segunda-feira, 31 de julho de 2017

Seis anos de descobertas

O meu Filho fez seis anos na semana passada. Tem crescido tão bem. É um miúdo bastante especial.
Super intuitivo e perspicaz, com uma sensibilidade enorme. Adora animais. É apaixonado por Castelos. Gosta imenso de histórias, mas as que gosta ainda não foram escritas; dá-me tópicos e obriga-me a construir uma história à volta deles.
Neste post vou colocar algumas fotos(tenho milhares) desta caminhada que temos feito juntos.












A música favorita do Kukas


A Star for my Angel

Ontem o Kukas do nada, enquanto olhava para o Céu,  perguntou-me o seguinte:
Papá, existe algum homem que venda Estrelas?
Não soube o que lhe responder, mas fiquei a pensar nisso. Gostava tanto de lhe poder oferecer uma estrela.

Uma estrela para o Kukas


domingo, 30 de julho de 2017

Instalações Agrárias

Gosto de arte.
Gosto de arte moderna em especial.
Podemos encontrá-la nos sítios mais improváveis. Existem artistas que desconhecem que o são. No pragmatismo de quem apenas pretende proteger as suas alfaces dos pássaros e roedores e sem qualquer tipo de pretenciosimo , nasce arte como se de concepção divina se tratasse.




Song for the Lettuce


sábado, 29 de julho de 2017

Minimal repetitivo


 
   Sinto a cabeça a explodir. Literalmente. Já tomei dois comprimidos e a dor e o desconforto não se vão. Dormi mal, acordei demasiado cedo, tive um pesadelo que me fez saltar da cama e de tão intenso, ainda teima em não se dissipar.
Estou com a sensação de que a minha mente não consegue assimilar tudo aquilo que fabrica. Como se milhares de operários martelassem em milhares de bigornas, num ritmo desafinado e descordenado.
Preciso de uma bússola que me oriente e me guie para um local, tranquilo, limpo, onde sinta apenas uma ligeira brisa na face e uma cama de relva fresca.
Preciso do cheiro a alfazema, de caminhar descalço e sentir conforto.
Preciso de conseguir parar, poder ser surdo por momentos, poder gritar sem ouvir a minha voz.
Preciso da letargia inconsciente que não urge qualquer dinâmica.

Quero somente que o mau estar me dê folga e me permita ser funcional

a minha luta

A dieta do Kukas.

Fui com o Kukas experimentar o skate que recebeu no seu aniversário.
Depois de umas horas no parque, perguntei-lhe se queria ir almoçar ao Mac Donald's. Disse que sim.
Quando chegámos disse que queria ser ele a escolher porque está de dieta.
Então não queres hambúrguer?
Quero.
Não estás de dieta?
Estou.
Para acompanhar, queres umas cenourinhas?
Não, quero batas fritas.
Água?
Não, quero Coca Cola...

Aos seis anos temos uma estranha concepção de dieta.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Massa diluída

A filha da puta da balança está a dizer-me que perdi oito quilos em um mês e meio.  Odeio-a com todas as minhas forças. Preciso desses oito quilos e ela teima em não mos devolver.
Tomo uns comprimidos que o médico diz que engordam, tomo um complexo vitamínico que é suposto dar-me mais apetite. Como se diluem oito quilos desta forma?
A mente controla e domina o corpo, dizem-me com complacência, como para atenuar este pedaço de mim que a balança teima em me alertar que desapareceu.
Irrita-me que para além dela, quase todos à minha volta façam questão de verbalizar este meu definhar corpóreo.
Foda-se, sei que estou muito magro, não mo precisam de constantemente espelhar nas fuças( raramente tenho oportunidade de usar esta palavra).
Se quiserem a "receita" para perder oito quilos em mês e meio,  mando-vos logo foder(sem filtro e sem contemplações).

quarta-feira, 26 de julho de 2017

A simplicidade da cadência monocórdica.

look at the trailer...

Fui ver o mais recente filme de Jim Jarmusch, Paterson é o nome que o realizador lhe deu.
Quem conhece a obra de Jarmusch, sabe que é um realizador sem pressa. A cadência das cenas é calculada ao milésimo de segundo e só assim faz sentido.
Assim que nos sentamos na cadeira, embarcamos numa viagem tranquila, livre de percalços e quase terapêutica.
Jarmusch sabe como ninguém usar a fotografia nos seus filmes, chegando mesmo a ser sublime sem tentar qualquer tipo de pretenciosismo
A banda sonora é também uma das suas imagens de marca, minimalista, coerente com a velocidade dos frames e de tão simplista, trasforma-se num apêndice ritmado e precioso.
As personagens são uma delícia . Uma espécie de tarte de carne quentinha numa noite fria de inverno.
O filme é poético na sua génese e a poesia presente do início até ao final é crua, mundana, despretensiosa e coerente com a visão que o Realizador teve para este filme.
Para aqueles que acham o filme "lento" e vazio de conteúdo, com personagens enfadonhas e desprovidas de ritmo, convido-os a verem a sequela do Die Hard e a serem muito felizes.

Nota: O resumo curto e pouco explícito é completamente propositado.

terça-feira, 25 de julho de 2017

A casa da Saudade

Não existe maior zona de afectos, do que a da chegada de passageiros de um Aeroporto.
Pessoas que esperam por pessoas. Ali vi dos mais longos abraços, apertados, sinceros.
Na azáfama de quem chega e de quem espera, uns mais ansiosos do que outros, uns maravilhados pela aventura que vai começar, outros porque lhes pagam para esperar, existem os que esperam como se essa espera fosse quase eterna.
Gosto de pessoas, especialmente daquelas que esperam.
Ali a Saudade está mais vincada e entranhada do que em qualquer outro lugar.
Gosto dos que sentem saudade, daquela saudade que já feriu e que finalmente explode num vulcão de afectos.
Gosto de afectos, dos reais, daqueles espontâneos.
Ali é onde eu sinto maior respeito e carinho por pessoas. Gosto das pessoas que me conduzem a lugares confortáveis, que me roubam sorrisos sem que nunca o venham a saber.
Os abraços vêm sem etiqueta

segunda-feira, 24 de julho de 2017

#aminhacasaeumzoo

Há cerca de dois meses a miúda foi ao Canil Municipal e enviou-me uma foto de um cachorro, perguntando-me se eu queria que o adoptassemos. Apesar dos três gatos que já temos, a minha resposta foi imediata. Trá-lo, disse eu.
A minha casa já parecia um Zoo, que diferença poderia fazer adoptar mais um..
Esta coisinha fofa, de olhar meigo e carente veio trazer uma nova dinâmica lá em casa. Não estávamos habituados a pisar cocó de cão nos tapetes, nem xixi no chão da cozinha (culpa minha de andar descalço e não acender a luz), as minhas havaianas e as do meu filho compradas à cerca de uma semana estavam claramente a necessitar de reforma e o pudim tratou disso. Nunca tínhamos tido uma inundação na cozinha, ele ajudou roendo a mangueira da água da máquina de lavar loiça, obrigando-nos a uma limpeza profunda.
Quando o fomos buscar, comprámos uma cama super fofa que aparentemente ele não gostou e retraçou completamente. Culpa nossa de não lhe termos pedido opinião.
É um cão super especial, adora ir à rua durante uma ou duas horas, mas como é bem educado só faz as necessidades quando chega a casa. Entretanto passados estes dois meses já não se porta tão bem, já faz quase sempre xixi e cocó na rua.
Os gatos ficaram radiantes com a vinda dele, finalmente agora tinham alguém que andava constantemente a correr atrás deles para lhes roer a cauda e lhes comia a comida. Eles não gostam que a ração esteja nos seus pratos demasiado tempo.
Apesar de tudo de bom que tenho relatado neste texto, existe em mim uma certa tristeza com a vinda dele; já não imagino a minha casa e a minha vida sem a sua presença. Arrebatou-me de tal forma que o trago comigo para o emprego e o levo quando vou ao Colégio buscar o Kukas, desestabilizando completamente os coleguinhas dele que vêm em magotes rebolar-se anarquicamente no chão com o pudim. Nos dias em que não o levo os miúdos pedem-me sempre para o levar no dia seguinte.
Passei a mudar de hashtag quando colocava fotos dos meus gatos no meu instagram. Passou de #aminhacasapareceumzoo , para #aminhacasaeumzoo.


Bolonhesa com rabo de gato escondido


Ontem à noite decidi mimar-me. Fiz a minha Bolonhesa que além de ser fantástica (porque o é) , afasta maus olhados, espíritos malignos e fantasmas inconvenientes. É também um analgésico para corações destroçados, um complemento para corações apaixonados, cicatriza feridas abertas na alma e é rica em calorias emocionais benignas.
Não dou a receita, porque há segredos que não se partilham.

Nota: Cozinho sempre com banda sonora

domingo, 23 de julho de 2017

Ricardo és livre de grelhar peixe espada preto na minha casa.

Sobre sonhos... esta noite Sonhei que o Ricardo Araújo Pereira se tinha mudado para o meu T1 que comprei há cerca de 16 anos e onde já não vivo há uns 6. Para adensar ainda mais o sonho, ele levou consigo um filho gordinho, de caracóis louros. O Ricardo pediu-me guarida para pode grelhar peixe espada preto, algo que por uma razão que desconheço não podia fazer na sua casa. No sonho pedia ao seu filho que fosse ao supermercado comprar nêsperas Marroquinas. Pediu-me também que lhe emprestasse o meu portátil, porque se tinha esquecido do seu. De repente o Ricardo desapareceu, levou com ele o meu portátil e deixou-me como "caução" o puto de cabelos encaracolados. Entretanto dou comigo numa casa repleta de pessoas onde decorria uma festa temática, cujo tema era cada pessoa mascarar-se de outra que estava presente. Por serem em número ímpar e possivelmente por ter sido o último a chegar, tive de me mascarar de mim mesmo e estranhamente não me reconheci.

Domingos suaves.

Acordar cedo ao Domingo, sair de casa, ver a Cidade deserta, silenciosa e caminhar até ao Emprego, faz com que o esforço não seja assim tão pesado.
Acordar devagarinho

sábado, 22 de julho de 2017

A soma das incertezas

Existem aqueles que ficam e os que partem. Não interessam as razões da escolha. Os que ficam, por opção ou por conforto, podem ser tão mais ou menos infelizes do que aqueles que partem pela imperatibilidade da fuga.
Fugir é tão legítimo como ficar. Não se trata de uma luta entre o bem versus o mal. Apenas uma carta que podemos jogar.
Sou dos que ficam, mas também sou dos que partem. Sou dos que agarro e dos que permito que soltem amarras.
Em consciência não sou nenhum de ambos. Incongruente? Completamente...
Por vezes dou comigo a rodopiar num Carrocel de Cristal, que gira no sentido contrário ao dos ponteiros dos relógios, tentando contornar (enganar) o Tempo.
Vã demanda esta; impossível contornar aquilo que nos manieta através da sua vontade irrepreensível e derradeira.
Sou o exemplo da pluralidade da inconstância e da singularidade do desejo atroz de não ter de suportar o fardo da inevitabilidade.
Nunca a mudança me condicionou. Permito-me aqui ser desonesto e reafirmar que nunca a mudança me moldou. Sou o somatório de escolhas e de comportamentos, de erros conscientes e de outros camuflados no meu desiquilíbrio emocional. Racionalmente não falho tanto, mas nem sempre tenho a capacidade de escolher entre a racionalidade e a loucura congénita construída sobre alicerces de areia solta que me conduzem a lugares lúgubres onde velhos e novos fantasmas dançam ao som de uma estranha melodia monocórdica, de mão estendida para me guiarem.
Recordo-me de ter escrito cem vezes num quadro negro de lousa com giz branco a frase: "Só por hoje vou contrariar a minha vontade e não caminharei descalço sobre vidros de garrafas partidas durante um festim de apologia à demência para o qual não fui convidado". De todas as vezes em que escrevia esta frase, aquilo que eu retinha era sobre qual a razão pela qual  eu não tinha recebido um convite para este banquete.
Agora sei que não devia de ter faltado às aulas sobre o Cartesianismo. Preciso tanto das ferramentas que aí eram distribuídas gratuitamente e sem reservas.
Questiono-me se ainda terei tempo para voltar a poder falhar. Estou certo que falharei, mas tenho dúvidas se o Tempo estará ainda à espera, ou se já partiu deixando-me com um relógio avariado nas mãos, sem um esquema e com um mecanismo tão complexo e difuso que nada mais me restará do que me sentar e esperar que o Tempo um dia se lembre e me venha resgatar a este lugar estranho dimensionalmente vazio.

Got the music in you baby ...Tell me why


segunda-feira, 17 de julho de 2017

A ilusão da razão.

Tenho uma casa, um emprego, uma vida estável e no entanto sinto-me um sem abrigo. É como se nada me pertencesse, como se não tivesse raizes. Estou perdido num mapa repleto de encruzilhadas, não encontro um rumo que me leve a lado algum. Tenho os pés assentes no chão e ainda assim sinto vertigens,  como se fosse um funâmbulo a atravessar duas montanhas bem altas em cima de um arame fino e frágil, sem rede para me amparar.
Tenho um peso que me carrega e do qual não me consigo livrar. Tenho os dias que me aliviam, as noites que me atormentam e cada vez menos os sonhos que sempre me alimentaram.
Sou um falso pragmático. Sou um descrente convicto. Sou um crente na ilusão.
Consigo ser o meu maior amigo, mesmo quando me fustigo. Sou o perfeito anormal que implora por um fio condutor. Consigo ser melhor com os outros, mesmo quando comigo de pés atados teimo em não desatar os nós que me prendem.
Sou sombra e luz, sou verdade e mentira. Sou o espectro de uma imagem que já foi real e que o Tempo, esse filho da puta foi desgastando entre sorrisos de malícia e regozijo.
Já me pertenceram as melhores dádivas,  já fui príncipe sem nunca ter sido sapo. Ja caminhei sobre ninhos de serpentes sem nunca ter sido mordido. Já provei o veneno e sobrevivi.
Hoje sou um sem abrigo, vazio de alma, sedento de esperança, isento de nada e sem nada que me mova.
Hoje sou um sem abrigo, a quem até as estrelas que no céu foram sempre o maior conforto, ousaram roubar num gesto implacável e mordaz.
Hoje sou um sem abrigo que recusa alimento, não por orgulho mas por falta de apetite.
Hoje sou um sem abrigo que um dia sonhou com um campo repleto de papoilas vermelhas, onde iria construir a sua casa, o seu Lar.

quinta-feira, 6 de julho de 2017

Desapego

Como transformar o desapego em algo positivo? Para muitos significa afastamento, desligar, desistir.. Para mim desapego significa confiar, entregar, libertar.
Há uns tempos escrevi aqui um texto acerca do aconchego, da dedicação, da preocupação pela pessoa que está comigo. Da minha necessidade de estar sempre presente, mas esqueci-me de algo primordial; eu não posso viver a vida dos outros. Estar focado na outra pessoa, retira-me o foco em mim. Desapego é no fundo olhar em primeiro lugar para mim, entregar a responsabilidade das escolhas e do trajecto que o outro decidiu fazer e sobretudo confiar na sua capacidade de lidar com as suas coisas.
Desapego é deixar que a outra pessoa bata com a cabeça na parede se for essa a vontade dela e ter o kit de primeiros socorros para lhe tratar das feridas. Desapego é amar incondicionalmente, sem mudar a essência do outro.
Desapego é estar sem esforço e de uma forma invisível.

terça-feira, 4 de julho de 2017

Aquilo que eu mostro nem sempre é aquilo que sou

Hoje em conversa com uns amigos, disse-lhes que havia uma qualidade minha que eu prezava imenso e que era o facto de ter plena consciência dos meus defeitos. Não é algo congénito, é uma qualidade adquirida. Não acordei um dia e tive uma epifania. Foi um processo empírico. Olhar para dentro e perceber o quanto disfuncional consigo ser. Perceber que me é permitido errar, mas que não me é permitido perpetuar os erros. Esta consciência que hoje tenho dos meus defeitos obriga-me a lidar com eles e sobretudo a encontrar formas de os corrigir. Um dos maiores defeitos que eu tenho é (era) ter a presunção que sou óptimo a cuidar dos outros. Aprendi que sou péssimo a cuidar de mim e que mascaro essa minha dificuldade, tentando ser a rede que ampara as quedas daqueles que amo.
Tomei a decisão de me colocar em primeiro lugar, cuidar de mim, fortalecer-me mental e psicologicamente e só dessa forma conseguirei ter a força necessária para segurar a  rede que ampara aqueles que eu amo. Gostar mais de mim, não implica que goste menos dos outros. Olhar mais para mim é uma forma de tirar o peso de cima daqueles a quem eu de uma forma quase obsessiva tento carregar ao colo.
Não me basta ser uma boa pessoa, preciso de ser de uma forma contínua uma melhor pessoa e isso só é possível fazendo uma introspecção e alterar objectivos e comportamentos.
Outra coisa que percebi é que por vezes aquilo que eu considero ser o melhor para mim, não tem de ser necessariamente o melhor para os outros. Respeitar o espaço das outras pessoas não deveria de ser uma necessidade, tem de ser uma obrigação.
Sempre achei que era um tipo super forte e que aguentava tudo. Sou forte e aguento muita coisa, mas agora que parei um bocadinho para olhar para mim percebi que preciso de ajuda, não sou auto-suficiente e que até sou um pouco co-dependente e que as ferramentas que preciso para melhorar estão dentro de mim. O esforço tem de ser obrigatoriamente meu, mas também tendo consciência de que sozinho não sou capaz, não ter receio de pedir ajuda. Ajuda essa que não passa por me levarem ao colo, mas por me darem a mão se eu sozinho não conseguir percorrer esse caminho.
É engraçado como sabemos sempre aquilo que é o melhor para os outros, quando não fazemos a mínima ideia daquilo que é o melhor para nós.