da semana que menos gostava era a Segunda- Feira.  Perguntou-me porquê?
Respondi-lhe que os crescidos normalmente não gostam das segundas-feiras, porque são o dia a seguir ao Fim de Semana e têm de voltar ao trabalho.
Perguntou-me se eu não gostava de trabalhar.
- Gosto filho, mas gosto mais de estar em casa a descansar e ir passear; mas os adultos precisam de trabalhar para poderem ganhar dinheiro para terem uma casa, comprarem comida, pagar a água e a luz, etc..
Olhou para mim e disse-me: - Papá a Escola é como um trabalho?
Respondi-lhe que sim e ele perguntou-me se também ganhava dinheiro?
Eu disse-lhe que na Escola não se ganha dinheiro, na escola aprendemos coisas importantes para depois podermos arranjar um trabalho quando formos adultos.
- Já sabes que trabalho queres ter quando fores grande?
- Ainda não sei Papá. tenho de escolher já?
- Não filho, ainda falta muito tempo para acabares a Escola e teres de escolher um trabalho. Podes pensar com calma.
Quando estávamos a entrar no átrio do Prédio perguntei-lhe:
- Qual é o dia da semana que tu menos gostas Dudu?
- São os dias em que não estou com o Papá...

Get my hand




segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

Conta-me um segredo...




                                                                                 
Queres que te conte um segredo? 
Já saltei de uma ponte. Fi-lo em consciência, mas de olhos vendados. Se tive medo?
 Muito. Não como se estivesse a ser empurrado, mas por receio de não ter coragem.
 Se me estatelei lá em baixo? 
 Fiquei em pedaços, desconstruido, completamente desfragmentado. Desmontei-me para voltar a ser reconstruído; mas agora livre de lacunas  do passado e do presente que me haviam secado, mumificado.
 Porque vendei os olhos?  
Porque queria começar de olhos fechados, sem olhar para o abismo e ter a certeza que não me acobardaria durante a queda.
 O que havia lá em baixo? 
Tudo aquilo que não havia em cima da ponte. Esperança, vontade e sobretudo o desconhecido que me poderia salvar de uma morte que já era a minha. 
Se não havia outra forma?
 Existem sempre alternativas, mas por vezes temos de seguir o instinto, superar o medo e arriscar da forma mais extrema. Já te disse que o fiz em consciência ?
 O que mudou deste que saltei? 
Tudo. Comecei a respirar, recuperei a minha essência, comecei a sentir, deixei de odiar o Futuro e a conhecer as minhas imperfeições.
 Se continuo imperfeito?
 Sempre o fui, mas antes de saltar não tinha noção e agora conheço em mim cada uma dessas imperfeições o que me permite não só lidar com elas, como tentar diariamente corrigi-las? Se consigo corrigi-las? Consigo, com ritmos diferentes, umas já as enterrei, outras ainda me assombram e me exigem que me esforce ainda mais. 
 Se sou Feliz ? 
Desde que me atirei sem reservas para o abismo que tenho tido imensos momentos de Felicidade. 
Se Voltaria a saltar da ponte?
Voltarei se me voltar a corromper ..  
           .

Quando acordamos com coisas doces..

I remember when
I remember, I remember when I lost my mind
There was something so pleasant about that place
Even your emotions have an echo in so much space

And when you're out there, without care
Yeah I was out of touch
But it wasn't because I didn't know enough
I just knew too much

Does that make me crazy?
Does that make me crazy?
Does that make me crazy?
Possibly

And now that you are having the time of your life
Well think twice
That's my only advice

Come on now, who do you
Who do you, who do you
Who do you think you are?
Ha ha ha, bless your soul
You really think you're in control?
Well

I think you're crazy
I think you're crazy
I think you're crazy
Just like me

My heroes had the heart
To lose their lives out on a limb
And all I remember, is thinking
I wanna be like them
Mm hmm ever since I was little
Ever since I was little it looked like fun
And it's no coincidence I've come
And I can die when I'm done

(Gnarls Barkley - Crazy)

Crazy

domingo, 4 de fevereiro de 2018

Deixa a porta aberta.

Olha...
Hoje quando te deitares deixa a porta do teu subconsciente aberta.
Permite-me que entre nos teus sonhos, prometo-te que não farei barulho e nem darás pela minha presença..
Sabes aqueles sonhos em que voamos e que nos dão uma sensação única e inigualável de conforto e liberdade? Deixa-me pegar em ti e fazer-te voar, estarei invisível.
Sabes aqueles sonhos em que caímos de um precipício e nos dão uma angústia enorme enquanto caminhamos para o abismo? Estarei lá em baixo para te agarrar e não te estatelares no chão...
Sabes aqueles sonhos em que fugimos de alguém que nos persegue e por mais que corramos ele é mais rápido do que nós e sentimos um medo atroz? Estarei lá escondido para lhe passar uma rasteira e não o deixar apanhar-te.
Sabes aqueles sonhos em que de repente nos vimos num Prado verde, repleto de papoilas vermelhas e sentimos uma enorme leveza e uma felicidade tão pura? Serei eu a desenhar esse Prado e a plantar as papoilas..
Sabes aqueles sonhos em que sonhamos que alguém que nos é querido morre e acordamos em sobressalto? Estarei lá para proteger aqueles que te são mais queridos e não deixar que nada de mal lhes aconteça.

Hoje deixa a porta aberta e entrarei devagarinho, não me verás, mas velarei por ti e serei aquele que te protegerá à distância. Não preciso que me sintas, só quero lá estar e dar-te conforto durante o teu sono. Ficarei acordado a noite inteira, mas não te preocupes descansarei quando acordares porque sei que nada de mal te aconteceu.Just dream

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Guincho




Dizem que não existem duas ondas iguais, tal como não existem duas pessoas iguais, ou dois amores iguais.. 





Quando vou ao Guincho há algo que soa sempre da mesma forma; o barulho que as ondas fazem quando rebentam na areia. Talvez seja assim em todas as praias, mas confesso que esta melodia só ali a escuto.
É mais do que uma praia, é um retiro, um lar. 
Já ali tive momentos de magia pura, outros de introspecção, alguns apenas de descompressão.
Ali sei que pertenço sempre que disso necessito. Conheço os sons, os cheiros, a textura da areia; conheço-os de cor. 
Ali tenho tido também momentos de comunhão com o meu filho. Ele adora tanto aquele pedaço de terra e mar quanto o seu pai.
Hoje tivemos um dia bom, fomos ao nosso Guincho, percorremos descalços a areia, subimos a serra e embarcamos numa aventura; daquelas que só são permitidas a pais e a filhos.
Hoje foi um dia bom porque fomos pai e filho e ambos fomos crianças destemidas e sem limitações.
Já vos disse que o Guincho é especial? Que vou lá há anos e continua um sítio que em nada foi corrompido?
Hoje fomos ao Guincho e não havia vento.. 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Silêncio vs Palavras

Há quem tenha medo das palavras, de as proferir, ou daquilo que elas lhes dizem. As palavras podem ser doces, acutilantes, assertivas, corrosivas, elaboradas, ocas..
Existem os que delas desconfiam, aqueles que se alimentam das suas vitaminas, e os outros. 
Os outros não definem, nem se deixam adulterar pelas palavras. Há quem lhes chame cépticos, outros dizem-nos cínicos. Há ainda os que lhes conferem um grau de inteligência emocional. 
Uns e outros vivem rodeados de palavras e delas não escapam, porque as palavras são uma regra e incondicionalmente presentes.
Sou um tipo de palavras, das que interessam, das que acrescentam, das que me alertam; mas também aceito as que me ferem, porque essas são as que me fazem realmente crescer. Intelectualmente, emocionalmente; mesmo que tenha de ser à bruta, sem vaselina.
Sou das que as usam, sem filtro, sem duplo sentido, sem as desvirtuar. 
As minhas palavras são a minha Palavra. 
A minha Palavra nem sempre a expresso pelas minhas palavras.
Mais do que homem de palavras, sou veículo de emoções. Facilmente as expresso em palavras.
Ja tentei contar até 3 e sempre que o fiz as palavras que saíram após esta ínfima pausa vieram adulteradas. 
Conscientemente consigo medi-las, encurta-las e até mesmo baixar-lhes o volume numa espécie de fade out. Quando o faço perco-as e deixam de ser minhas, apesar de verbalizadas pelos meus lábios.
No silêncio também podemos escutar palavras, interpretá-las da forma como gostaríamos de as ouvir; ou então fazer o exercício contrário e corrompê-las quebrando a magia das palavras ditas em silêncio.. https://youtu.be/Ef1nJWtkprU

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

11000 (Des)alinhados.

Depois atingir mais de 11000 visualizações no meu blog questiono-me se os Desalinhados são uma maioria silenciosa, ou se pelo contrário, aquilo que escrevo serve como uma vacina para aqueles que aqui vêm ganharem imunidade ao desacerto. 
Sejam quais as razões, não deixo de ficar impressionado com este volume de cliques.
Sinto agora uma responsabilidade acrescida; a de me manter fiel ao propósito pelo qual criei este espaço.
Tudo aquilo que escrevi até hoje me fez sentido no exacto momento em que fiz; entretanto olho para alguns textos e alguns já não me fazem tanto sentido, outros sinto-os incompletos.
Apesar de tudo a coerência impera e escreverei sempre aquilo que sentir necessidade de expressar, com a diferença que agora consigo ser um pouco menos desalinhado e consequentemente conseguir ter um pequeno filtro que não tinha quando iniciei este Blog.

Obrigado pelas visitas, pelos comentários e pelo imenso carinho que tenho sentido neste meu pequeno espaço.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Margens

A margem de um rio separava-os. Ele, em pé com os pés dentro de água. Ela sentada no velho Cais, agora em ruínas onde milhares de barcos descarregaram cereais vindos dos Campos da Lezíria.
Olhavam-se ao longe. Em silêncio porque é no silêncio que as almas viajam.Na margem onde ele permanecia de pé, imóvel, imune ao frio que lhe congelava os pés, havia um velho barco a remos. Podia embarcar e ir ao encontro dela. Podia resistir e esperar um sinal. 
Não sentia medo. Não havia nada que o impelisse a ir ou a ficar. Havia um certo conforto naquele vai e não vai, como se nada dependesse dele . É certo que o barco estava na sua margem, mas talvez sentisse demasiada fadiga para remar. Nem sequer se tratava daquilo que mais importava; era a Paz que sentia que o fazia permanecer imóvel. Ela não conseguia chegar até ele. Não porque não tivesse meios para o fazer, nem por uma questão de vontade. Apenas porque às vezes não se consegue, sem justificações, sem uma razão racional.
Ambos se sentiam confiantes , sem dúvidas e sem quaisquer certezas. 
Não era o Rio que os separava. Na realidade apesar da distância continuavam próximos. Tão próximos como duas almas que um dia se cruzaram e se diluíram uma na outra tornando eterno esse misturar de partículas etéreas. 
Olhavam nos olhos um do outro e sorriam porque há olhares construídos de pureza despojada de qualquer dúvida ou obrigação. 
O Sol descia e a noite vinha devagarinho, até se tornar numa cortina negra que impedia que se continuassem a ver. 
Talvez lá tivessem continuado, imóveis nas suas margens; ou ele remasse ao seu seu encontro; ou então quando o dia raiou as margens estivessem vazias deles,  mas repletas de fragmentos de algo que perduraria para sempre no Tempo.


https://youtu.be/5PC68rEfF-o

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Deviam existir preservativos no século XVIII

Tenho um ódio de estimação. Immanuel Kant e o seu relativismo conceptual.
Para aqueles que o adoram, as minhas nada sinceras desculpas.
“Somos aquilo com que nascemos à priori”, diz o farsante.
Para mim isso soa-me a apologia à preguiça e ao crescimento empírico enquanto indivíduos.
Foda-se, somos muito mais do que aquilo que trazemos da barriga das nossas mães. Somos as escolhas que fazemos, somos o somatório das experiências que vivemos e justificarmos as nossas limitações pelo facto de termos uma personalidade formada antes de sairmos da cona das nossas mães, é a maior das Hipocrisias e do cinismo humano.
Kant era religioso, o que até me faz com que lhe dê um pequenino desconto. Afinal é mais fácil entregarmos os nossos destinos e as não escolhas a um Deus que nos manipula e que nos isenta de qualquer responsabilidade.
Ninguém nasce assassino, ninguém nasce não assassino. Ou então não precisamos de nos preocupar em fazer escolhas, ou jogar no Euromilhões.
Que se foda o Kant, nunca o perdoarei por ter tido apenas 17 valores em Filosofia por ter embirrado com ele.
Era só isto...

(P.S). Se alguém quiser elaborar ou desconstruir, que esteja à vontade.

domingo, 28 de janeiro de 2018

Sonhos com aromas

Hoje sonhei que tinha entrado num Autocarro vazio. Literalmente vazio, sem condutor nem passageiros. Sentei-me num dos bancos azuis e fiquei à espera que começasse a andar.
Estranhamente continuava parado e vazio. Ali permaneci sem qualquer pressa. 
Enquanto esperava sentado, surgiram-me várias memórias. Recordei-me da vez em que parti a perna em criança enquanto andava de bicicleta. Das noites em que subia ao telhado da casa de Férias dos meus Pais e me encostava à chaminé a fumar cigarros, a olhar para as estrelas e a escrever cartas à minha melhor amiga de então que passava as férias de Verão na Nazaré. Do meu primeiro dia de Escola e da excitação que senti ao entrar na sala de aula. Das broas de azeite e mel e que a minha avó materna fazia no velhinho forno a lenha e que as comia quentinhas com cacau quente. Do dia em que bati num colega da minha turma porque gozava com um dos outros que tinha asma e não podia jogar connosco à bola e que me valeu um mês de castigo sem ir ao recreio. Da primeira vez que vi o meu irmão e o peguei ao colo e de até então nunca ter sentido tanto Amor por alguém . Do dia em que fugi de casa porque tinha lido um livro sobre um homem que vivia numa floresta e fiquei tão encantado que queria fazer o mesmo. De quando a minha mãe teve de ficar internada no hospital uns dias e de como foi difícil para o meu pai,  para mim e para o meu irmão essa separação. Do meu primeiro beijo bastante atabalhoado. Do meu cão Jacky e do meu gato Spínola...
Percebo agora que não entrei num Autocarro, entrei numa máquina do Tempo que me transportou a lugares no Tempo que de alguma forma me marcaram e que ainda perduram nas minhas memórias. 
Acordei com uma sensação de conforto e nostalgia de coisas boas e outras menos boas, mas que me moldaram e me tornaram naquilo que sou hoje.
Adoro viajar, é das minhas predileções; Hoje fiz uma viagem no Tempo num autocarro de bancos azuis.
Time Machine