domingo, 4 de fevereiro de 2018

Deixa a porta aberta.

Olha...
Hoje quando te deitares deixa a porta do teu subconsciente aberta.
Permite-me que entre nos teus sonhos, prometo-te que não farei barulho e nem darás pela minha presença..
Sabes aqueles sonhos em que voamos e que nos dão uma sensação única e inigualável de conforto e liberdade? Deixa-me pegar em ti e fazer-te voar, estarei invisível.
Sabes aqueles sonhos em que caímos de um precipício e nos dão uma angústia enorme enquanto caminhamos para o abismo? Estarei lá em baixo para te agarrar e não te estatelares no chão...
Sabes aqueles sonhos em que fugimos de alguém que nos persegue e por mais que corramos ele é mais rápido do que nós e sentimos um medo atroz? Estarei lá escondido para lhe passar uma rasteira e não o deixar apanhar-te.
Sabes aqueles sonhos em que de repente nos vimos num Prado verde, repleto de papoilas vermelhas e sentimos uma enorme leveza e uma felicidade tão pura? Serei eu a desenhar esse Prado e a plantar as papoilas..
Sabes aqueles sonhos em que sonhamos que alguém que nos é querido morre e acordamos em sobressalto? Estarei lá para proteger aqueles que te são mais queridos e não deixar que nada de mal lhes aconteça.

Hoje deixa a porta aberta e entrarei devagarinho, não me verás, mas velarei por ti e serei aquele que te protegerá à distância. Não preciso que me sintas, só quero lá estar e dar-te conforto durante o teu sono. Ficarei acordado a noite inteira, mas não te preocupes descansarei quando acordares porque sei que nada de mal te aconteceu.Just dream

sábado, 3 de fevereiro de 2018

Guincho




Dizem que não existem duas ondas iguais, tal como não existem duas pessoas iguais, ou dois amores iguais.. 





Quando vou ao Guincho há algo que soa sempre da mesma forma; o barulho que as ondas fazem quando rebentam na areia. Talvez seja assim em todas as praias, mas confesso que esta melodia só ali a escuto.
É mais do que uma praia, é um retiro, um lar. 
Já ali tive momentos de magia pura, outros de introspecção, alguns apenas de descompressão.
Ali sei que pertenço sempre que disso necessito. Conheço os sons, os cheiros, a textura da areia; conheço-os de cor. 
Ali tenho tido também momentos de comunhão com o meu filho. Ele adora tanto aquele pedaço de terra e mar quanto o seu pai.
Hoje tivemos um dia bom, fomos ao nosso Guincho, percorremos descalços a areia, subimos a serra e embarcamos numa aventura; daquelas que só são permitidas a pais e a filhos.
Hoje foi um dia bom porque fomos pai e filho e ambos fomos crianças destemidas e sem limitações.
Já vos disse que o Guincho é especial? Que vou lá há anos e continua um sítio que em nada foi corrompido?
Hoje fomos ao Guincho e não havia vento.. 

quinta-feira, 1 de fevereiro de 2018

Silêncio vs Palavras

Há quem tenha medo das palavras, de as proferir, ou daquilo que elas lhes dizem. As palavras podem ser doces, acutilantes, assertivas, corrosivas, elaboradas, ocas..
Existem os que delas desconfiam, aqueles que se alimentam das suas vitaminas, e os outros. 
Os outros não definem, nem se deixam adulterar pelas palavras. Há quem lhes chame cépticos, outros dizem-nos cínicos. Há ainda os que lhes conferem um grau de inteligência emocional. 
Uns e outros vivem rodeados de palavras e delas não escapam, porque as palavras são uma regra e incondicionalmente presentes.
Sou um tipo de palavras, das que interessam, das que acrescentam, das que me alertam; mas também aceito as que me ferem, porque essas são as que me fazem realmente crescer. Intelectualmente, emocionalmente; mesmo que tenha de ser à bruta, sem vaselina.
Sou das que as usam, sem filtro, sem duplo sentido, sem as desvirtuar. 
As minhas palavras são a minha Palavra. 
A minha Palavra nem sempre a expresso pelas minhas palavras.
Mais do que homem de palavras, sou veículo de emoções. Facilmente as expresso em palavras.
Ja tentei contar até 3 e sempre que o fiz as palavras que saíram após esta ínfima pausa vieram adulteradas. 
Conscientemente consigo medi-las, encurta-las e até mesmo baixar-lhes o volume numa espécie de fade out. Quando o faço perco-as e deixam de ser minhas, apesar de verbalizadas pelos meus lábios.
No silêncio também podemos escutar palavras, interpretá-las da forma como gostaríamos de as ouvir; ou então fazer o exercício contrário e corrompê-las quebrando a magia das palavras ditas em silêncio.. https://youtu.be/Ef1nJWtkprU

quarta-feira, 31 de janeiro de 2018

11000 (Des)alinhados.

Depois atingir mais de 11000 visualizações no meu blog questiono-me se os Desalinhados são uma maioria silenciosa, ou se pelo contrário, aquilo que escrevo serve como uma vacina para aqueles que aqui vêm ganharem imunidade ao desacerto. 
Sejam quais as razões, não deixo de ficar impressionado com este volume de cliques.
Sinto agora uma responsabilidade acrescida; a de me manter fiel ao propósito pelo qual criei este espaço.
Tudo aquilo que escrevi até hoje me fez sentido no exacto momento em que fiz; entretanto olho para alguns textos e alguns já não me fazem tanto sentido, outros sinto-os incompletos.
Apesar de tudo a coerência impera e escreverei sempre aquilo que sentir necessidade de expressar, com a diferença que agora consigo ser um pouco menos desalinhado e consequentemente conseguir ter um pequeno filtro que não tinha quando iniciei este Blog.

Obrigado pelas visitas, pelos comentários e pelo imenso carinho que tenho sentido neste meu pequeno espaço.

terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Margens

A margem de um rio separava-os. Ele, em pé com os pés dentro de água. Ela sentada no velho Cais, agora em ruínas onde milhares de barcos descarregaram cereais vindos dos Campos da Lezíria.
Olhavam-se ao longe. Em silêncio porque é no silêncio que as almas viajam.Na margem onde ele permanecia de pé, imóvel, imune ao frio que lhe congelava os pés, havia um velho barco a remos. Podia embarcar e ir ao encontro dela. Podia resistir e esperar um sinal. 
Não sentia medo. Não havia nada que o impelisse a ir ou a ficar. Havia um certo conforto naquele vai e não vai, como se nada dependesse dele . É certo que o barco estava na sua margem, mas talvez sentisse demasiada fadiga para remar. Nem sequer se tratava daquilo que mais importava; era a Paz que sentia que o fazia permanecer imóvel. Ela não conseguia chegar até ele. Não porque não tivesse meios para o fazer, nem por uma questão de vontade. Apenas porque às vezes não se consegue, sem justificações, sem uma razão racional.
Ambos se sentiam confiantes , sem dúvidas e sem quaisquer certezas. 
Não era o Rio que os separava. Na realidade apesar da distância continuavam próximos. Tão próximos como duas almas que um dia se cruzaram e se diluíram uma na outra tornando eterno esse misturar de partículas etéreas. 
Olhavam nos olhos um do outro e sorriam porque há olhares construídos de pureza despojada de qualquer dúvida ou obrigação. 
O Sol descia e a noite vinha devagarinho, até se tornar numa cortina negra que impedia que se continuassem a ver. 
Talvez lá tivessem continuado, imóveis nas suas margens; ou ele remasse ao seu seu encontro; ou então quando o dia raiou as margens estivessem vazias deles,  mas repletas de fragmentos de algo que perduraria para sempre no Tempo.


https://youtu.be/5PC68rEfF-o

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Deviam existir preservativos no século XVIII

Tenho um ódio de estimação. Immanuel Kant e o seu relativismo conceptual.
Para aqueles que o adoram, as minhas nada sinceras desculpas.
“Somos aquilo com que nascemos à priori”, diz o farsante.
Para mim isso soa-me a apologia à preguiça e ao crescimento empírico enquanto indivíduos.
Foda-se, somos muito mais do que aquilo que trazemos da barriga das nossas mães. Somos as escolhas que fazemos, somos o somatório das experiências que vivemos e justificarmos as nossas limitações pelo facto de termos uma personalidade formada antes de sairmos da cona das nossas mães, é a maior das Hipocrisias e do cinismo humano.
Kant era religioso, o que até me faz com que lhe dê um pequenino desconto. Afinal é mais fácil entregarmos os nossos destinos e as não escolhas a um Deus que nos manipula e que nos isenta de qualquer responsabilidade.
Ninguém nasce assassino, ninguém nasce não assassino. Ou então não precisamos de nos preocupar em fazer escolhas, ou jogar no Euromilhões.
Que se foda o Kant, nunca o perdoarei por ter tido apenas 17 valores em Filosofia por ter embirrado com ele.
Era só isto...

(P.S). Se alguém quiser elaborar ou desconstruir, que esteja à vontade.

domingo, 28 de janeiro de 2018

Sonhos com aromas

Hoje sonhei que tinha entrado num Autocarro vazio. Literalmente vazio, sem condutor nem passageiros. Sentei-me num dos bancos azuis e fiquei à espera que começasse a andar.
Estranhamente continuava parado e vazio. Ali permaneci sem qualquer pressa. 
Enquanto esperava sentado, surgiram-me várias memórias. Recordei-me da vez em que parti a perna em criança enquanto andava de bicicleta. Das noites em que subia ao telhado da casa de Férias dos meus Pais e me encostava à chaminé a fumar cigarros, a olhar para as estrelas e a escrever cartas à minha melhor amiga de então que passava as férias de Verão na Nazaré. Do meu primeiro dia de Escola e da excitação que senti ao entrar na sala de aula. Das broas de azeite e mel e que a minha avó materna fazia no velhinho forno a lenha e que as comia quentinhas com cacau quente. Do dia em que bati num colega da minha turma porque gozava com um dos outros que tinha asma e não podia jogar connosco à bola e que me valeu um mês de castigo sem ir ao recreio. Da primeira vez que vi o meu irmão e o peguei ao colo e de até então nunca ter sentido tanto Amor por alguém . Do dia em que fugi de casa porque tinha lido um livro sobre um homem que vivia numa floresta e fiquei tão encantado que queria fazer o mesmo. De quando a minha mãe teve de ficar internada no hospital uns dias e de como foi difícil para o meu pai,  para mim e para o meu irmão essa separação. Do meu primeiro beijo bastante atabalhoado. Do meu cão Jacky e do meu gato Spínola...
Percebo agora que não entrei num Autocarro, entrei numa máquina do Tempo que me transportou a lugares no Tempo que de alguma forma me marcaram e que ainda perduram nas minhas memórias. 
Acordei com uma sensação de conforto e nostalgia de coisas boas e outras menos boas, mas que me moldaram e me tornaram naquilo que sou hoje.
Adoro viajar, é das minhas predileções; Hoje fiz uma viagem no Tempo num autocarro de bancos azuis.
Time Machine

sexta-feira, 26 de janeiro de 2018

Estranhos enganos

Por vezes queremos falar com o João e quando damos por nós estamos a falar com a Joana.
Estranho.. de onde apareceu esta Joana? 
Será o Universo a testar-nos? Porque de repente aquilo que tinha para dizer ao João deixa de fazer sentido quando aquilo que a Joana tem para me oferecer é exactamente aquilo que eu precisava naquele momento.
Não sei para onde foi o João, nem de onde apareceu a Joana; mas é-me oferecido de bandeja o equilíbrio que eu tanto necessitava. Bem vinda Joana, até já João.
Mais do que Amor, Paixão, ou alguém que nos carregue ao colo, aquilo que mais falta nos faz é não sentirmos a necessidade de nos sentirmos sós. A solidão é terrível quando não a buscamos. 
Preciso do João, mas não tinha noção do quanto estava a precisar da Joana. 

Gosto de portas abertas, nunca se sabe quando poderá entrar uma Joana e mudar a nossa forma de olhar para aquilo que se está a passar à nossa volta.
Para o Joao e para a Joana

A Alma em retalhos


Sou por norma um céptico. Não acredito em Deus, nem no Céu, no Paraíso ou no Inferno.
Ultimamente acredito que as pessoas possuem uma Alma. Que habita nelas e que se vai dividindo e espalhando pelos sítios por onde passam.
Consigo sentir essa presença nos lugares que marcaram de alguma forma a passagem de pessoas que me são ou foram queridas. 
Ficou lá um bocadinho das suas almas, como um marco intemporal e continuo.
Normalmente aquilo que absorvo nesses lugares são pequenas doses de Nostalgia. Umas vezes abrem feridas, outras provocam sorrisos. 
Gosto de acreditar que a Alma é a essência mais pura das Pessoas, a sua base e a sua verdadeira identidade. 
Hoje passei por alguns desses lugares e senti a tua presença em cada um deles. 
Provocou-me sensações díspares, mas intensas.

Acredito que a Alma perdura para sempre , não como uma memória mas como um conjunto de retalhos daquilo que somos de verdade.
 The sound of silence