sábado, 20 de outubro de 2018

A miúda que escolheu o sapo em vez do Príncipe.

Ontem quando te telefonei para te convidar a vir a minha casa para assistires ao video que fiz das minhas últimas Férias, por mais estranho que pudesse parecer à generalidade das Pessoas, não senti que estivesse a correr qualquer risco.
Tu melhor que ninguém sabes que gosto de correr riscos. Não aqueles calculados. Por isso o meu convite teve unicamente a ver com partilha.
Eu sei que aquilo que irias ver não te iria em nada surpreender. Conheces-me demasiado bem.
A nossa relação sempre foi pautada pelo respeito e é por isso que ontem tive uma das melhores noites dos últimos tempos. A nossa cumplicidade é, sempre foi genuína.
Conheces tão bem a minha essência, que se eu te tivesse contado o contrário daquilo que ontem viste, nunca irias acreditar em mim; e é exactamente isso que faz de ti uma pessoa tão especial.
Fala-se tanto de aceitação, mas pratica-se tão pouco.
Enquanto assistíamos os três ao vídeo, nas imagens mais fortes eu olhava para ti e via o teu sorriso, de quem sabe que aquele maluco é exactamente assim e que precisa de toda aquela adrenalina para ser verdadeiramente feliz.
Tenho noção que não incentivas, mas também não julgas e que se for preciso serás a primeira a amparar-me a queda.
Viste como fui feliz nestas Férias e senti da tua parte uma felicidade genuína por o teres presenciado e sentido.
O resto da noite foi perfeito e só quando recebi aquele telefonema do outro lado do Atlântico é que percebemos que o relógio se tinha adiantado a nós e que eu estava quase a ir trabalhar.
A sms que me enviaste enquanto ainda estavas comigo, deixou-me a sorrir como um tolinho.
As minhas próximas férias, serão também as tuas. Sabes que serão diferentes daquelas que tens tido, mas também sei que o desejas tanto quanto eu.
Confesso-te também que hoje me alegrou ter-te oferecido três desejos e tu teres guardado um deles. Afinal não se devem desperdiçar desejos, já que são tão sagrados. Eu já tinha concretizado um dos que me ofereceste e hoje concretizei o segundo. O outro também irei guardar.
Tenho a certeza de que a noite de ontem ainda nos aproximou mais e estou radiante porque sei que hoje estarei novamente contigo.
Já quase que sei dizer o teu nome e isso também me enche de orgulho. Tu és paciente e sabes que lá chegarei.
Até já miúda gira...

Everything I Am Is Yours

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Cesto de vime.

A Felicidade pode ser servida em gramas.
Queremos quilos dela e não nos apercebemos que ela cabe num grão de areia.
Andaremos demasiado distraídos, ou em negação?
É tão mais fácil deixarmo-nos levar pela corrente, do que lutar contra ela.
Ainda assim, preferimos na maior parte das vezes remar contra algo que afinal apenas nos está a levar para terra segura.
É a nossa dificuldade em aceitar o desconhecido.
Querermos controlar o incontrolável.
Não existem Vidas vazias.
Existem Corpos vazios. Despojados de Alma.
A Alma é uma semente que tem de ser alimentada para germinar e florescer.
Quantas vezes nos esquecemos de a regar.
Somos preguiçosos congénitos, que estamos sempre à espera que alguém se lembre que existimos.
Valorizamos o acessório e perdemo-nos na estrada que nos levaria ao essencial.
Somos feitos de ferro forjado, mas sentimo-nos como que de cristal.
Obstinados, incongruentes e ao mesmo tempo conformados.
A antítese do Ser sumptuoso que deveria de aflorar em cada um de nós.
Odeio tudo aquilo que é definitivo.
Desprezo aqueles que ferem crianças com o seu egocentrismo e com uma frieza assustadora.
Adoro as crianças porque só elas conhecem o amor incondicional e só elas ficam confusas quando de repente os adultos que elas veneram se afastam sem olharem para trás.
Com os anos tenho aprendido a não perdoar e faz-me tanto sentido porque existem actos que não se podem perdoar.
Comecei por falar de Felicidade..




Diz?

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Sem sonda.

Ainda me recordo de ser alimentado através de uma sonda. Não foi assim há tanto tempo. Porém existem várias formas de medir o Tempo. Apesar desta recordação ser tão próxima, tenho a sensação de que o Tempo se foi desdobrando e acrescentando mais tempo, parecendo dessa forma que algo tão recente se tenha transformado numa memória ténue fruto de um Passado longínquo.
Parecia tudo tão mais fácil, sem exigir grande esforço. 
Limitava-me a deixar que o alimento viesse até mim sem ter sequer de o mastigar.
À distância percebo que tudo estava errado. Que a letargia à qual me entreguei e que me parecia tão confortável, era na verdade um muro revestido a arame farpado que não me permitia ver aquilo que estava para além dele.
Não havia dor. Não havia angústia. 
Aquilo que existia era na verdade uma realidade disfarçada pela necessidade que eu tinha em acreditar que o Paraíso terminava onde começava o muro e que por detrás dele apenas deserto.
Quando me retiraram a sonda, veio o pânico, a dificuldade em aceitar que me conseguiria alimentar sozinho, sem o auxílio de algo externo.
Eu não sabia, mas consegue-se aprender a mastigar de novo. 
Foi um processo que para mim exigiu um esforço enorme, mas que gradualmente me tem proporcionado manjares divinais que provocam fogo de artifício no meu palato.
Comigo teve de ser à bruta. Talvez fosse mesmo a única forma. 
Hoje não saio de casa sem fazer o meu café de saco, as minhas duas torradas com queijo da ilha e fiambre, os meus 3 ovos mexidos e sentar-me à mesa a desfrutar da minha primeira refeição do dia. Deixei de correr, de sair à pressa com um bocado de pão na mão e comê-lo apressadamente, sem sequer lhe sentir o sabor.
O melhor de tudo é que quando me sento de manhã naquela mesa, não me sinto só. Deixo-me levar pelo prazer que o alimento que hoje eu preparo para mim com tanto afinco, me proporciona.

Nunca é tarde demais para recomeçar. A dor e a angústia têm vindo a ser substituídas por algo novo, uma ementa de novos sabores com ingredientes cuidadosamente selecionados
Enter and close the door.

quarta-feira, 25 de julho de 2018

Epitáfio.

Esta noite tive um sonho estranhíssimo.
Sonhei com todas as pessoas que já conheci ao longo da minha vida. Algumas já nem me recordava delas.
Foi bastante intenso, na medida em que consegui meter num sonho centenas de pessoas com as quais ia falando.
Quando acordei fui pesquisar acerca deste tipo de sonhos.
Li algures que pode ser um pronúncio de morte. Se for isso é chato porque tenho roupa para lavar e estender.
Para me precaver e se de facto o senhor de capa negra com capuz e de foice me vier buscar, quero deixar aqui alguns desejos de forma a que me sejam satisfeitos.
Não quero velório. Quero que o meu corpo siga directamente da morgue para o Crematório e depois de cremado que com as minhas cinzas fertilizem um canteiro de alfazema.
Não quero que ninguém acompanhe a cerimónia fúnebre. 
Na noite do suposto velório (que não irá acontecer), quero que os meus amigos se reúnam numa sala e assistam a alguns dos Filmes da minha vida:

Der Himmel über Berlin, do Wim Wenders.
- Shame, do Steve McQueen.
- Paris Texas, também do Wim Wenders.
- Fallen Angels, do Kar-Wai Wong
- Lost in Translation da Sofia Coppola.
 Se ainda houver resistentes que não tenham adormecido, gostava que vissem também o Clockwork Orange do Kubrick.

No dia da minha cremação e durante o processo da mesma quero ter banda sonora.
Deixo portanto aqui uma playlist:

- Wanderer, da Cat Power.
- My ideal, do Chet Baker.
- Frosted Candy,dos We are the Muffy.
- Racing like a Pro, dos The National.
- Distant Sky ( de preferência a versão ao vivo no Concerto de Copenhaga) do Nick Cave.
- Sesame Syrup, dos Cigarettes After Sex.
- Melody Noir, do Patrick Watson.
- Dark Saturday, dos Metric.
- The Whole Summer, do Lo-Fang.
-Pensa bem, da Joana Espadinha.
-Put Your Money on Me, dos Arcade fire.
-With Animals, do Mark Lanegan.
-Cactus, dos Teleman.
-Get Your Shirt, dos Underworld com o Iggy Pop.
-.Alabama Song, do David Bowie.
-Nature Boy, do Jonh Coltrane.
-Solitude, da Martina Topley-Bird.
-Catch, dos The Cure.
-Pink Rabbits, dos The National.
-Cure for Pain, dos Morphine.
-Decades, dos Joy Division.
-This Old House, dos Madrugada.
-I Am the Cosmos, do Pete Yorn.
-Boys Don´t Cry, dos The Cure.
-Funnel of Love, dos SQURL.
-Heroes e Ashes to Ashes do david Bowie para finalizar.

Se não respeitarem estes meus desejos condeno-vos a todos a uma vida miserável, onde a Maria Leal estará sempre presente até ao final dos vossos dias.



quarta-feira, 18 de julho de 2018

Non(sense)

Cansei-me de experimentar novas fragrâncias.
Nenhuma delas me levou até ti.
Já não me recordo do teu cheiro, tenho-o procurado por onde passo na esperança de o reconhecer.
Deixaste-me quase nada.
Criaste em mim um vazio etéreo que não consigo preencher.
A multidão é demasiado vasta e o esforço para te encontrar demasiado pesado.
Ainda me recordo de algumas coisas.
Do sorriso nada fácil, do inconformismo tão premente e do vácuo que o teu olhar originava.
Lembro-me de ti como uma silhueta no chão de calçada gasta pelos passos apressados de quem não consegue parar para simplesmente contemplar.
O meu GPS diz-me para seguir em frente e quando chegar à bifurcação virar à esquerda.
Quando finalmente lá chego é obrigatório virar à direita.
Desligo-o e sigo o meu instinto.
Sigo o meu instinto e lentamente sinto-me a desligar.
Devia de ter deixado um rasto de pedaços de fotografias rasgadas para não me perder.
Queimei-as, destruí-as e agora não me resta nada que me oriente.
Paradoxalmente sinto que não quero regressar.
Que estar perdido me permite descobrir novos caminhos, novos rostos, novas demandas.
Já não é sobre ti.
Aquilo que sobrou foram algumas gramas de cinzas que lentamente vão sendo levadas pela brisa destas manhãs de Verão.
Tenho uma prateleira vazia de troféus e repleta de pó.
Chegou a hora de começar a respirar sem o auxílio de uma máquina.
Alguém que a desligue por favor.
Já consigo respirar sózinho.


once upon a time



terça-feira, 17 de julho de 2018

Fogo- fátuo

Li atentamente tudo aquilo que escreveste nas tuas mensagens.
Denoto alguma mágoa e alguma culpa. Como se tu devesses controlar o efeito causado pelo vírus que assombrava e minava tudo aquilo em que acreditavas.
Penso mesmo que aguentaste até onde conseguiste aguentar e sei que não deve ter sido nada fácil lidar com aquilo que esse vírus silencioso ia destruindo.
Identifico-me com essa impotência de controlar as emoções.
Talvez não exista culpa, mas somos aquilo que vivemos e aquilo que recebemos.
Sei o que são olhares vazios e silêncios ruidosos.
Sentiste-os?
Percebes agora que afinal não estavas assim tão enganada?
Que o Tempo, esse gajo estranho, acabou por te dar razão?
Durante a vossa estória aquilo que tiveste nas tuas mão não passava de um fogo-fátuo.
Por hábito, ou por defeito não conseguimos compreender aquilo que não controlamos.
Nada daquilo que aqui escrevi apazigua a angústia, a incerteza e sobretudo a esperança.
Perdermo-nos a olhar pelos olhos dos outros e  questionar aquilo que os nossos olhos vislumbram, é tão usual.
Espero que consigas seguir em frente com a certeza de que nada estava nas tuas mãos.
Nunca esteve.

Reticências



segunda-feira, 9 de julho de 2018

(Im)perfeição

Jamais me queixarei de ter optado ser Cordeiro e viver no meio dos lobos.
Como a erva e deixo-lhes a carne.
Sou carne tenra que os lobos não tocam.
Somos azeite e vinagre. Complementamo-nos sem nos misturarmos.
Essa harmonia conquistámo-la.
A nossa sede e a nossa fome é repartida em partes desiguais.
Sem atropelos, caminhamos numa formação pré-estabelecida.
Não ousamos ser iguais e estranhamente não somos assim tão diferentes.
As armadilhas estão lá. Eu sei e eles sabem.
Temos as nossas rotas, que convergem sempre no mesmo local.
Nada nos impele a parar.
Sabemos que antes de atravessar a estrada, temos de olhar para ambos os lados.
Existem sons familiares que nos guiam e nos afastam das escarpas escondidas pela densa vegetação.
É como confiar que os abutres não tocarão na carcaça com uma Fé inabalável.
Sigo os lobos porque só eles conhecem o poder que uma alcateia pode ter.
Eles deixam que eu os siga, porque apenas um cordeiro sabe que a fragilidade não é uma imperfeição.
the perfect blend


domingo, 1 de julho de 2018

Até já...

Nos últimos quinze dias tenho trabalhado que nem um cão da lama.
Sem uma folga, sem um minuto durante o dia em que consiga parar.
Tem sido extenuante. Sinto-me correr os 100 metros em repeat.
Amanhã vou de Férias. Sinto que as mereço tanto.
Vou com o meu filho, as nossas primeiras Férias em que estaremos apenas os dois.
Serão quinze dias em que estaremos em comunhão.
Este mês ele faz 7 anos, cresceu tão depressa. Conversamos imenso sobre variadíssimos temas.
Faz-me sorrir com determinadas perguntas que me faz e cuja resposta por vezes é tão difícil de lhe dar.
Sinto uma disponibilidade enorme para com ele. Damos tanto um ao outro.
Tem estado de Férias com a mãe e chega hoje. Perguntei-lhe se estava preparado para ir de Férias novamente amanhã com o Papá; se não estava já farto de praia? Respondeu-me que não, que queria muito ir de Férias novamente.
Alguns colegas dele da Escola sentem inveja do Kukas porque os pais estão separados e assim ele tem Férias a dobrar. Alguns já disseram aos seus pais que eles também se deviam de separar para terem mais Férias.
Este ano tem sido de grandes mudanças, a todos os níveis.
Ao fim de 20 anos, estou sozinho e tem sido um processo de aprendizagem.
Mudei de casa, comprei uma onde sinto uma óptima energia.
Tinha uma relação de três anos que terminou em Janeiro e que no inicio me foi muito complicado lidar com essa separação.
Neste momento sinto que essa relação terminou na altura certa e tenho aproveitado os benefícios de estar sozinho e de me sentir em paz e tranquilo desta forma.
Na verdade não estou só. tenho alguém por quem sinto um Amor enorme, diferente de tudo aquilo que eu conhecia.
Temos a relação perfeita, porque não temos "uma relação".
É uma coisa tão nossa que não é sequer explicável.
Com esta pessoa aprendi o que é dar e receber em moldes iguais.
Os nossos momentos são especiais e enchem-nos de uma forma que nos bastamos quando estamos juntos.
Cresci bastante emocionalmente, o que me deu ferramentas de racionalidade que nunca tive.
Amanhã vou de Férias com a sensação de que não trocaria estes 15 dias com o meu filho por nada deste Mundo.
A minha banda sonora nos últimos dias

terça-feira, 19 de junho de 2018

So Fuckin Special

Depois de muitos anos, comecei a fazer coisas que eram importantes para mim. 
A Música é uma delas. Não tenho voz para cantar, mas fiz a minha versão do Creep dos Radiohead para desenferrujar.


quarta-feira, 13 de junho de 2018

"We have a Modern Love"


Confesso que estava nervoso quando ia no carro ter contigo para o nosso primeiro jantar.
Já nos conheciamos há tantos anos e nunca haviamos estado juntos.
Estavas linda e eu ao teu lado parecia um miúdo que acabara de chegar no seu skate.
O nervosismo desapareceu de imediato e de uma forma espontânea.
Ambos falávamos a mesma língua e isso deixou-nos de imediato à vontade.
Foi tudo tão rápido e ao mesmo tempo tão natural.
Passaram três meses e parece-me que foi há três dias.
Já falámos sobre isso, é como se nos conhecessemos desde sempre.
Temos a relação perfeita.
A Conversa nunca se esgota. Respeitamos os silêncios um do outro.
É um estranho, mas quente amor que nos une.
Os últimos meses não têm sido fáceis para ambos. Especialmente para ti.
Ainda assim sabemos que nos temos se necessitarmos.
Não precisamos de pedir seja aquilo que for um ao outro, porque ambos não precisamos de palavras para saber aquilo que o outro necessita.
Sabes que ficámos gravados a fogo um no outro?
Adoro a forma como não fazemos planos. Vivemos um dia de cada vez.
Conseguimos partilhar o mesmo espaço e estarmos juntos, ou sem darmos conta um do outro.
Tenho saudades de me acordares. És perfeita a fazê-lo.
Gostava de te poder dizer que tudo irá ficar bem, mas sabes que não te minto.
Aquilo que te posso prometer é que estarei cá da forma que quiseres que eu esteja. Como sempre foi até hoje.

Para o Cabé
Our thing


domingo, 10 de junho de 2018

Demasiado formal

Todas as células do teu corpo são indivisíveis.
É um defeito congênito, ou uma coincidência rara.
Nunca te agarras a nada que te pertença.
Eu sei que é propositado. Faz parte de um tipo de charme translúcido.
Claro que não sabes daquilo que estou a falar. Nunca estiveste atenta.
Escolhes sempre as estradas mais iluminadas para chegar aos destinos mais recôndidos.
A antítese da racionalidade elaborada.
Sim, porque eu sei. Sei tão bem.
Crias imagens falsas de falsos desejos.
Nao te iludas, até os cegos tèm a sua visão do Mundo.
As vezes em que gritei até quase te furar os tímpanos foram em vão, não me escutaste apesar de gritar até ficar sem voz.
As dúvidas que me assombravam afinal eram estéreis.
Tenho quase a certeza de que no dia em que nasceste, foi o dia em que comecei a definhar.
Não existe aqui culpa nem culpados.
Falo de alguém que nunca percebeu o significado do verbo alimentar.
Podia dar-te algumas pistas, mas nunca lá chegarias.
Estou a um passo de criar um novo conceito; perpetuar no Tempo as raízes de uma nova árvore de fruto.
Já não vais a tempo, já não tenho tempo.
De fora para dentro

Super-Herói

Esta noite recebi uma lição gigante do meu filho de seis anos.
Quando nos preparávamos para adormecer o Kukas desatou a chorar. Assim do nada.
Perguntei-lhe porque chorava, se lhe doía algo?
Respondeu-me entre soluços que estava a ter um pensamento mau.
-Que pensamento mau estás a ter filho?
-Que o Papá pode ficar doente e morrer, respondeu-me ele.
Abracei-o e disse-lhe que tinha um segredo para lhe contar, mas que ele não podia dizer a ninguém.
Acenou que sim e perguntou-me qual era o segredo.
-Olha filho, não podes dizer a ninguém, mas o Papá é um Super Herói muito forte e nunca irá ficar doente. Vou é ficar velhinho, mas estarei sempre ao teu lado.
Agarrou-se com força ao meu pescoço e assim adormeceu em paz.
Recebi ontem uma lição de Amor incondicional de uma criança de seis anos.
Escrevo aqui imensas vezes sobre o Amor e chego à conclusão que o meu puto compreende-o muito melhor do que eu.
Não existe maior declaração do que esta. Isto é que é Amor, tudo o resto são engodos que as nossas cabeças nos lançam.
Não existe maior pureza e verdade do que o medo de uma criança de seis anos perder o seu pai e isso ser uma fonte de angústia para ela.
Irei ser um Super-Herói e cumprir a promessa que fiz esta noite ao meu filho. 

Hoje sinto-me inebriado de Amor, carinho e Paixão.

sábado, 9 de junho de 2018

100%

Se todos os sonhos se concretizassem, deixaríamos de sonhar.
A beleza está na incerteza. No desejo de algo intenso pelo qual ansiamos.
Existe uma fronteira entre aquilo que é transcendente e a transcendência da inevitabilidade
Tememos o que é efêmero, mas prolongamos a agonia infinita da dor auto-infligida.
Tenho a certeza daquilo que não quero e ainda assim não me desvio do caminho.
Uma demanda masoquista da qual não consigo(não quero) fugir.
São os filhos da puta dos sonhos.
Não são os culpados, são o veículo que escolhi para mim.
Quando faço uma restrospectiva lúcida chego sempre à mesma conclusão; nada faria diferente.
Tenho aprendido à bruta. É assim que funciono.
Nada pela metade. Sofrer faz parte do processo.
São os cabrões dos sonhos.
Quando espetei pela primeira vez uma agulha na minha veia, sabia perfeitamente onde aquele gesto me ia levar.
Quando arrisquei todo o dinheiro que tinha numa mesa de casino, tinha a noção de que podia perder tudo.
Quando me entreguei sem reservas a alguém, fi-lo de olhos abertos.
São a merda dos sonhos..
Tenho algumas feridas ainda abertas, mas milhares de cicatrizes.
Cada cicatriz baptizada com um nome.
A minha Alma nunca passou fome. Nunca passou sede. Tenho-lhe oferecido banquetes contínuos.
Quantos de vós já arriscaram verdadeiramente?
Sabendo que podem perder tudo.
Não consigo viver de migalhas.
São a porra dos sonhos.

Sad true

sexta-feira, 8 de junho de 2018

Adenda

Possuis o mapa de todas as minhas feridas por cicatrizar. Aproveitas-te dele para continuares a tocar-lhes de forma a que não cicatrizem.
Tudo aquilo que me pedes, é tudo aquilo que não me dás.
Crias em mim uma mágoa que se vai alimentando em vez de definhar.
Existem as tuas verdades, as minhas verdades e a verdade Universal.
Percebo que para ti é mais fácil fechares-te nas tuas. Penso mesmo que inconscientemente te apazigua alguma culpa. Porque a culpa é transversal aos dois.
É-me tão fácil aceitar a minha e lidar com ela; já tu usas a minha para desculpar a tua.
A imagem que criaste de mim não é real e eu não posso, não devo, não aceito e não me revejo nela.
Sou muito mais do que aquilo que vês. Na realidade, nunca fizeste um esforço para perceber isso, porque o teu foco foste sempre tu. 
Dizes-me que darias um rim por mim, pois eu daria o meu coração por ti. Sem pestanejar.
Sei muito mais sobre o Futuro do que tu. Sei porque apesar de pensares o contrário e apesar de toda a minha loucura, estou mais lúcido do que tu. 
Adoras usar a palavra confiança, mas devemos valorizar as palavras conhecendo-lhes o sentido.
Devias aprender mais sobre Justiça. Não devemos julgar ninguém, sem pelo menos dar-lhe a hipótese de se defender. Fazes justiça pelas tuas próprias mãos e isso é algo tão injusto e de um enorme egocêntrismo.
Existem pessoas que não se conhecem a elas próprias (passe o pleonasmo) e tu és uma dessas pessoas. 
Estás formatada num circuíto fechado que não permite actualizações. Cresce-se mais lentamente dessa forma, mas tu és inteligente e já devias ter chegado a essa conclusão.
Corrompes continuamente aquilo em que julgas acreditar e mais uma vez não te dás conta.
Sei por experiência própria de que um dia irás aprender da pior da forma.
Conheço-te demasiado bem para o saber. Entretanto vais tendo momentos de êxtase que se vão desvanescendo até se transformarem em angústia. Durante o processo a culpa será sempre dos outros. Foi assim no Passado e será assim no Futuro. É a tua essência.
Aquilo que te causava insatisfação no Passado, de repente já não te macera no Presente.
Adoras monólogos, precisas deles como o ar que respiras, porque assim não terás de ouvir coisas que não vão de encontro aquilo em que (falsamente) acreditas. 
Talvez não tenhas culpa de sofrer de surdez selectiva, mas deixa-me dar-te uma novidade; esse tipo de surdez tem cura.
Este texto faz-me sentir tão vazio que não lhe consigo colocar uma foto ou uma música.
Isto não é um desabafo, é um grito de revolta.

quinta-feira, 7 de junho de 2018

Documentários em sonhos

Hoje sonhei com a migração das sardinhas. Todos os anos em Junho vão da África do Sul até à Antártica, formando cardumes com cerca de 13km de comprimento, percorrendo milhares de kilómetros. Foi um sonho ao nível do National Geographic. O conteúdo do sonho em si é irrelevante. Quando acordei senti uma leveza enorme, não sonhei com nada abstrato, pesado, ou com mensagens subliminares. Sonhei com sardinhas. Finalmente começo a ter noites tranquilas, sem desgaste, sem angústia, sem auto-comiseração. Tão bom quando nos livramos daquilo que nos faz mal. Que nos inflige dor e culpa camuflada. Espero esta noite sonhar com a Indústria de Curtumes Norueguesa e o seu impacto na Economia local.
Banda sonora para a viagem das sardinhas

domingo, 3 de junho de 2018

A caneta

Entre todas as coisas que possuía, havia uma que lhe era sagrada. Uma velha caneta alimentada por um tinteiro.
Foi com ela que ele escreveu o seu primeiro poema. Passaram tantos anos que o poema se perdeu no Tempo e no espaço.
Apenas se recorda do nome: "Moléculas de veludo".
Lembra-se que não retratava nenhum Amor, porque quando o escreveu ainda não o havia conhecido.
Nele falava sobre um miúdo que sentia imenso medo. Havia algo naquele miúdo que lhe causava um enorme pavor; a expectativa. Queria saber tudo acerca de tudo e não conseguia controlar esse ímpeto que o impelia a ser um Ser insatisfeito e compulsivo.
Era um Poema quase tridimensional. A tinta no papel ganhava vida e as letras transformavam-se uma a uma em pontos de interrogação.
Estava algures entre a fragilidade dos sentidos e a certeza de que o inconformismo era a estrada a percorrer.
Um pedido de ajuda, na minha opinião. Uma tomada de posição, na opinião do miúdo.
O Poema perdeu-se, o miúdo perdeu-se, o homem que foi um dia miúdo encontrou-se e percebeu que a expectativa é a estrada secundária da mentira.
Golden Ticket

sexta-feira, 1 de junho de 2018

Deixa-me em Paz

Ao filho(a) da puta que me anda a entrar no meu blog, conta de Facebook, Instagram e conta Google, espero que tenhas uma trombose.
Obrigado Olvido por me teres alertado em relação aos comentários que fizeste e que não ficaram visíveis. É estranho que tenha um texto com 24 comentários e que apena 12 estejam visíveis. Aos que comentaram os meus textos e cujos mesmos não estão visíveis as minhas sinceras desculpas, mas era algo que até a Olvido me alertar eu desconhecia. Se pretenderem podem publicá-los novamente. Penso ter o Problema resolvido, após contacto com a Google.
Não entendo o propósito, mas espero que te estejas a divertir.

quinta-feira, 31 de maio de 2018

Funeral

Ontem aprendi uma lição de vida muito importante.
Por mais que acreditem, nunca conhecerão ninguém verdadeiramente.
Foi talvez a maior desilusão que tive até hoje.
Senti-me tão injustiçado, magoado, ferido, desapontado.
Apenas alguém por quem nós temos um elo tão forte, consegue fazer-nos sentir desta forma.
Já aqui neste blog referi tantas vezes as minhas imperfeições e estou tão ciente delas.
Porém tenho perfeita noção do meu carácter e aqueles que me conhecem sabem que nunca lhes falho.
Aprendi que é mais fácil acreditar naquilo que nos convém do que numa pessoa que sempre deu tudo por nós, que esteve sempre ao nosso lado, que apesar de imperfeito nunca usou máscaras.
A facilidade com que se fica em silêncio, deixando alguém completamente desnorteado, confuso, repleto de dúvidas é assustadora.
Escrevi aqui vários textos acerca de alguém que foi talvez uma das pessoas mais importantes da minha vida e até ao dia de ontem não mudaria uma única vírgula em qualquer desses textos.
Hoje ao reler esses textos, muitas das coisas que escrevi deixaram de me fazer sentido.
Sinto-me tão triste por isso. Sinto-me enganado, confuso, desacreditado.
O Tempo como juiz é imparcial e absoluto.
Ontem perdi uma parte muito importante de mim, mas percebo que é a parte que me faz mal.
Condemnation


quinta-feira, 24 de maio de 2018

A miúda com Groove

Hoje vou falar da miúda com groove.
Para quem não sabe o groove é um padrão ritmico que normalmente combina o som da bateria com o o do baixo.
Esta é a base de qualquer música. A essência ritmíca.
O groove é o que dá a identidade, depois é só acrescentar os restantes instrumentos como complemento.
Representa uma atitude positiva que atrai e estímula.
Raramente conheci alguém com groove e quando a conheci fiquei completamente rendido e fascinado.
A miúda com groove foi a base com que construí uma melodia perfeita, com tons melódicos e com o tempo perfeito.
Nem duas décimas acima nem duas décimas abaixo.
Ela nunca o soube, mas de uma forma completamente inata inventou a secção ritmíca perfeita.
Nunca tinha visto tanto potencial humano. É insdiscrítivel como alguém sem ter noção consegue criar um ambiente de tal forma vibrante e criativo.
Não estou a falar de música.
Estou a falar de groove.
Estou a falar de experiências.
Estou a falar de uma miúda que nunca irá perceber que tem um dom.
Ainda bem, porque assim nunca o irá corromper.
A miúda com groove anda por aí e será sempre arrebatadora na forma como cria melodias.
groove girl

A Lua como testemunha

Naquela noite a Lua cheia iluminava o teu rosto.
Confesso que nunca assisti a tanta generosidade por parte da Lua.
Nunca em momento algum desejei tanto estar num lugar, como naquela noite.
Lembro-me de cada detalhe. Das estrelas me piscarem o olho.
Da música que as ondas recitavam embalando-me naquele deleite.
De sentir a magia de o Tempo parar, porque o Tempo parou oferecendo-me o mais puro dos prazeres.
Senti um emaranhado de sensações que me corriam nas veias, percorriam a pele, despertavam todos os meus sentidos.
Estava acordado, mas era como se estivesse a ter o mais belo dos sonhos.
Nunca antes tinha sorrido como naquela noite. Eram sorrisos que brilhavam.
Duas pessoas que levitavam, sem sentirem qualquer peso ou amarras.
Sempre que regresso aquele lugar encontro-nos. Ficámos lá presos para sempre.
A nostalgia que me envolve sempre que me recordo daquela noite, sinto-a como uma manhã límpida de Primavera que me enche de conforto e de Felicidade.
Nada se perdeu, porque apenas se perde aquilo que não nos marcou.
Só faltou a voz angelical da Hope Sandoval


quarta-feira, 23 de maio de 2018

Febre


Esta noite a febre moldou-me os sonhos.
Sonhei com longas conversas que tivemos em que os temas nunca eram enfadonhos.
Ambos destemidos. Eu sem filtro, tu sem regras.
O teu fascínio sobre o Outono, a Primavera como minha primeira escolha.
Dos filmes que vimos, daqueles que me fizeste ver e dos outros que te apresentei.
Da magia como te falava das minhas musicas e como as dissecava.
Do teu groove tão único e que tanto me fascinava.
De quando falavas comigo e eu deixava de te ouvir porque me deliciava a saborear cada pedaço do teu rosto.
Da minha gaguez nervosa que te fazia sorrir.
De eu ser tão imperfeito que te impelia a reconstruir-me.
De te fazer promessas, porque para mim eram sagradas.
Do estado de graça que sentia apenas porque estavas ali.
Das surpresas mais improváveis que te fazia e com as quais te fazia esboçar sorrisos.
De te deixares guiar por mim e pela minha impulsividade por vezes com laivos de loucura.
Do facto de eu não ter limites nem barreiras para te surpreender.
De chorar contigo e por ti.
De ser tão destemido e por vezes fazer-re corar.
Hoje a febre trouxe- me estas memórias. Nem tudo foi mau e o que foi bom, não poderia ter sido melhor.
Now we are strangers


sábado, 19 de maio de 2018

Olhos vendados

Nem tudo aquilo que parece é verdadeiramente.
Passamos a vida a acreditar em verdades absolutas que nem sequer questionamos por nos serem impostas quase como de uma forma genética.
O livre arbítrio parece-me na maior parte das vezes quase uma utopia.
Cremos na Justiça e duvidamos dela ao mesmo tempo. Temos uma Fé podre, corroída, volátil.
Sugamos aquilo que de melhor existe nos outros e preferimos rebentar como um balão cheio de ar, a partilhar.
É tão fácil fazer juízos de valor quando estamos protegidos na nossa redoma de vidro. Esquecendo-nos o quão frágil pode ser o vidro e que esse escudo pode ser tão fácil de quebrar, deixando-nos expostos.
A Memória é algo de incorruptível e ainda assim conseguimos distorcê-la consoante as nossas premissas laminadas de egocêntrismo.
No dia em que dermos de cara com a realidade temos duas opções; aceitá-la ou fugir-lhe.
Não nos apercebemos, mas temos a capacidade de Viajar no Tempo. Não lhe podemos tocar, mas conseguimos ter a percepção de onde viemos e sobretudo daquilo que fomos. Isso por si só é uma das maiores ferramentas a que querendo, podemos ter acesso.
Falhar é tão natural que nos esquecemos que é algo que nos é permitido.
Claro que preferimos o conforto das coisas com as quais não temos de lidar. Somos preguiçosos congénitos.
Se me disserem que é mais fácil agir do que pensar eu nunca o aceitarei. Se o faço? Faço-o demasiadas vezes. Sou a antítese daquilo em que acredito.
Quando preciso de ser Racional tenho de fazer um esforço extra. Quando o consigo ser fortaleço-me; quase como se tomasse uma dose de vitaminas.
Existem armas mais poderosas e destrutivas do que as palavras. Existem olhares mais afiados do que gumes de punhais cujo veneno não tem antídoto.
Um dia todos seremos pó, mas até lá somos a soma das nossas acções e de todas as nossas escolhas. Eu escolho perpetuar tudo aquilo que me tem feito bem e sobretudo todos aqueles que algures no Tempo me deram um bocado de si. Não existe maior partilha nem maior altruísmo.
Truth Is A Beautiful Thing

terça-feira, 15 de maio de 2018

For you...

Há demasiado tempo que aqui não venho.
Nos últimos meses muito se passou. Comprei uma casa, separei-me, vendi a casa, estou a comprar uma nova casa..
Nos últimos 5 anos muito se passou. Separei-me, mudei de casa 9 vezes, apaixonei-me, voltei a separar-me.
Nos últimos 3 anos muito se passou. Cresci, colei pedaços de mim, voltei a despedaçar-me, estou novamente a reconstruir-me.
No último mês muito se passou. Tive de lidar com o recomeço, conheci pessoas fantásticas que me deram a mão sem pedirem absolutamente nada em troca.
Quero falar de uma dessas pessoas. De uma forma completamente inesperada deu-me a mão e não mais ma largou. Abriu-me a porta da sua casa e fez dela minha. Mima-me diariamente.
Temos uma cumplicidade tão genuína que não precisamos sequer de comunicar verbalmente. O seu olhar diz-me tudo. É tão fácil de repente recomeçar. Deixei de ter dias negros, passei a ter noites em que a Paz que sinto me torna a cada dia mais forte e mais capaz de enfrentar qualquer obstáculo.
Existem pessoas que o Universo nos "empresta" como se de uma recompensa se tratasse. Como se o Universo equilibrasse a nossa existência.
Gratidão sempre foi uma das palavras que levei mais a sério. mais do que a palavra, o sentimento de me sentir grato.
Sinto-me tão cheio de gratidão por teres vindo em pés de lã ao meu encontro e me teres obrigado a deixar-me ser guiado por ti.
És especial por todos os motivos que já aqui frisei, mas sobretudo por aqueles que só nós sabemos e que te tornam nessa Mulher tão única.
 Obrigado.


Esta é uma das nossas ;)

segunda-feira, 14 de maio de 2018

Words with Wings

From the day I tore my skin with your words
You stayed forever in me.
each letter a piece of your soul
every piece of your soul a drop of honey

If we had not met, we would never be strangers.
now apart we are the sum of something intense that has turned into nothing
we went all too fast
we live at eighty until we get to eight

If I miss you
if I want you
maybe you will never know the truth
But even far away I feel close to you.

I still keep all the smells
I still remember the color of your eyes.
if I know you?
I know every bit of you.

we flew together without wings
we dreamed together awake
we cried together black tears
we had the best and the worst of us

If I miss you
if I want you
maybe you will never know the truth
But even far away I feel close to you.

I can not say goodbye ...

sábado, 14 de abril de 2018

A morte e etc..

Hoje enquanto passeava com o meu filho no jardim ele disse-me:
- Papá, eu gostava de ser uma planta.
-Uma planta? Mas as plantas estão sempre no mesmo local, não podem brincar, nem conhecer o Mundo..
-Mas eu gostava de ser uma planta.
-Porquê filho?
-Porque as plantas não morrem..
-As plantas também morrem Dudu.
-Então gostava de ser água, porque a água anda por todo o lado e não morre.
- Sim filho, a água percorre o Mundo, mas a água também evapora e desaparece.
-Então o que é que não morre Papá?
- Talvez uma rocha filho.
- Então gostava de ser uma rocha.
-Tens medo da morte filho?
-Sim Papá.
-Não tenhas filho. O importante é sermos felizes nas nossas vidas e quanto mais felizes formos menos medo da morte teremos.
-  Vais morrer Papá?
-Só quando for muito velhinho filho e nessa altura vais perceber que a morte não é assim algo tão assustador.
- O que quer dizer etc Papá?
-Quer dizer entre várias coisas. Porquê Dudu?
- Porque ouvi uma senhora a dizer a outra que o namorado era estupido, burro, etc...

sexta-feira, 30 de março de 2018

O Silêncio como um punhal

O silêncio pode ser tão ensurdecedor. Vem acompanhado de barulhos de pensamentos, de memórias, que quase me rebentam os tímpanos. Tenho agora essa noção, de que o vazio auditivo é uma arma afiada. Custa-me viver em silêncio, necessito de estímulos sonoros que abafem a distorção causado pela ausência de som. Sei que um dia o silêncio virá limpo e isento de ruídos lacerantes.  Ainda não estou preparado para essa pureza que a ausência da desordem criada pelo silêncio corrompido me pode trazer. 
Este silêncio em que vivo sufoca-me. Prefiro os gritos de um bebé na sala de espera de um consultório, o ruído da máquina de lavar roupa a centrifugar, o ladrar de uma matilha de cães.. prefiro qualquer barulho ao ruído deste meu silêncio.
Para o To Zé

quarta-feira, 21 de março de 2018

Evolution road

Hoje sonhei contigo.
Vi-te de mão dada com alguém. Parecias tão feliz.
Senti a tua felicidade de uma forma despretensiosa.
No sonho eu estava em pé em frente a uma janela quando vos vi.
Estranho estar a pensar em ti naquele momento, ver-te com outro e não sentir dor. 
A realidade é tão diferente. Tão mais dura e angustiante.
Quando acordei senti um misto de emoções. Por um lado, ainda bem que tinha sido apenas um sonho, por outro senti que o caminho é este. 
Alimentar o desapego, mesmo quando não nos faz sentido. 
Há uns tempos atrás este sonho teria sido um pesadelo. Hoje foi uma espécie de epifania. Aceitar aquilo que não controlamos e sentirmos a felicidade daqueles de quem gostamos.
Finalmente começo a perceber que a minha bússola  já não está avariada. Leva-me para onde tenho de ir.
Não desisti de ti, mas percebi que tinha desistido de mim. Estou a reconstruir-me. 
De repente encontrei uma caixinha de ferramentas que me têm sido bastante úteis e que são a minha tábua de salvação.
Uma dessas ferramentas é um espelho, para onde olho quando acordo e me obrigo a dizer em voz alta que eu sou a pessoa mais importante e que vou trabalhar para alcançar objectivos que me tragam bons momentos.
Há tanto tempo que não me sentia tão tranquilo, tão isento de agonia.

Fade into you 


quinta-feira, 15 de março de 2018

Love can be grey

- Que sabes sobre o Amor?
- Que é volátil.
- Apenas isso?
- Também é puro, desmedido, irracional e venenoso.
- Só sabes isso sobre o Amor?
- Sei que mata. Destrói de dentro para fora. Como uma implosão.
- Sabes tão pouco sobre ele..
- Posso acrescentar que nos limita. Impede-nos de de andar em linha recta.
- O Amor tem cor?
- É branco e negro.
- Acreditas em magia?
- Não.
- Então nunca amaste...
Love sometimes can be smooth


terça-feira, 6 de março de 2018

#Limbo2

Sobriedade.. Afinal o que é isto de estar sóbrio?
 Não beber, não usar drogas? Eu não faço nada disto e nunca estive sóbrio. 
 Dizem que estar sóbrio é estar limpo e sereno.
O que é essa merda de estar limpo e sereno? 
 Existem tantas outras formas de nos inebriarmos. 
Eu sou viciado em emoções. Injecto-as à bruta. 
Agora que nada sinto estou a ressacar ferozmente.
 Este deserto em que o meu peito se tornou, está a consumir-me.
 A minha cabeça está oca, vazia de qualquer desejo. 
A minha Alma fugiu-me.
 Esta ressaca que me consome conduz-me a um quarto negro onde já estive e não quero voltar. 
Dizem-me para ser mais racional. 
Digam a um tigre para se tornar vegetariano. 
 A minha Natureza não é essa.
 Podem pôr-me a dormir?
 É a única forma de conseguir ter Paz.
 Foda-se,  como se foge da agonia e do vazio?

Le coeur qui ne rentre pas

Hélas ! je n'étais pas fait pour cette haine 
Et pour ce mépris plus forts que moi que j'ai. 
Mais pourquoi m'avoir fait cet agneau sans laine 
Et pourquoi m'avoir fait ce coeur outragé ?

                   (...........)

Paul Verlaine
#dayone

quinta-feira, 1 de março de 2018

A minha pele como Relicário de Palavras.


Hoje rasgaram-me a pele com palavras. Ficarão lá gravadas enquanto a minha pele for pele.

O poder das palavras é algo demasiado valioso para ser subestimado. Algumas venero, outras desprezo; mas mesmo essas são portentosas. Não ouso sequer suaviza-las ou mascará-las.

Há quem valorize os actos em comparação com as palavras. Mas as palavras são actos enclausurados num qualquer Tempo cujo significado pode ter mais acervo do que um qualquer outro feito.
Valorizo aquelas que são secretas, ditas ao ouvido. Num tom baixinho como todas as palavras preciosas devem ser pronunciadas.
Ha aquelas mais pálidas, inseguras, fruto de um filtro que as transforma e lhes dá o poder de mudar o significado.
Recebo-as de mão aberta quando vindas desamparadas. Porque às vezes são tão frágeis que necessitam de quem as cuide.
As de Cristal.. essas pego-lhes com luvas brancas de algodão, com o cuidado com que se agarra num recém-nascido e posou-as numa caixa forrada a veludo .
Sou um Curador de palavras. Umas exponho-as em lugar de destaque , outras disponho-as numa espécie de parede branca como um degradê cronológico, outras guardo no armazém da cave e resgato-as sempre que a necessidade assim o exija.
As Palavras. Para sempre as palavras como um emaranhado de fios de seda que com a precisão de um bom tecelão se desenrolam suavemente na memória.
Words

quarta-feira, 28 de fevereiro de 2018

Tricky versão Low Cost

Ontem fui ver o Concerto de Tricky. Há 20 anos atrás tinha-o visto no Coliseu dos Recreios e foi memorável.
Há umas semanas, a minha namorada da altura que tinha ido comigo ao Concerto, enviou-me uma mensagem a perguntar-me se queria ir recordar bons velhos tempos e desafiou-me para assistirmos ao Concerto de ontem.
Obviamente que as nossas expectativas não estavam muito elevadas, a sala era outra, bem mais pequena e entretanto passaram 20 anos..
O concerto teve dois ou três momentos altos, mas saímos com a sensação de que tinha de facto sido fraquinho. Possivelmente devido a algumas substâncias consumidas pelo artista, que dava a ideia de que estava noutra dimensão. Durante todo o concerto as luzes do palco nunca se acenderam. Apenas víamos os espectros dos artistas. Felizmente para mim tocou a minha música favorita, infelizmente para a Raquel não tocou a dela.
Teve também um momento estranho quando ele cantou a mesma musica 2 vezes, dando a ideia que estava mesmo noutro Planeta.
O som da Guitarra, que além de não acrescentar muito à maioria das musicas, estava demasiado alto, abafando as vozes.
Ainda assim valeu a pena, nem que fosse pelo reencontro com uma pessoa que fez parte do meu Passado e com quem criei laços sólidos que se mantêm 20 anos depois.
Há sempre uma parte boa

terça-feira, 27 de fevereiro de 2018

Socorro..Deus meu, livrai-me da Bipolaridade dos outros

Lei de Murphy : - "Qualquer coisa que possa correr mal, correrá mal, no pior momento possível"


Lei de Paper Cut: - "Qualquer coisa que possa correr mal, correrá mal, com acréscimo de contornos Surreais". 

segunda-feira, 26 de fevereiro de 2018

#olfato

Existem fragrâncias que são processadas no nosso sistema límbico e ficam lá presas para sempre.
Era só isto..

sábado, 24 de fevereiro de 2018

Por vezes o silêncio vale mais do que o ouro

Acordei com um peso enorme. Um cansaço tremendo de uma noite mal dormida; Sinto-me doente, esgotado fisicamente  e mentalmente.
Hoje tive de vir trabalhar e estou a fazer um esforço enorme para o conseguir.
Fui almoçar a um restaurante, onde vou habitualmente. Queria alimentar-me com algo que me desse algum aconchego e energia para conseguir resistir ao resto da tarde de trabalho.
Sentei-me à mesa, phones nos ouvidos e era daquela forma que queria digerir aquela minha hora. Música boa e comida reconfortante.
Na mesa em frente, uma Mulher que conheço de vista, virou-se para trás e começou a falar comigo. Como não ouvia aquilo que ela me dizia comecei por tirar um dos auscultadores de um dos ouvidos.
- Estás tão magro. Disse-me com um ar de desconfiança.
Respondi-lhe que estava doente. Há uma semana com uma Gripe que me deixara debilitado.
- Não te andas a portar mal? Continuou ela.
Voltei a referir a minha Gripe e o facto de ter dormido mal, como justificação do meu ar mais abatido.
Só queria que ela se voltasse para a frente e me deixasse aproveitar aquele meu momento de pausa e descanso.
Continuou a falar comigo. Por educação, desliguei a música e ia ouvindo quase em desespero silencioso aquilo que aquela mulher me ia dizendo.
Falava-me do Ex Marido e do mal que ele lhe tinha causado. Uma rajada infinita de queixumes dos quais eu não queria saber.
Disse-lhe umas duas vezes que ela tinha a travessa da comida a arrefecer, com a esperança que se voltasse para a frente e me deixasse em paz. De nada valeu. Continuava virada para mim a debitar decibéis de sons horríveis que eu não queria (já não conseguia) escutar.
Comecei a comer à pressa. Só queria fugir dali. Deixar de ouvir aquela mulher que me corrompeu ferozmente aquele momento que eu tanto necessitava.
A Tranquilidade que eu buscava, transformou-se em irritação e desespero.
Como eu hoje queria tanto que o Mundo me afastasse das Pessoas...
I need some Silence

quinta-feira, 22 de fevereiro de 2018

Para o Ricardo


Conheci-te, tínhamos 6 anos. Eras franzino. Bastante calado, mas de uma educação enorme.
Desde o nosso primeiro dia de aulas que senti uma enorme empatia por ti. De inicio não percebia a razão de seres tão reservado. Tinhas imensos problemas causados pela asma, o que não te permitia ser uma criança como as restantes. Não podias correr, nem jogar à bola. Andavas sempre com a tua bomba para a asma.
As crianças conseguem na sua inocência serem bastante cruéis e os outros miúdos chamavam-te "menina" por não poderes brincar como todos os outros devido às tuas limitações de saúde.
Lembras-te quando deixaram de gozar contigo? Foi naquele recreio em que o Zé estava a chamar-te maricas e eu passei-me e dei-lhe uma carga de porrada que me valeu um mês inteiro sem ir ao recreio. Foi a partir desse dia que eu e o Russo (lembras-te como ele era bera?), te começámos a proteger e nunca mais ninguém ousou faltar-te ao Respeito.
Contaste à tua mãe e um dia que vínhamos da Escola e te deixámos em casa, lá estava a tua mãe, a D. Glória que a partir daquele dia se tornou também ela numa Pessoa bastante especial para mim; com um presente para mim e outro para o Russo como forma de agradecimento por te protegermos.
Nunca mais nos separámos. Crescemos, tu melhor do que eu. Os teus problemas de saúde desapareceram, deixaste de ser franzino e ultrapassaste-me na altura.
Conservaste sempre aquele teu sorriso que era a tua imagem de marca. Genuíno, de quem está bem consigo próprio e com a vida.
Foste o meu amigo que sempre esteve Presente, mesmo quando eu afastava toda a gente. Nunca desististe de mim.
Veio a filha da puta da doença e nem ela te vergou durante os dois anos e meio que te minou.
Tinhas uma fome de viver e um optimismo que me fazia acreditar, mesmo quando eu te via tão debilitado e tinha de me esforçar para não chorar ao teu lado.
Vivemos muitas aventuras juntos. Se um dia eu cuidei de ti, mais tarde foste tu quem cuidou de mim.
Farias em Dezembro a minha idade ( troquei a tua data de aniversário com a da tua mãe, pensava que eras tu quem fazia anos este mês) . Quando partiste há 14 anos atrás, eu senti uma revolta tão grande, que me senti culpado. Pensei na noite em que estavas prostrado naquele caixão que era eu quem ali devia de estar e não tu. Eu que fiz tanta merda e tu que foste sempre tão boa Pessoa, tão bom amigo, tão bom filho, tão bom Irmão.. mas as coisas são como são e há pessoas que partem demasiado cedo.
Penso em ti quase todos os dias. Deixaste a tua marca em mim. Por vezes não sei lidar com a falta que me fazes e com as saudades que tenho de ti. Nesses dias vou "visitar-te" e falo um bocadinho contigo.
Obrigado por teres feito parte da minha vida "my friend".
Encontrei esta entrevista que deste a seguir a um dos concertos.

terça-feira, 20 de fevereiro de 2018

Doces memórias



Eu e ele

Quando soube que ia ser Pai, nos primeiros dias foi terrível. Não foi premeditado e eu achava que não estava preparado. Morria de medo de não ser capaz de estar ao nível das expectativas exigidas a um pai. Pensava que já era demasiado "velho" e que não iria ter capacidade para acompanhar o ritmo do meu Filho.
Esses receios rapidamente se foram desvanecendo e desde que o Duarte nasceu, que o medo se converteu em Felicidade e Amor incondicional.
Este fim de semana ele quis ir ao Oceanário. Fomos lá a primeira vez quando ele tinha 3 anos e nesse dia não quis ver o aquário central porque tinha medo dos tubarões.
No sábado o objectivo eram os Tubarões. Quando os viu ficou desiludido, pensou que fossem maiores. Eu disse-lhe que ainda eram bebés e que estavam a crescer. Perguntou-me quanto tempo demoravam a ficar gigantes e eu disse-lhe que uns 20 anos. - Isso são mais do que mil dias Papá? Eu disse que sim e ele ficou um bocadinho desiludido.

De seguida fomos ver o mar, ele é fascinado pelo mar. Sobretudo pelas ondas quando rebentam. Estava bastante frio mas ele não queria arredar pé da
beira da praia.
Constipei-me nesse dia e no Domingo quando acordei, sentia-me doente, cheio de dores de garganta e no corpo. Pedi-lhe para fazer uns desenhos enquanto eu limpava a casa, que depois ia-mos almoçar fora e andar de Skate.
Estávamos ambos sozinhos e nesse dia tive de fazer um esforço enorme para ser o pai que ele merece. Só queria deitar-me e poder descansar, mas quando se é pai temos de ultrapassar todos os limites e lá fui ensiná-lo a andar de skate tal como ele me havia pedido.
Fomos para casa ao fim do dia e disse-lhe que estava a sentir-me muito doente se ele me deixava deitar um bocadinho no sofá enquanto ele desenhava e via os desenhos animados. Na inocência dos seus 6 anos, disse-me: - Papá, queres que faça festinhas onde te dói? Disse-lhe para me fazer festinhas na cara e adormeci com o meu filhote a tratar de mim. 

The best of me